Questionado sobre um pedido quanto a um cartão de sócio de uma mulher, presumivelmente para que essa pessoa pudesse entrar na AG por outra associada, explicou que decidiu “castigar” quem o contactou.

“Não lhe arranjei nada. Pediu-me um cartão de sócio de mulher. Disse que sim, mas na hora deixei-a ficar ‘agarrada’. Primeiro, não arranjava [de qualquer forma], e ela fazia campanha nas redes sociais para Villas-Boas. Foi uma maneira de a castigar”, declarou.

Os 12 arguidos da Operação Pretoriano, entre os quais o antigo líder dos Super Dragões e a mulher, Sandra Madureira, começaram hoje a responder por 19 crimes no Tribunal de São João Novo, no Porto, perante forte aparato policial nas imediações.

Em causa estão 19 crimes de coação e ameaça agravada, sete de ofensa à integridade física no âmbito de espetáculo desportivo, um de instigação pública a um crime, outro de arremesso de objetos ou produtos líquidos e ainda três de atentado à liberdade de informação, em torno de uma assembleia-geral do FC Porto, em novembro de 2023.

A questão de entrada no recinto, e credenciação, dominou grande parte das perguntas da parte da tarde, em que a procuradora confrontou Madureira com mensagens relativas a uma organização da presença massiva de apoiantes de Pinto da Costa.

Grupos de WhatsApp, um com cerca de 300 pessoas e afeto aos Super Dragões, no geral, e outro com os líderes de núcleos, foram focos de discussão, com o antigo chefe da claque a reiterar que não “manda nas pessoas” nem decide como vão votar ou comportar-se — até porque disse desconhecer os estatutos do FC Porto ou as alterações que então seriam votadas, apenas que Pinto da Costa pediu voto contra nos “pontos mais quentes”.

Negando o ‘arranjo’ concertado de cartões de sócio, foi questionado com uma mensagem de uma adepta portista, identificada como “Bárbara SD”, a quem terá ameaçado e insultado.

“Isso é no sentido figurado. É namorada do meu primo, e isto é tudo no sentido figurado. Tenho uma esposa, mãe, avós, sogras, tias, e três filhas. (…) Temos de perceber o conteúdo e o meu grau de confiança com a pessoa”, afirmou.

Pouco depois, admitiu que não conseguia tomar conhecimento de tudo o que lhe enviavam em “talvez 70 ou 80 grupos” na rede social, e serviço de mensagens, WhatsApp, anuindo a pedidos “para despachar sem ler”.

“Até me chamavam o ‘ok, ok'”, reforçou.

Madureira reiterou, depois, acusações e insinuações quanto a apoiantes de André Villas-Boas, então putativo candidato à presidência dos ‘dragões’, que viria a ganhar no ano seguinte.

Para o arguido, mantiveram-se em funções os diretores de segurança e marketing do clube, responsáveis pela organização da assembleia-geral, e a SPDE continua a fornecer serviços de segurança ao clube, “e os outros, tudo o que era Pinto da Costa”, foram demitidos.

Os próprios Super Dragões, de resto, mantiveram o protocolo existente com o clube, e, para Fernando Madureira, “aquela AG foi o rastilho para ele lançar a campanha”, como já tinha defendido da parte da manhã.

De resto, e já inquirido pela defesa, manteve que se sentiu “triste e ofendido” com ofensas a Pinto da Costa, que morreu em 15 de fevereiro deste ano, e que uma reação mais ‘acesa’, violenta, “provavelmente” nasceu disso.

Também com a mulher, Sandra Madureira, outras das arguidas, reconheceu ter tido quase nenhum contacto durante a assembleia-geral, e reconheceu, quando confrontado com uma mensagem em que se lia “não podemos permitir que enxovalhem o presidente”), que se dirigia a apoiantes de Villas-Boas, e quando, noutra comunicação, reforça que “vale tudo” nessa sessão, não era “de certeza para incentivar a bater em ninguém”.

Da parte da manhã, Madureira confessou ter “mobilizado os Super Dragões para apoiarem Pinto da Costa” na AG, negando qualquer incitação à violência, insultos ou a orquestração de intimidação, bem como a responsabilidade no clima criado.

O ex-líder dos Super Dragões, em prisão preventiva desde janeiro de 2024, foi o primeiro de oito arguidos que pretendem prestar declarações, seguindo-se Hugo Carneiro (“Polaco”).

A acusação assenta numa alegada tentativa de os Super Dragões “criarem um clima de intimidação e medo” numa Assembleia Geral do FC Porto, em novembro de 2023, para que fosse aprovada uma revisão estatutária “do interesse da direção” do clube, então liderada por Pinto da Costa, que morreu no dia 15 de fevereiro.

O histórico dirigente viria a ser derrotado em eleições, por André Villas-Boas, e os Super Dragões envolvidos noutra operação, ‘Bilhete Dourado’.

Entre a dúzia de arguidos, Fernando Madureira é o único em prisão preventiva, a medida de coação mais forte, incluindo Sandra Madureira, Fernando Saul, Vítor Catão ou Hugo Carneiro, igualmente com ligações à claque.

O julgamento prossegue, esta semana, terça e quinta-feira e continua em 24 e 25 de março, estando também agendadas sessões para abril e maio.