No sábado, os trabalhadores da Global Media manifestaram-se apreensivos e chocados com os termos do programa de rescisões por mútuo acordo proposto pela administração na semana passada e querem provas da situação financeira do grupo, que é detentor do Diário de Notícias (DN), Jornal de Notícias (JN) e TSF, entre outros.
A Global Media pretende reduzir custos operacionais e propôs, por 'email', um programa de rescisões por mútuo acordo aos trabalhadores de todas as empresas do grupo que pretendam aderir.
Num comunicado divulgado no domingo nas redes sociais, a administração da Global Media Group (GMG), liderada por Marco Galinha, começa por recordar que tomou posse há dois anos (2020) e que "implementou um programa de aumentos salariais em julho de 2021 que permitiu aumentar salários a 75 pessoas, algo que não sucedera no grupo durante mais de uma década".
A administração, acrescenta, "procedeu ainda à integração de novos estagiários e à conversão de estágios em emprego estável".
A GMG salienta que "o projeto de reestruturação implementado com resultados positivos sofreu, tal como transversalmente todo o setor dos media, o impacto dos confinamentos e da covid e, posteriormente, os custos da operação do Global Media Group, em consequência da guerra na Ucrânia, agravaram-se fruto da subida simultânea do preço do papel, dos custos energéticos e dos combustíveis".
Apesar disso, "a administração reitera a importância do compromisso que assumiu com os trabalhadores e com a sustentabilidade do Global Media Group".
Um dia antes, numa carta dirigida à administração da GMG, a comissão sindical manifestou "profunda apreensão" pelo teor do 'mail' recebido pelos trabalhadores.
"O anúncio da abertura de um programa de rescisões por mútuo acordo não é, por si só, questionável. O que é questionável e condenável é a possibilidade, avançada no 'email', de, em caso de não adesão, vir a ser tomada 'qualquer medida de reestruturação sujeita a regime menos favorável'", é referido na carta.
Na mensagem eletrónica enviada, a Global Media justifica que a "recente conjuntura muito agravada pelo presente período da guerra [..] torna imperativa uma nova reorganização empresarial".
Na missiva, a comissão sindical, que reúne os delegados sindicais de vários títulos do grupo, mostra-se "chocada" com a "construção" do 'email' e contesta o motivo apresentado para a necessidade de redução dos custos com pessoal.
"As dificuldades financeiras decorrentes dos efeitos da guerra na Ucrânia, com aumento da inflação, dos combustíveis, da energia, afetam todas as empresas e famílias. Afetam também os trabalhadores do grupo que há 16 anos não são aumentados", referem na carta.
Os representantes dos trabalhadores apontam ainda uma série de razões pelas quais consideram ser incompreensível o programa de rescisões, nomeadamente o aumento de leitores 'online', a subida de 9% das vendas no ano passado, face a 2020, para 35 milhões de euros e ainda o facto de em 2020 ter havido uma "reestruturação" que resultou no "despedimento coletivo de 81 trabalhadores, entre os quais 17 jornalistas", entre outros motivos.
"Perante tudo isto, não se percebe se afinal há ou não há dificuldades", afirmam os trabalhadores, que defendem que os "cortes cegos têm sido a única estratégia" da administração, surgindo agora a "guerra como um mero pretexto".
Os trabalhadores exortam, por isso, a administração a apresentar as contas para provar a situação financeira do grupo e revelar a despesa com serviços externos, bem como a divulgar o plano que tem para a empresa.
"A saída de mais trabalhadores, seja por rescisão amigável, seja por outras vias, compromete o futuro dos vários títulos do GMG e o jornalismo que ali é praticado", sublinham.
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