"A CGD detinha, contratualmente, uma opção de venda das ações em caso de insuficiência das garantias" quando o valor das mesmas "fosse inferior ao referido rácio de cobertura de 135%", mas não o exerceu, disse Manuel Matos Gil na sua audição na comissão parlamentar de inquérito à recapitalização e gestão da CGD, na Assembleia da República, em Lisboa.
Manuel Matos Gil afirmou que "naquelas datas e de acordo com as melhores práticas de gestão se a CGD tivesse optado pela venda teria realizado um encaixe financeiro, respetivamente, de 117 milhões ou de 95,9 milhões de euros, tendo em conta a cotação das ações à época".
"Esteve nas mãos da CGD a recuperação total do financiamento concedido", disse o gestor, e "por motivos que apenas a CGD poderá explicar, a execução do penhor só ocorreu em data posterior à maturidade do contrato de financiamento (13 de julho de 2010), que se traduziu num encaixe financeiro de cerca de oito milhões de euros".
De acordo com o empresário, de uma linha de crédito autorizada de 115 milhões de euros para participar num aumento de capital da La Seda, celebrada entre a Selenis SGPS (empresa da qual a empresa de Matos Gil, IMG, detinha cerca de um terço), a CGD e a Caixa Capital, foram utilizados 97,2 milhões de euros.
"Como garantia foi constituído um penhor sobre 10,9% das ações da La Seda", disse o gestor.
Manuel Matos Gil garantiu ainda que é uma "falsidade" que tenha sido ele a apresentar o projeto da La Seda/Artlant, para instalação de uma fábrica em Sines, ao Governo português.
"Essa apresentação foi feita pelo grupo turco Sabanci, através de uma empresa designada Advansa", revelou o empresário.
O antigo administrador da Artlant revelou ainda que o financiamento para a instalação da fábrica da La Seda em Sines "passava por uma forte componente de capitais próprios, assegurados pela La Seda (...) e por uma parte de capitais alheios, a obter através de um sindicato bancário internacional e não, como veio a suceder, através de um só banco [a CGD]".
Posteriormente, "acumularam-se as divergências com a administração da La Seda", de acordo com Matos Gil, o que o levou a "recusar participar no lançamento da primeira pedra" do projeto de Sines.
"A IMG e a administração da CGD tinham cisões estratégicas inconciliáveis quanto à La Seda e à Artlant", disse o empresário, o que o levou a renunciar ao cargo de administrador da Artlant "em maio de 2009".
Matos Gil disse ainda não ser "aceitável que se tenha concedido à insolvência uma unidade de produção de PTA [produto petroquímico fabricado pela La Seda] altamente competitiva, dotada de tecnologia de ponta e cuja capacidade de produção estava totalmente assegurada por contratos".
"A viabilidade do projeto de Sines está hoje evidenciada", considerou Manuel Matos Gil.
O empresário disse ainda que se reuniu com o primeiro-ministro e com vários ministros em São Bento, convidado pelos próprios, e disse que "projetos desta natureza e amplitude justificam" não só "decisões de natureza política como múltiplos contactos entre acionistas e entre estes e as entidades financiadoras".
De acordo com a auditoria à CGD realizada pela EY, o total de crédito concedido à Artlant foi de 381 milhões de euros, e em 2015 a exposição da CGD a este projeto era de 351 milhões.
A CGD tinha também, em 2015, uma exposição de 89 milhões de euros à Jupiter, antiga Selenis SGPS.
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