No primeiro capítulo do Relatório de Estabilidade Financeira Mundial do FMI, intitulado “Vulnerabilidades num Ciclo de Crédito em Maturação”, o fundo considera que “os desafios fiscais em Itália reacenderam as preocupações sobre o vínculo entre os setores soberano e financeiro” na zona euro.
A instituição chefiada por Christine Lagarde alerta, assim, que “as possíveis perdas com empréstimos improdutivos e quedas no valor dos títulos soberanos (…) poderiam acarretar um impacto significativo no capital de alguns bancos”, podendo a “pressão sobre o setor financeiro” ser “repassada, mais uma vez, para as empresas e as famílias”.
Uma eventual redução dos “rendimentos das empresas e das famílias” poderia, por sua vez, dificultar “o serviço de dívida destes setores”, gerando dois outros “canais de contágio”, como “outro aumento do crédito malparado no balanço dos bancos” e a redução “das receitas públicas”, pode ler-se no documento.
O FMI considera ainda que as vulnerabilidades na economia mundial “continuam a aumentar” graças à manutenção de políticas acomodatícias, e que o “aperto” do final de 2018 “não alterou os riscos de médio prazo”.
O fundo considera que a “forte recuperação no início de 2019″ nos mercados financeiros, que contrasta com as “quedas acentuadas” do final de 2018, se deveu não só “ao crescente otimismo sobre as negociações comerciais entre os Estados Unidos e a China”, mas também “à abordagem mais paciente e flexível adotada pelos principais bancos centrais quanto à normalização da política monetária”.
No entanto, devido à manutenção de condições acomodatícias, o FMI alerta que os riscos para a estabilidade financeira mundial estão elevados “nos setores soberano, empresarial e financeiro não bancário” de alguns países sistémicos.
Entre as vulnerabilidades identificadas pelo fundo estão ainda a dívida empresarial nas economias avançadas e os desequilíbrios financeiros da China.
Relativamente à dívida, o FMI aponta que, no caso de uma “desaceleração significativa” ou de um “aperto acentuado das condições financeiras”, poderia haver uma mudança “considerável do risco de crédito” e pressão sobre “a capacidade das empresas de pagar o serviço da dívida”.
Na China, segundo o FMI, “os bancos de pequeno e médio porte continuam fracos”, e “uma maior flexibilização monetária e de crédito poderia aumentar as vulnerabilidades, pois uma expansão contínua do crédito poderia retardar ou impedir a recomposição dos balanços bancários e agravar o viés atual de alocação de crédito”.
Como recomendações às autoridades, a organização sediada em Washington pede aos países com vulnerabilidades financeiras “altas ou crescentes” a utilização de “ferramentas prudenciais” como “reservas anticíclicas”, para “aumentar a resiliência do sistema financeiro”.
O fundo sugere ainda “que os credores bancários e não bancários sejam submetidos a testes de ‘stress’ mais abrangentes”, assim como a intensificação “das medidas para recompor os balanços públicos e privados” através de um “ajuste fiscal gradual”, e a resiliência “contra os fluxos de saída de carteiras” estrangeiras das economias emergentes.
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