"Ficámos a saber a semana passada que, em 2017, o Governo teve uma situação orçamental melhor do que tinha previsto e que, em vez de a utilizar para resolver problemas urgentes do povo e do país, utilizou-a para reduzir o nível do défice ainda mais do que já tinha decidido reduzir, sendo mais papista que o papa", afirmou.
Falando em Famalicão, no encerramento da X Assembleia da Organização Regional de Braga do PCP, Jerónimo de Sousa disse ser "cada vez mais incompreensível" a decisão do Governo de "levar ainda mais longe a obsessão com a redução do défice, perante os problemas graves que aí estão e urge resolver" no país.
Para o líder do PCP, aquela opção foi feita, desde logo, "à custa" dos trabalhadores da administração pública, "que têm os seus salários congelados há uma década e ontem [sexta-feira] souberam que é vontade do Governo prolongar no próximo ano esta situação inaceitável".
Sublinhou que aquele congelamento "choca" com o balanço, há dias divulgado, dos apoios públicos à banca, desde o início da última crise 2007/2008, que ascendem a 17 mil milhões de euros.
Um balanço a que, acrescentou, se junta agora "uma nova fatura" de mais 800 milhões de euros para o Novo Banco, "para os portugueses pagarem as aventuras dos banqueiros e dos buracos que criaram para engrossar as suas fortunas e distribuir lucros".
"Como é que se justifica que apareçam sempre milhões para a banca, mas não haja dinheiro para avançar mais na reposição de direitos e rendimentos ou na resposta aos problemas da falta de pessoal e de investimento nos serviços públicos?", questionou.
Aludiu, concretamente, à contestação em curso do mundo da cultura e das artes.
"Tem sido sempre a cortar há anos. A insatisfação tem fundamento e a sua luta é justa", referiu, sublinhando que o PCP propôs a inscrição de 25 milhões de euros no Orçamento do Estado mas a proposta foi recusada.
Na sua intervenção, Jerónimo de Sousa aludiu igualmente à "situação de degradação" também do setor privado e à "grave ofensiva desencadeada nos últimos anos contra as leis laborais, penalizadoras dos trabalhadores e dos seus direitos e salários".
"Normas gravosas que o PS e o seu Governo resistem a alterar, juntando-se ao PSD e CDS no chumbo às propostas do PCP votadas na Assembleia da República o mês passado e que visavam a alteração dessas normas, inscritas do Código de Trabalho", referiu.
Para o secretário-geral do PCP, aquela é uma "convergência que atesta os fortes laços de classe que unem PS, PSD e CDS quando se trata de optar pelos interesses do capital, e os limites do Governo do PS e da sua política em matéria de valorização do trabalho e dos trabalhadores".
"O PS e o seu Governo seguem no caminho errado se procuram a solução para os problemas com o PSD e CDS, em vez de romperem com as políticas do passado de exploração e empobrecimento do povo e de afundamento do país", avisou.
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