Há quem defenda que esta foi a "free agency" mais louca de sempre na NBA. Só nas primeiras 24 horas foram acordados contratos que totalizam cerca de três mil milhões de dólares e, agora que estamos com dez dias de mercado aberto a jogadores livres, esse número já ronda os quatro mil milhões. Mais de um terço das principais estrelas da liga norte-americana mudaram de equipa e toda a paisagem da NBA será diferente quando arrancar a próxima época. Vamos fazer um primeiro balanço do que passou pelos pingos da chuva nestes dez dias de "free agency" de 2019?
VENCEDOR: Paridade da liga
Ao contrário daquilo a que assistimos nos anos mais recentes, não existe, pelo menos para já, um claro favorito ao título da próxima temporada. É claro que muito pode ainda mudar até outubro, mas, depois das dezenas de movimentações dos últimos dias, as casas de apostas colocam os já falados Clippers como favoritos a conquistar o troféu Larry O'Brien, mas seguidos de perto pelos vizinhos Los Angeles Lakers, pelos Milwaukee Bucks do MVP Giannis Antetokounmpo e pelos renovados Philadelphia 76ers. Numa segunda linha aparecem equipas como os Golden State Warriors, os Houston Rockets, os Denver Nuggets, os Utah Jazz, os Boston Celtics, os Brooklyn Nets e os Toronto Raptors. Ou seja, um terço das equipas da NBA pode alimentar legítimas aspirações de suceder aos canadianos como campeão.
DERROTADO: Super-equipas
Já não há super-equipas na NBA. Ao resistir à tentação de se juntar a LeBron James e Anthony Davis nos Lakers, Kawhi Leonard provocou um fenómeno que há muito não se via: acabaram os «Big 3». Por outro lado, há inúmeras equipas com duplas muito fortes. Kawhi e PG nos Clippers, LeBron e AD nos Lakers, KD e Kyrie nos Nets, Kemba Walker e Jason Tatum nos Boston Celtics, Luka Doncic e Kristaps Porzingis nos Dallas Mavericks são duplas recém-criadas, que se juntam a outras já existentes como Steph Curry e Klay Thompson (Golden State Warriors), James Harden e Chris Paul (Houston Rockets), Ben Simmons e Joel Embiid (Philadelphia 76ers), Damian Lillard e C.J. McCollum (Portland Trailblazers), Jamal Murray e Nikola Jokic (Denver Nuggets), e Donovan Mitchell e Rudy Gobert (Utah Jazz).
VENCEDOR: Jerry West
O homem que inspirou o logotipo da NBA é apenas consultor do "front office" dos Clippers. Ainda assim, "The Logo" parece ter sido o cérebro por trás da bombástica contratação do MVP das Finais, o extremo Kawhi Leonard. No passado, West ganhou três títulos como GM dos Lakers e, já como Vice-Presidente de Operações, "inventou" forma de libertar espaço salarial para juntar Shaquille O'Neal a Kobe Bryant. Mais de uma década depois, em 2011, juntou-se aos Warriors e, entre as decisões mais marcantes da passagem por Oakland destacam-se a nega à troca de Klay Thompson por Kevin Love e a importância na decisão de Kevin Durant em mudar-se de armas e bagagens para a Oracle Arena. Agora, terá sido preponderante na forma como o conjunto de Hollywood conseguiu pescar as trutas Kawhi e Paul George.
DERROTADO: Masai Ujiri
É estranho chamar derrotado a quem acaba de se sagrar campeão, mas a análise é sobre a "free agency" e, aí, os Toronto Raptors saíram a perder. O Presidente de Operações abdicou da maior estrela da história da equipa canadiana, DeMar DeRozan, para receber em troca um Kawhi Leonard em final de contrato e todos os analistas acreditavam que só um título (ou a chegada às Finais) seria capaz de manter o extremo ex-San Antonio Spurs na formação treinada por Nick Nurse. Ora, os Raptors foram mesmo campeões e, mesmo assim, Kawhi decidiu sair. Nem a vantagem de ter sido a última equipa a reunir com o MVP das Finais foi suficiente para o convencer a ficar. E Ujiri ficou de mãos a abanar. O troféu Larry O'Brien é consolo suficiente, mas não deixa de ser um dos derrotados destes dias.
VENCEDOR: Los Angeles Lakers
Também é estranho chamar vencedora a uma equipa que perdeu a corrida ao alvo mais desejado, Kawhi Leonard. Mas os Lakers souberem reagir e foram rápidos a fazê-lo, mesmo com argumentos financeiros menos convincentes do que outras equipas. Depois da notícia de que Kawhi tinha decidido levar os seus talentos para a outra equipa de Los Angeles, conseguiram chegar a acordo com os bases Rajon Rondo e Quin Cook, os atiradores Danny Green e Kentavious Caldwell-Pope e os postes JaVale McGee e DeMarcus Cousins. Seis contratações-relâmpago que atenuam (mais ou menos) o sentimento amargo de terem sido preteridos pelo MVP das Finais. Muita gente tem gozado com os Lakers, mas uma equipa que já tinha juntado Anthony Davis ao "Rei" e acrescenta todas estas peças deve ser levada a sério.
DERROTADO: Russell Westbrook
O explosivo base fez parte de uma equipa dos Oklahoma City Thunder que tinha três atletas que viriam, anos mais tarde, a receber o prémio de MVP: ele mesmo, Kevin Durant e James Harden. O "Barbas" foi trocado, mas KD escolheu sair e, segundo consta, a relação com Westbrook ajudou à decisão. Agora, foi a vez de Paul George, um dos três finalistas ao prémio de Most Valuable Player da última época, abandonar o "Brodie" para se juntar a Kawhi Leonard em Los Angeles. É verdade que PG já veio dizer que será sempre o maior defensor de Westbrook, mas foi o extremo que pediu para ser trocado e as imagens de George a celebrar a saída de OKC levantaram suspeitas de que a relação com o base, afinal, não era a melhor. Uma coisa é certa: Russell Westbrook voltou a ficar como estrela única dos Thunder e, perante as duas eliminações precoces consecutivas dos "playoffs", o «front office» de OKC já está a ouvir propostas para trocar o "Mr. Triple Double".
VENCEDOR: Elton Brand
Era difícil manter os "free agents" Jimmy Butler e Tobias Harris e a ideia tornou-se impossível quando o primeiro mostrou intenções de sair rumo ao calor de Miami. O cenário ficou ainda mais negro com a ida do atirador J.J. Redick para os New Orleans Pelicans. Elton Brand, general-manager com pouquíssimo tempo no cargo, mostrou sagacidade na reação às perdas de Butler e Redick. Assegurou a continuidade de Harris, deu um contrato máximo ao base Ben Simmons e garantiu a chegada dos subvalorizados Josh Richardson (ex-Heat) e Al Horford (ex-Celtics). Com estas adições ao cinco inicial, os 76ers vão certamente apresentar uma das melhores defesas da competição, mas a contratação de Horford tem também outro significado. É que o dominicano é talvez o maior especialista a defender Joel Embiid e, agora, o poste camaronês já não terá que defrontar Horf.
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