Hoje é dia de Portugal-Espanha. Meia-final do Rugby Europe Championship (REC2025), torneio europeu que já qualificou os dois países para o campeonato do mundo de râguebi, na Austrália, em 2027. Será a segunda vez para os espanhóis, a terceira do XV português, depois da estreia em 2007 e do campeonato do mundo de 2023.

Mas um Portugal-Espanha ou um Espanha-Portugal é mais que um simples jogo. Vizinhos de fronteiras terrestres, a rivalidade dos dois países ibéricos quando entra em campo mergulha nas profundezas mais profundas das raízes históricas. Só muda o campo de batalha.

O campo de Honra do Estádio Nacional, infraestrutura inaugurada a 10 de junho de 1944 – curiosamente, no Dia de Portugal, a partida inaugural foi um jogo de rivalidade histórica e ancestral, Sporting-Benfica, será o palco de encontro das duas seleções nacionais.

Em jogo, a passagem à final do REC, competição na qual uma delas encontrará a todo-poderosa Geórgia ou a Roménia. O resultado não “é a feijões”, nunca é, e terá impacto na distribuição, por ranking, nos grupos das 24 seleções presentes na Austrália. 

Tudo começou num jogo amigo em 1935

Portugal (16.ª do ranking mundial) e Espanha (18.ª) defrontam-se deste 1935. A 13 de abril desse ano, há quase 90 anos, realizou-se o primeiro jogo internacional português, estreia no Estádio Universitário de Lisboa, partida de carácter particular (5-6). Foi o primeiro “test-match” de Espanha, fora de portas.

Lobos e leones assinalam hoje a 43ª batalha, conforme se pode contabilizar no site da federação espanhola. Ao todo, seis encontros particulares e os demais sempre a envolver campeonatos da Europa, ora qualificações para os Mundiais.

Os números, não mentem. A vantagem no Duelo Ibérico mora do outro lado da linha territorial que divide as duas nações. 18 vitórias lusas, 2 empates e 26 triunfos espanhóis.

À rajada de quatro vitórias nos primeiros quatro jogos entre as duas seleções, 31 anos depois Portugal respondeu com a primeira razão para celebrar. Foi no dia 27 de março de 1966, em Madrid, no Estádio Nacional Universidad Complutense.

O triunfo (9-3) teve o condão de promover a seleção nacional à 1.º Divisão da FIRA (Federação Internacional de Râguebi Amador), antecessora da Rugby Europe. No ano seguinte, em Lisboa, nova vitória lusa (5-0).

O êxito nesse encontro particular viria, contudo, a inaugurar uma travessia de 33 anos pintada com 13 derrotas e um empate (1984). Um cenário negro que terminaria a 20 de fevereiro de 2000. Mais de um ano depois do célebre jogo do torneio de repescagem para o Mundial 1999, realizado no País de Gales. A 2 de dezembro de 1998, em Edimburgo, na Escócia, a Espanha bateu Portugal (21-17) e garantiu a viagem para a estreia em mundiais. Os lobos, voltaram para casa.

Pese embora essa desfeita às ambições lusas, então natural à altura, é no torneio europeu de nações (16 vitórias da Geórgia e 5 da Roménia), que Portugal viria a vencer em 2004, antigamente conhecido como Seis Nações “B”, que a estatística dos embates começa a inclinar para o lado português: 12 vitórias, um empate (2013) e oito derrotas nos 21 encontros realizados.

“É única equipa que quero vencer em todas as ocasiões”

As duas últimas vezes que Portugal e Espanha se encontraram significou a passagem dos lobos à final do campeonato da Europa.

O último triunfo do leones, em Madrid, marcou mais um episódio dramático do râguebi espanhol. A 13 de março venceram em campo (33-28), mas perderiam fora dele por inscrição irregular de Gavin van der Berg, jogador de origem sul-africana que, por acaso, tinha jogado em Portugal, mas cuja presença em campo resultou na perda de pontos por se ter provado não cumprir os requisitos da lei de elegibilidade.

Uma fotografia nas redes sociais tramou uma nação que voltaria a ficar de fora da competição mundial, pelo segunda vez consecutiva, por falhas no processo de seleção dos jogadores habilitados a representar a bandeira espanhola.

Beneficiou Portugal que subiu ao 3.º lugar do europeu, foi ao torneio de repescagem e o resto é uma história que todos sabemos de trás para a frente. Qualificação no Dubai após o empate (16-16) frente aos EUA.

“Quer se queira, quer não, ficou sempre aquele amargo de termos ido nós em vez deles ao Mundial2023”, comentou, à Lusa António Machado Santos. Mas não só. “E por lhes termos ganho nas meias-finais (do Europeu) nos últimos dois anos”, referiu o jogador português a atuar no campeonato espanhol, no Alcobendas.

“Falo diariamente com bastantes jogadores do grupo da Espanha e estão mesmo com vontade de mostrar que estão por cima”, acrescentou o pilar que ficou de fora, devido a lesão, da escolha dos 23 que irão defrontar a seleção espanhola.

Do lado de Espanha também há um Cavalo de Troia. Joaquim Dominguez (jogador do Belenenses). Não falou, mas recado veio do lado.

O “jogo é um clássico para nós”, afirmou Gonzalo Vinuesa ao rugbypass. “É sobre glória e orgulho contras os nossos queridos vizinhos”, exclamou. Ou como diz o capitão dos leones, Mario Pichardie: “a rivalidade e desejo de ganhar a Portugal vai muito além dos tempos e é a única equipa que quero vencer em todas as ocasiões”, frisou.

Do lado nacional, José Lavos (Cascais) pode somar a primeira internacionalização. Diogo Hasse Ferreira chega às 50 internacionalizações. Manuel Vareiro (GD Direito) faz a estreia a titular dos lobos, dois irmãos Rebelo de Andrade estão selecionados (José no XV inicial) e há uma dupla de talonadores que joga no mesmo clube e alternam a titularidade (Santiago Lopes) e o banco de suplentes (Nuno Mascarenhas).