“O governo português atual rege-se pelos princípios da ilusão fiscal e da dispersão. Nesse sentido, criou uma multiplicidade de impostos adicionais, derramas, taxas que não são taxas tudo de modo a que os cidadãos não se apercebam que estão a ser tributados e assim obter receitas para financiar o ‘monstro’”, afirmou Cavaco Silva numa entrevista ao podcast “Défice de Atenção”, de estudantes do Católica Lisbon Economics Club, hoje divulgado.
“Como se costuma dizer, o governo tributa ‘tudo o que mexe’", ironizou o antigo primeiro-ministro (1985-1995), alertando ainda que “Portugal corre o risco de continuar a ser ultrapassado em nível de desenvolvimento pelos países de Leste Europeu” e ser “a lanterna vermelha” da zona euro por não fazer reformas para estimular a competitividade e produtividade das empresas.
Vinte e um anos depois de ter usado pela primeira vez a imagem num artigo publicado no DN, em 2000, quando o Governo era também do PS, com António Guterres, Cavaco retoma “o monstro”, agora aplicado ao executivo socialista de António Costa, que também critica por falhar “e continua a falhar pela ausência de reformas” para o “aumento da produtividade e da competitividade externa das empresas”.
Para o antigo Presidente da República (2005-2015), Costa “criou uma multiplicidade de impostos adicionais, derramas, taxas que não são taxas, tudo de modo a que os cidadãos não se apercebam que estão a ser tributados e assim obter receitas para financiar o ‘monstro’".
Fazendo a história de como foi possível atrair a fábrica da AutoEuropa para Portugal, quando era chefe do Governo, Cavaco Silva argumentou que foi por o país ter conquistado “a confiança dos mercados e dos investidores” com as reformas que fez nas décadas de 1980/1990.
O que, afirmou, não está a acontecer agora com os socialistas e António Costa que não está a projectar uma imagem positiva aos investidores estrangeiros.
O sistema fiscal, disse, “não é transparente, não é competitivo e não é estável”, está “sujeito a variações arbitrárias por parte dos decisores políticos”, a justiça “é pouco eficaz e impera a incerteza jurídica”, a “burocracia é desesperante e desencoraja os investidores”.
“O governo da geringonça, ou melhor, os governos da geringonça, têm projetado a imagem de que o poder político interfere na vida das empresas e têm projetado a imagem de que Portugal, o governo português, é hostil em relação às grandes empresas”, afirmou ainda.
Em termos mais políticos, o antigo líder do PSD voltou a defender uma reforma nas leis eleitorais, com um sistema misto, e que permita uma maioria parlamentar com cerca de 43% dos votos.
E retomou a tese, de outro artigo de jornal, intitulado “Os políticos e a Lei de Gresham”, segundo a qual “a má moeda expulsa a boa moeda” aplicada à vida partidária, “com o seguinte enunciado: ‘os políticos incompetentes afastam os competentes’”.
Sem identificar se se refere a alguém em especial, Cavaco concluiu que, então como hoje, continua a achar “a má moeda continua a expulsar a boa moeda”.
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