“Tal como tinha acontecido em 1994, por ocasião de um período igualmente crítico no Benfica, altura em que telefonei ao então presidente Jorge de Brito a garantir que o FC Porto não se iria aproveitar desse momento para contratar jogadores, também agora informei o presidente do Sporting de que o FC Porto não seria destino de nenhum dos que rescindisse”, escreveu Pinto da Costa num dos capítulos do seu novo livro, com o título “a ética é uma treta, para alguns”.
No mesmo capítulo, Pinto da Costa critica o presidente do Benfica, sem citar o seu nome, por ter querido “aproveitar-se da fraqueza alheia para fazer uma ‘pequena loucura’ para contratar jogadores ao Sporting, como prometeu aos seus consócios”.
Ponto alto da última época foi a decisiva vitória no Estádio da Luz para o 21.º título da história do FC Porto “cujo ADN, composto de coragem, de energia e de uma convicção inabalável, se concentrou naquele final de tarde na ponta do pé direito de Herrera [autor do golo que deu a vitória à equipa portista ao minuto 90], uma espécie de justiça divina na forma de um pontapé, que para muitos, para aqueles que foram plantando armadilhas no caminho se transformou num murro no estômago”.
“Estávamos todos naquele pontapé, como logo a seguir estivemos todos naquele grito, naquele golo. Ali estava o FC Porto à imagem daquilo que nos habituámos a imaginar, cheio de coragem, seguro de si, a resgatar o primeiro lugar. Podem até apagar-nos as luzes, mas a outra luz, aquela força interior, ninguém extingue”, escreveu Pinto de Costa, para quem o título foi “mais do que justo, depois de sete meses na frente, a praticar o melhor futebol e o jogo mais intenso, marcando mais golos, sofrendo menos do que qualquer adversário”.
O presidente portista revela no livro como é que logrou a contratação de Sérgio Conceição, cujo nome não constava de uma lista de quatro nomes que estava em avaliação por se encontrar vinculado aos franceses do Nantes.
No dia 27 de maio, data da primeira grande vitória internacional do FC Porto – em 1987, frente ao Bayern Munique, na final da Taça dos Campeões Europeus –, almoçou com o empresário belga Luciano D’Onofrio, durante o qual este lhe confidenciou que Sérgio Conceição tinha condições para se desvincular e voltar para Portugal.
“Nesse mesmo dia falei com o Sérgio Conceição e dele ouvi a vontade de assumir a direção da nossa equipa. Assim se iniciou uma negociação dura e longa. Suspendi de imediato todos os outros contactos, que incluíam até uma viagem a Madrid”, recorda Pinto da Costa, não poupando elogios à sua “inteligência, capacidade de trabalho e coragem”.
No capítulo referente ao ano 2015, o presidente portista destacou a aquisição do Porto Canal como um passo em direção ao futuro e à modernidade, acompanhando a evolução tecnológica em todos os setores.
“A evolução da Porto Media merece a maior das atenções. Por isso, criámos uma equipa especializada e vamos com a aquisição do Porto Canal procurar cumprir o nosso desejo de ter um canal televisivo que informe corretamente, que discuta ideias, que dê voz a uma região e que seja o canal de todos os que repudiam o centralismo existente”, defendeu.
Pinto da Costa, no capítulo referente ao ano 2014, lembra o que disse quando decidiu contratar o atual treinador do Real Madrid, Julen Lopetegui.
“É um treinador vencedor que vai surpreender as cassandras catastrofistas que tanto mal nos desejam, mas até que isso se concretiza vão continuar a inventar-lhe defeitos e pecados. Estou tranquilo, o FC Porto contratou um treinador moderno, do melhor futebol do mundo, que conquistou troféus importantes pelas seleções jovens de Espanha e a quem vamos dar o suporte necessário para construirmos uma equipa vencedora”, escreveu, então.
As duas épocas de Lopetegui no Dragão não confirmariam a previsão de Pinto da Costa e o técnico catalão, resgatado à seleção principal de Espanha antes do Mundial pelo presidente do Real Madrid, Florentino Perez, que o despediu na segunda-feira.
O prefácio é do presidente da Mesa da Assembleia Geral do FC Porto, José Manuel de Matos Fernandes, que qualifica o livro como o “repositório das últimas cinco épocas condensado em ‘Até o Mar Azul’, que documenta os estados de alma de um homem que devotou inteiramente a sua vida ao clube da sua terra”, homem esse que “protagoniza há décadas a saga do FC Porto com paixão, tenacidade, lucidez e dedicação ímpares, que o transportou da antiga modéstia à dimensão nacional e planetária”.
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