Pedro Sacramento das Neves e João Cabeçadas, o mais internacional velejador português, querem bater um recorde de ligação entre Lisboa e a Madeira num barco à vela, recorde esse estabelecido em 2004, então por Cabeçadas e Mário Sampaio, com o tempo de 88 horas (três dias e meio).

A bordo de um Grand Surprise 32, com 9 metros, os dois velejadores pretendem, para além do desafio de percorrer o mais rápido possível as 500 milhas náuticas (800 quilómetros), “inspirar os jovens a fazer navegação oceânica”, sublinhou ao SAPO24, numa conversa tida no Centro Náutico de Algés, Pedro Sacramento das Neves, de 38 anos, skipper e diretor de equipa do projeto LipChain.

“Desejamos que os velejadores mais novos saiam das linhas costeiras e façam esta rota que é simples e divertida”, realçou, momentos antes da largada dada às 13h00 de hoje, 8 de agosto, entre o forte de São Julião da Barra e o Bugio, e cuja linha da chegada, prevista entre 10 e 11 de agosto, será entre a Deserta e a Ponta de São Lourenço.

“É um sprint. É quase igual a ir de Viana do Castelo a Lagos”, atirou João Cabeçadas, o primeiro português a participar na mítica Whitbread Round The World Race, em 1989, nome de batismo da atual Volvo Ocean Race (VOR), regata à volta do mundo, e que faz parte da equipa (de terra) Alinghi, embarcação suíça que venceu a Taça América (2003 e 2007) e as Extreme Sailing Series (2008, 2014 e 2016).

“Queremos encorajar que saiam para o mar o mais longe da costa”, reforçou o velejador português que está neste momento com a Extreme Sailing Series em mãos e a trabalhar num protótipo na Suíça, num “TF 35, um barco para 2020, que será o mais rápido a seguir à Taça América com uma vela normal”, desvendou.

Um barco disponível para outros recordes. Sem egoísmos

Recordando que a embarcação para esta travessia náutica “foi adquirida em fevereiro” e cujo “refit (aperfeiçoamento) foi feito no “Seixal”, querem executar “projetos que sejam possíveis fazer com pouco budget”, frisou Pedro Neves, kiteboarder, velejador que já andou na Taça América, “com a Team Russia na Volvo Ocean Race (2008-2009)”, no “RC 44 com Patrick Monteiro de Barros”, no Red Bull Young AC45, nos “TP 52 Series” e que costuma fazer expedições náuticas (“a última das quais à Antártida”).

Esta “rota icónica” que liga a capital portuguesa à Pérola do Atlântico é um exemplo. “Pensamos chamá-la de Rota da Banana como há Rota do Rum (regata transatlântica entre Saint-Malo, França e Pointe-à-Pitre, Guadalupe, nas Caraíbas)”, diz sorrindo, numa alusão ao percurso feito na altura dos Descobrimentos.

Pedro Sacramento das Neves e João Cabeçadas têm 20 anos de diferença, são ambos naturais de Setúbal e as suas vidas já se cruzaram no passado, na Nova Zelândia. Hoje, trabalham juntos e o primeiro “cresceu a admirar” o João Cabeçadas, que era amigo do seu pai. Unidos pretendem “partilhar o conhecimento e deixar um legado” aos mais novos, ou a quem quiser se aventurar.

No regresso desta rota Lisboa-Funchal que poderá ser feita “via Açores, como no tempo dos Descobrimentos”, ou através de “Gibraltar”, explicou Cabeçadas, o barco ficará no Centro Náutico de Algés.

“Queremos que o barco esteja disponível para outros baterem recordes. Não queremos ser egoístas. E queremos cimentar este projeto”, concluiu Pedro Neves.