Os Cleveland Cavaliers preparavam-se para entrar em campo para defrontar os New Orleans Pelicans. Apesar de ser fora de casa, em Nova Orleães, o jogo do passado dia 24 de Janeiro era teoricamente fácil para os campeões. A meia hora da bola ao ar, eis que chega mais uma boa notícia: Anthony Davis, a grande estrela da equipa adversária e que somava médias de 29 pontos e 12 ressaltos nessa altura, não ia jogar devido a uma lesão na perna direita.

Mel.

Quarenta e oito minutos depois, os Pelicans festejavam um inesperado triunfo por 124-122 e LeBron James não se conteve. “We need a fucking playmaker”, disse o líder dos Cavaliers aos jornalistas. Uma declaração forte, mas legitimada pelo facto de ter acabado de fazer mais uma grande exibição: 26 pontos, 10 ressaltos e 12 assistências. O ‘Big Three’ tinha dado tudo - Kyrie Irving (49 pontos) e Kevin Love (22 pontos e 16 ressaltos) também tinham brilhado -, mas não chegou.

O que motivou o desabafo do ‘King’ não terá sido essa derrota frente a uma das piores equipas da NBA. Na cabeça de James estaria certamente outro desaire, precisamente uma semana antes, diante dos Golden State Warriors por claros 91-126, em que ficou evidente a diferença de argumentos entre as duas equipas. E estaria também uma entrevista de Draymond Green logo no início da época, em que o extremo/poste dos Warriors assumiu o desejo de “aniquilar” os Cavaliers. Aquela era a altura ideal para enviar uma mensagem ao ‘front office’ da equipa. Para LeBron James, a recente contratação de Kyle Korver não era suficiente. Para ganhar aos Pelicans? Não. Para medir forças com os pupilos de Steve Kerr numa eventual reedição das últimas duas finais da NBA.

Reforços cirúrgicos e de luxo

Passaram cinco semanas e houve mudanças em Cleveland. Depois de Korver, os Cavaliers contrataram o extremo Derrick Williams (2ª escolha do draft de 2011), o base Deron Williams (3ª escolha de 2005) e preparam-se para anunciar a chegada do poste Andrew Bogut (1ª escolha de 2005). Se a estes juntarmos LeBron James (1ª escolha de 2003), Kyrie Irving (1ª escolha de 2011), Kevin Love (5ª escolha de 2008) e Tristan Thompson (4ª escolha de 2011), é fácil perceber por que razão estes Cavs são ainda mais favoritos a vencer a conferência Este. E ainda há Kyle Korver, J.R. Smith, Iman Shumpert, Richard Jefferson e Channing Frye, que seriam titulares na maioria das equipas da liga.

Medo.

As contratações foram cirúrgicas. Kyle Korver é só um dos melhores lançadores da história do jogo. Numa equipa como os Cavaliers, recheada de extraordinários atiradores e com um LeBron James que obriga a que as atenções das defesas contrárias estejam centradas nele, Korver está como peixe na água. Tem mais tempo e espaço para armar o lançamento e não é por acaso que concretizou mais de 60% dos triplos que tentou em fevereiro.

Por sua vez, Derrick Williams é um corpo grande e atlético, que dá garantias no meio-campo defensivo e contribui no ataque. Mas é, sobretudo, um jogador polivalente, que tanto pode jogar a extremo como a extremo/poste, e chega à formação do estado do Ohio para entrar na rotação com LeBron James, Kevin Love, Richard Jefferson e Channing Frye, em especial durante a época regular.

E os mais recentes reforços? Bem, esses são a cereja no topo do bolo.

Deron Williams, o tal “fucking playmaker” que LeBron pediu e que se estreou esta madrugada (4 pontos, 2 ressaltos e 2 assistências na derrota em Boston), acrescenta liderança, experiência (inclusive de playoffs), eficácia no lançamento de três pontos – sim, mais um! – e boas leituras e tomada de decisão no bloqueio directo como portador da bola. E se é verdade que vem para ser suplente de Kyrie Irving e dar-lhe minutos de descanso, também é certo que vai partilhar o campo com o base titular e dar inúmeras hipóteses de utilização ao treinador Tyronn Lue.

Já Andrew Bogut oferece defesa nas zonas mais próximas do cesto, bons bloqueios, capacidade de ressalto e, ainda mais importante do que tudo isto, um conhecimento profundo dos Golden State Warriors por lá ter jogado até ao final da última época. O gigante australiano sabe, por isso, o que é fazer parte de um cinco onde os outros quatro jogadores são especialistas a lançar do perímetro, passa bem a bola para fora dos 7,25 metros – isto também vai dar jeito em Cleveland - e conhece, melhor do que ninguém, as movimentações do conjunto de Oakland, o que pode ser importante caso Cavs e Warriors se reencontrem nas finais.

Qual é a super-equipa?

Quando Kevin Durant escolheu juntar-se a Steph Curry, Klay Thompson e Draymond Green em Golden State, os Warriors passaram a ser apelidados de “super-equipa”. Mas para receber KD e o seu monstruoso salário anual superior a 26,5 milhões de dólares, os finalistas vencidos da NBA foram obrigados a abdicar de dois titulares (um deles era Bogut) e de alguns suplentes importantes. Perderam profundidade, mas ganharam o melhor cinco da prova. Um super-cinco.

Os Cavaliers estão a responder no sentido oposto. Em vez de irem atrás de Carmelo Anthony, dos New York Knicks, para reforçar o cinco, optaram por fortalecer – e muito - o banco de suplentes. Ficam com um cinco composto por Kyrie, J.R., LeBron, Love e Thompson, e uma segunda unidade onde estão Deron Williams, Korver, Jefferson, Frye e Bogut. E ainda têm Shumpert e Derrick Williams. Doze jogadores que contam mesmo, e que vão contar nos playoffs, altura em que as rotações costumam ficar reduzidas a oito ou nove atletas. Uma super-equipa.

Naquela noite de 24 de Janeiro, após a derrota com os Pelicans e o pedido de um “fucking playmaker”, LeBron James usou o Twitter para dizer que não estava chateado com os responsáveis da equipa e explicar que considerava que os Cavs ainda precisavam de melhorar para tentar revalidar o título. Agora, cinco semanas depois, LeBron já tem o “fucking playmaker”, já tem mais um poste e já tem mais dois extremos. Agora, LeBron já tem tudo aquilo que pediu e mais alguma coisa. Agora, LeBron já não tem desculpas.

Debaixo de olho

A lesão de Kevin Durant (entorse de grau 2 no ligamento lateral interno do joelho esquerdo) deixa no ar um enorme ponto de interrogação. Será que volta? E, se sim, como volta? Na época passada, Steph Curry sofreu a mesma lesão, embora de grau 1, em plenos playoffs e, quando voltou a jogar, a sua prestação ficou muito aquém daquilo que sabe fazer. KD tem tempo para recuperar – para já, quatro a seis semanas de paragem-, mas a gravidade da lesão é maior do que a de Curry. Sem Durant, os Warriors voltam à formula do ano passado, mas já não têm Harrison Barnes, Andrew Bogut, Leandro Barbosa, Marreese Speigths e Festus Ezeli. E os San Antonio Spurs estão a apenas 3.5 vitórias de os apanhar na liderança da conferência Oeste. Conseguirão os Warriors segurar o primeiro lugar e garantir a vantagem-casa nos playoffs? Têm a palavra Steph Curry e companhia.

Ricardo Brito Reis é jornalista há uma década e meia, mas apaixonado por basquetebol desde que se lembra. É um dos comentadores de basquetebol da SportTV, faz parte do departamento de comunicação da Federação Portuguesa de Basquetebol e é treinador de formação no Sport Algés e Dafundo.