"Não é hora de complacência, ainda há muito trabalho a ser feito, o desemprego ainda é alto, a dívida ainda existe e o crescimento é uma obrigação. O crescimento constante e sustentável é uma obrigação e exige reformas estruturais", alertou Jean-Claude Trichet, numa entrevista hoje divulgada pelo Dinheiro Vivo.
Para o responsável europeu, a palavra chave é crescimento. "Se houver mais crescimento, há mais criação de emprego, mais capacidade de encaixar dívida pendente, o que ainda é um grande problema para muitos países, incluindo Portugal" que, no entanto, "tem recursos humanos fantásticos, uma capacidade fantástica".
Aliás, realçou que Portugal "provou, recentemente, uma capacidade extraordinária no caminho da recuperação. Porque a recuperação é muito impressionante", embora insista que "ainda há muito a fazer, tendo em conta a capacidade e o potencial de Portugal".
Na opinião de Jean-Claude Trichet, a gestão da dívida de Portugal pelo Ministério das Finanças "parece sensata com a substituição apropriada para o endividamento de longo prazo do endividamento de médio prazo", embora nesse nível de endividamento "o que conta é estar a diminuir ano após ano a dívida em proporção do PIB [Produto Interno Bruto], afim de convencer os investidores".
Quanto à crise que levou ao pedido de resgate e período de austeridade, defendeu: "Tivessem Portugal, Grécia e Irlanda respeitado a estabilidade do crescimento e respeitado as regras que estabelecemos na zona euro e não teríamos tido uma crise".
No início de 2010, "os mais vulneráveis eram a Grécia, a Irlanda e Portugal", lembrou o responsável que liderava o Banco Central Europeu (BCE) quando ocorreu a crise financeira internacional de 2008 que acabou por levar Portugal, Grécia e Irlanda a pedir ajuda a externa.
À pergunta por quanto tempo mais poderá o BCE continuar a suportar juros historicamente tão baixos, o antigo presidente da instituição disse que "todos os bancos centrais das economias desenvolvidas estão a fazer um trabalho muito difícil para normalizar a situação. Mas, também é crucial que todos os outros parceiros se mobilizem", nomeadamente governos, parlamentos e o setor privado.
"Sozinhos, os bancos centrais não podem salvar o dia sem os outros parceiros", concluiu Jean-Claude Trichet.
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