“Mesmo no cenário mais positivo, diria que vamos ter uma situação difícil no mercado laboral durante pelo menos dois anos”, dada a crise gerada pela pandemia, disse o comissário europeu do Emprego, Nicolas Schmit, em entrevista à agência Lusa, em Bruxelas.
Recorrendo às mais recentes estimativas do executivo comunitário, o responsável realçou que haverá “um aumento significativo no desemprego a nível europeu” este ano, para níveis superiores a 9% e acima da anterior crise financeira de há 10 anos, afetando mais “algumas camadas da população”, sendo “os jovens os primeiros”.
“Alguns setores foram fortemente atingidos e o turismo é um deles. O turismo emprega muita gente, incluindo em Portugal, em Espanha e praticamente em todo o sul da Europa”, observou Nicolas Schmit.
O responsável luxemburguês destacou que os principais trabalhadores neste setor são inclusivamente os jovens, pelo que antecipou um “risco real de que o desemprego juvenil aumente acentuadamente”.
Acresce que, com as empresas “numa situação frágil por causa da suspensão das atividades”, estas “não darão oportunidades aos jovens” em novas contratações, apontou Nicolas Schmit.
Por isso, “a Comissão Europeia irá fazer o possível para lutar contra isso e vai apresentar uma série de propostas” de incentivo ao emprego juvenil, anunciou, sem precisar.
Mas as medidas restritivas adotadas para tentar conter a covid-19, que paralisaram a economia, também tiveram “impacto nos postos de trabalho” de outros setores, de acordo com o comissário europeu.
“Tivemos esta queda significativa na atividade económica, especialmente em setores como o turismo, a hotelaria, o automóvel e o retalho porque as pessoas foram impossibilitadas de ir às lojas”, enumerou.
Em todos estes setores “existe o risco de despedimentos”, admitiu Nicolas Schmit, justificando-o desde logo com a incerteza à volta da retoma dos negócios.
“Não sabemos ainda exatamente quão rápida será a recuperação económica, quão rápido as pessoas voltarão [às lojas] para comprar roupas, carros e etc. e quão rapidamente conseguiremos abrir as atividades turísticas”, elencou.
Para Nicolas Schmit, o foco dos líderes europeus deve agora centrar-se nas propostas apresentadas na semana passada pela Comissão Europeia, de um Fundo de Recuperação da economia europeia no pós-pandemia no montante global de 750 mil milhões de euros e de um Quadro Financeiro Plurianual revisto para 2021-2027 no valor de 1,1 biliões de euros.
“Se tivermos uma boa e rápida recuperação em todas as economias […], então o impacto no emprego será menos dramático e teremos, provavelmente, uma subida menor do desemprego do que a prevista”, frisou o comissário europeu, falando em semanas de negociações “decisivas também para o mercado laboral”.
“O emprego é sempre resultado do nível de atividade das nossas economias e, por isso, a implementação do Fundo de Recuperação, como proposto pela Comissão Europeia na semana passada, é de extrema importância”, concluiu.
Em previsões económicas divulgadas no início de maio, a Comissão Europeia disse estimar que a economia da zona euro conheça este ano uma contração recorde de 7,7% do Produto Interno Bruto (PIB), como resultado da pandemia da covid-19, recuperando apenas parcialmente em 2021, com um crescimento de 6,3%.
Também para a zona euro, Bruxelas projetou que a taxa de desemprego suba este ano para os 9,6% (face aos 7,5% registados em 2019) e recue apenas parcialmente para os 8,6% em 2021.
Já para o conjunto dos 27 países, o executivo comunitário apontou para uma recessão de 7,4% do PIB, seguida de uma retoma parcial em 2021, na ordem dos 6,1%.
Comissão Europeia “otimista” sobre rápida retoma económica em Portugal
A Comissão Europeia diz estar “razoavelmente otimista” sobre uma “rápida recuperação” económica de Portugal após a crise gerada pela covid-19 e considera que a forma como o país “controlou” a pandemia beneficiará a retoma do turismo este verão.
“De momento, estou razoavelmente otimista relativamente a Portugal”, afirmou em entrevista à agência Lusa, em Bruxelas, o comissário europeu do Emprego, Nicolas Schmit.
O responsável recordou que “Portugal foi bastante afetado pela crise anterior”, de há 10 anos, “que teve contornos muito sérios no país e afetou especialmente jovens, com alguns dos quais a terem de deixar o país para encontrar novas oportunidades”.
Porém, desta vez a situação será diferente, segundo Nicolas Schmit.
“Prevemos que a recuperação económica em Portugal aconteça relativamente rápido, o que permitirá também que o desemprego baixe mais rapidamente do que aconteceu na crise anterior”, comparou o comissário europeu.
Em previsões económicas divulgadas no início de maio, a Comissão Europeia disse estimar para Portugal uma contração da economia de 6,8%, menos grave do que a média europeia, mas projeta uma retoma em 2021 de 5,8% do PIB, abaixo da média da UE (6,1%) e da zona euro (6,3%).
Foi ainda projetada uma taxa de desemprego de 9,7% em 2020, diminuindo para 7,4% no ano seguinte.
“As previsões de que dispomos apontam para um aumento no desemprego em Portugal este ano, à semelhança dos outros Estados-membros”, notou Nicolas Schmit.
E, segundo o responsável luxemburguês, isto já está a acontecer.
“Já estamos a assistir a um aumento do desemprego – porque já há pessoas a perder os seus postos de trabalho –, mas é preciso pôr em prática as medidas certas para o limitar e para ajudar Portugal a recuperar vigorosamente”, apelou.
Segundo Nicolas Schmit, aqui entra a proposta da Comissão Europeia de um Fundo de Recuperação de 750 mil milhões de euros para reparar os danos provocados pela pandemia da covid-19, do qual Portugal “também é um beneficiário”, ajudando a “encurtar esta severa recessão”.
A proposta prevê que, do montante global do fundo, a ser angariado pela própria Comissão nos mercados, 500 mil milhões sejam canalizados para os Estados-membros através de subsídios a fundo perdido, e os restantes 250 mil milhões na forma de empréstimos.
Portugal poderá arrecadar um total de 26,3 mil milhões de euros, 15,5 mil milhões dos quais em subvenções e os restantes 10,8 milhões sob a forma de empréstimos (voluntários) em condições muito favoráveis, mas a decisão sobre o aval da proposta cabe aos líderes europeus.
Na entrevista à Lusa, Nicolas Schmit elogiou também o facto de Portugal ter conseguido “controlar bastante bem a pandemia”, numa altura em que se registam cerca de 33 mil casos de infeção no país – mais de 20 mil dos quais recuperados – e 1.447 mortes por causa da covid-19.
“Não foi um dos países mais afetados e penso que isto é um elemento positivo para Portugal e para o setor do turismo”, considerou o comissário europeu.
Nicolas Schmit disse, ainda, esperar que este verão não seja “uma temporada perdida” no país, apesar de reconhecer que o setor turístico português terá “um ano mais difícil”.
“Espero que estas consequências sejam limitadas”, concluiu.
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