Nada apaixona tanto o nosso país como o futebol. Ainda no outro dia ouvia numa entrevista um dirigente desportivo a dizer que “ninguém vai para o Marquês festejar a subida do rating de Portugal” e o mesmo não estava errado, independente da legitimidade e da importância de uma ou de outra coisa.
Costuma também dizer-se (e prometo que não vou fazer mais citações) que o futebol é a coisa mais importante de todas as coisas menos importantes e o dia de hoje será, muito provavelmente, prova de isso. A norte e a sul, portistas e benfiquistas roerão as unhas durante 90 minutos onde lutarão, em campos diferentes, pela conquista do título desta época.
A época foi longa – não porque tenha tido mais jornadas que as anteriores, mas porque as emoções estiveram ao rubro e os altos de baixos de quem disputa agora ao título foram-se alternando.
O FC Porto chega a esta jornada a precisar que o SL Benfica perca em casa com o Santa Clara para poder festejar. Provavelmente esta não seria a ideia de Sérgio Conceição e dos seus jogadores quando à 16.ª jornada conservavam sete pontos de vantagem sobre as águias. Agora, terá de receber e vencer o Sporting CP em sua casa, numa espécie de antevisão da final da Taça que se disputará entre as mesmas equipas de uma semana a esta parte, esperando um deslize das águias.
Já o SL Benfica, por sinal, talvez não esperasse estar nesta posição quando dispensou os serviços de Rui Vitória e promoveu Bruno Lage da equipa B para a equipa A, num movimento que alguns podem ter achado temporário, mas que os resultados vieram confirmar como definitivo. Com Lage no banco, os encarnados venceram 17 dos 18 jogos que disputaram a contar para o campeonato (somaram apenas um empate com o Belenenses SAD). Mais: tiveram um registo arrasador no ataque, duplicando o número de golos marcados mais ou menos no mesmo número de jogos em que o seu antecessor que se sentava no banco (31 golos em 15 jogos com Rui Vitória, 68 golos em 18 jogos com Bruno Lage).
Independentemente do desfecho, é impossível não considerar que este é talvez o campeonato mais competitivo, no que à luta pelo título diz respeito, desde que SL Benfica e Sporting CP o disputaram também até à última jornada, na temporada de 2015/2016, ano em que Jorge Jesus trocou as águias pelos leões.
Hoje, a partir das 18h30, a bola rolará em Lisboa e no Porto, arrastando consigo os corações vermelhos e azuis que, um pouco por todo o mundo, palpitam por estes dois gigantes do futebol português.
“Algumas pessoas pensam que o futebol é uma questão de vida ou morte. Eu não gosto dessa postura. O assunto é muito mais sério que isso.” A frase (eu sei que tinha prometido que não havia mais citações mas não resisti) é de Bill Shankly, um histórico treinador do Liverpool. E estará manifestamente hiperbolizada, simbolizando a paixão que todos sentimos quando 11 atletas que correm atrás de uma bola com as cores da camisola que apoiamos.
Hoje é um desses dias, onde se espera que a irracionalidade que anda lado a lado com a paixão pelo jogo fique contida ao longo dos 90 minutos, deixando-se depois a festa para os vencedores e mostrando-se respeito pelos vencidos – até porque, independentemente de quem vença o título desta época, a prestação do 2.º classificado só servirá para honrar e mostrar quão difícil foi ser campeão em Portugal nesta temporada.
Hoje é dia de bola, pintado de vermelho e azul. Reconquista ou bicampeonato, que vença o futebol.
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