“A China tem um modelo e uma estrutura de inserção e de prática económica diferente, forçando todo o mundo a adaptar-se a uma nova realidade”, afirmou o diplomata, em entrevista à agência Lusa.
Caramuru de Paiva assumiu o cargo em Pequim há apenas dois meses, mas a sua experiência no “gigante” asiático soma quase dez anos.
Entre 2008 e 2011, foi cônsul do Brasil em Xangai, a capital económica do país, onde fundou a seguir a empresa KEMU Consultoria. Nos últimos anos, colaborou também com o jornal Folha de São Paulo.
“Olhar a China é olhar o rosto de um adolescente”, disse, numa metáfora para as “indefinições” e “profundas transformações” que marcam o país mais populoso do mundo, com cerca de 1.375 milhões de habitantes.
Nação pobre e isolada, até ao final da década de 1970, a China tornou-se, em 2011, a segunda maior economia mundial, mas continua a ser uma realidade “muito diferente do que conhecemos”.
“Não é só a cultura que é diferente: a cultura de negócios é diferente, a composição da economia é diferente, a estruturação da presença internacional da China é diferente”, notou Caramuru de Paiva.
“Você precisa incorporar esta realidade e tentar extrair o melhor que puder. Não adianta brigar com a realidade como ela é”, realçou.
Segundo dados do Ministério do Comércio chinês, em 2015, a China investiu 145.000 milhões de dólares além-fronteiras, ultrapassando pela primeira vez o valor do investimento direto estrangeiro no país – 135,6 mil milhões de dólares.
Caramuru de Paiva considerou que esta tendência desafia “o que está nos livros de economia”.
“Na História económica, as empresas normalmente saem porque chegam a um ponto de esgotamento no mercado local (…) as empresas chinesas às vezes saem para investir em áreas que nunca sequer praticaram”, exemplificou.
“Parece um contrassenso absoluto”, disse, notando que os empresários chineses “acham agora que as oportunidades fora serão maiores do que as oportunidades na China”, quando “todo o mundo acha que a China é o maior centro de oportunidades que existe”.
Através da internacionalização, os grupos chineses procuram “melhorar as qualidades de gestão”, “absorver métodos novos” e “estimular os funcionários a interessar-se por línguas e culturas novas”.
“Ou então saem porque a competição aqui é muito grande, em função das empresas estatais, que são muito fortes”, acrescentou o diplomata.
“Lidar com essa realidade não é simples”, considerou.
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