Tal significa que em vez dos 60 mil milhões de euros mensais, a autoridade monetária vai passar a comprar obrigações dos governos da zona euro numa base mensal de 30 mil milhões até setembro, que é quando o programa termina.
O objetivo do Banco Central Europeu (BCE) com esta medida é dar mais dinamismo à economia e à circulação do crédito, elevando a inflação para níveis próximos de 2%, algo que o banco central não tem conseguido.
De acordo com o economista chefe do Montepio Geral, Rui Bernardes Serra, o lançamento do programa de compra de dívida visou baixar as taxas de juro de longo prazo da dívida pública, de modo a fomentar a atividade económica (incentivando o consumo e o investimento) e, dessa forma, fazer subir a inflação para o objetivo de 2%.
“Perante os sucessivos sinais de fortalecimento da atividade económica, tornou-se importante começar a reduzir os estímulos, sendo expectável que as taxas de juro da dívida dos diversos países da zona euro possam subir, mas de uma forma moderada”, explicou.
No caso de Portugal, disse Rui Bernardes Serra em declarações à agência Lusa, a subida deverá ser inferior à que se estima para a Alemanha (onde as taxas estão excessivamente baixas).
Isto porque o ‘spread’ da dívida portuguesa poderá continuar a cair (refletindo a redução do risco da economia portuguesa) e também pelo facto de o BCE nos últimos tempos ter comprado montantes de dívida portuguesa inferiores à quota prevista no programa para Portugal, dado que, em algumas emissões, o banco central já tinha ultrapassado os limites de detenção por emissão.
O gestor da corretora XTB, Eduardo Silva, lembrou, a propósito, que a evolução da inflação levou a que o banco central adiasse pela terceira vez o fim do programa de compra de dívida, fator que dividiu os analistas e principalmente alguns membros do BCE.
Draghi garantiu alguma flexibilidade para estender o prazo do programa e deixou claro que pode mesmo aumentar o valor da compra, caso a evolução da inflação seja negativa.
A expectativa é, no entanto, de que a evolução do crescimento que tem vindo a ser revista em alta recupere eventualmente a inflação.
Para o economista, “a economia está forte e deverá continuar a registar dados económicos sólidos”, como se tem visto nos EUA.
“O fim do programa não representa uma inversão da política monetária, que continuará expansionista por mais algum tempo”, sublinhou.
Desde março de 2016 que o BCE empresta aos bancos a 0% semanalmente, e desde junho de 2014 que cobra pelo excesso das suas reservas.
O presidente do BCE, Mario Draghi, tem dito que se as perspetivas passarem a ser menos favoráveis ou se as condições financeiras deixarem de ser consistentes com uma evolução no sentido de um ajustamento sustentado da trajetória de inflação, o Conselho de Governadores está preparado para aumentar o programa, quer em termos de dimensão quer na sua duração.
Na última reunião, o BCE reviu em alta a sua previsão de crescimento para 2017 na zona euro para 2,4%, mais duas décimas, deixando inalterada a previsão de inflação em 1,5%.
As novas previsões do BCE, que abrangem 2020, antecipam que a inflação seja de 1,7% nesse ano.
O BCE prevê para 2018 um crescimento de 2,3% (1,8% previsto em setembro), com uma inflação de 1,4% (1,2% na anterior estimativa).
Já em 2019, o crescimento deverá ser de 1,9%, mais duas décimas do que foi apontado em setembro, e uma inflação de 1,5% (sem alterações).
Comentários