“O balanço da primeira parte da temporada é difícil de fazer. Não consigo avaliar como positivo, nem negativo. Obviamente que houve momentos de muita frustração, porque as situações de abandono foram sempre causadas por terceiros, colisões com outros pilotos, incidentes de corrida, e que, realmente, ditaram um bocadinho daquilo que foi a minha participação em dois dos grandes prémios”, admitiu o piloto natural de Almada, em entrevista à agência Lusa.
Miguel Oliveira, de 28 anos, conta 27 pontos antes de retomar o Campeonato do Mundo, no fim de semana, com o Grande Prémio da Grã-Bretanha, muito por causa das lesões provocadas pelas quedas. Em Portimão, na abertura da temporada, sofreu uma lesão nos tendões da perna direita, e, em Jerez de la Frontera, em Espanha, na quarta corrida, fraturou o ombro esquerdo.
“Em última instância, esta lesão no ombro deixou-me fora apenas um Grande Prémio [o quinto, de França], mas condicionou bastante outros três [Itália, Alemanha e Países Baixos]. Portanto, apesar de apenas em um dos últimos três grandes prémios ter sido a Aprilia que mais pontos marcou [na Alemanha], não me deixa naturalmente satisfeito, dado que não estava a pilotar nas minhas perfeitas condições”, lamentou.
Reconhecendo que estas condicionantes fazem parte do desporto e da modalidade que pratica, a queda sofrida em 30 de abril, num incidente com o francês Fábio Quartararo (Yamaha), acabou por obrigar a um longo período de recuperação.
“O ombro saiu do sítio, mas saiu do sítio com uma fratura Hill-Sachs [afundamento da cabeça do úmero, que confere estabilidade ao ombro]. Se eu jogasse voleibol ou andebol, era 100% certo que tinha de passar por uma cirurgia e quatro meses de recuperação, no mínimo. Isso passou pela equação, mas, com a nossa experiência e, um bocadinho, com a necessidade de voltar ao ativo, decidimos fazer uma recuperação mais conservadora”, explicou.
Para o português, esta foi “talvez uma das lesões mais delicadas de tratar” que já sofreu, com “muitas inflamações, muitas dores”, ilustrando: “Quem anda de mota sabe o que é não ter um ombro operacional”.
Com oito corridas disputadas, a Ducati, e o campeão em título Francesco Bagnaia, têm dominado um campeonato com um novo formato, com a introdução das corridas sprint, beneficiando da presença numerosa do fabricante italiano na grelha.
“O plantel está tão competitivo e tão próximo que basta um detalhe para deixar um piloto fora da Q2. E ficar fora da Q2 condiciona todo o fim de semana. Este formato não nos dá tempo para nos recompormos de um dia ou de uma sessão menos boa e isso, para um construtor como a Ducati, com oito motos na grelha, tem uma vantagem para acelerar a procura de uma solução técnica para ficar mais performante, mais rápida”, analisou.
A edição de 2023 do Campeonato do Mundo de MotoGP prossegue no fim de semana com a realização do Grande Prémio da Grã-Bretanha, em Silverstone, a nona das 20 provas previstas.
O italiano ‘Pecco’ Bagnaia, vencedor de quatro corridas nesta temporada, lidera o Mundial, com 194 pontos, mais 35 do que o espanhol Jorge Martin e mais 36 do que o seu compatriota Marco Bezezcchi, ambos em Ducati, também.
A Aprilia tem “ainda um fosso grande por escavar”, mas os “outros construtores também”, segundo Miguel Oliveira, observando a classificação.
“Também é a primeira vez que a Aprilia forneceu uma equipa satélite. Como construtor, é um desafio, é um desafio para toda a fábrica a nível de recursos humanos, a nível de fabricação de peças, de dar apoio extra a mais uma equipa e a mais dois pilotos. Acho que, para o pouco tempo que temos juntos, a Aprilia tem feito um trabalho fenomenal e eu acho que este é o caminho a percorrer para o sucesso junto com a Aprilia, é continuar a ‘partir pedra’ este ano para podermos chegar a bom porto no início do ano que vem”, concluiu.
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