Aos 28 anos, a ginasta natural do Porto vai igualar o ‘tri’ de Ana Rente, no trampolim, em Pequim2008, Londres2012 e Rio2016, e de Esbela da Fonseca, em Roma1960, Tóquio1964 e México1968.
A presença na capital francesa vai engrossar a lista de feitos de Martins, que tem um movimento homónimo inscrito no Código oficial, um marco inédito para Portugal na ginástica, depois de já ter sido a primeira numa final de Europeu, nas paralelas assimétricas, em 2021.
O 21.º lugar, e quarto entre atletas sem quota para Paris2024, nos Mundiais de 2023, na final de ‘all around’, garantiu o bilhete tão desejado num ciclo marcado por lesões e problemas físicos, que espera debelados.
“Temos tido várias competições a correr bastante bem. Estamos contentes com o percurso até aqui, estamos no bom caminho. Está perto, mas ainda falta um bocadinho. Estamos ansiosos, mas a viver um dia de cada vez e dar o nosso melhor”, explica, em entrevista à Lusa na Maia, onde treina.
O “nós” do seu discurso diz respeito ao trabalho que faz com a sua equipa, encimada pelo treinador José Ferreirinha, para se manter ao mais alto nível ao longo de “muitos anos de treino e de impactos”, algo que nesta idade “é sempre um bocadinho mais difícil, com demasiada sobrecarga”.
“Não tenho nenhuma lesão específica, [mas] tenho lesões crónicas de demasiado treino, demasiados anos, demasiados impactos. Tento gerir o treino por causa disso. Tenho já cinco cirurgias. Há dias que acordamos melhor e outros pior”, acrescenta.
A portuguesa congratula-se por ver a ginástica como uma modalidade de carreira “cada vez mais longa, com bastantes ginastas internacionais acima dos 25 anos”, com a portuguesa, aos 28, e a ‘superestrela’ Simone Biles, de 27, à cabeça.
“Quando eu entrei, acabava ali nos 18, 20 anos. Já se dizia que eram velhas. Temos a exceção da Oksana Chusovitina, com 49 anos ainda a praticar. Dizia ela que queria continuar até aos próximos Jogos… é sempre bom. A evolução dos aparelhos também nos permite sofrer menos um bocadinho com tantos impactos”, reflete.
Ainda assim, esperava ver agora “talvez a vida mais estruturada” e outro apoio, dadas as limitações de uma carreira no desporto em Portugal, estando também a cursar mestrado na área.
Essa longevidade, afirma, não a leva a pensar já em Los Angeles2028, porque “tem de ser um dia de cada vez”.
Mesmo que atletas queiram “sempre mais, e achem que ainda não fizeram o suficiente”, confessa já ver-se como parte da história do desporto português, até pelo efeito “muito gratificante” de ter crianças que a idolatram e seguem o seu trabalho.
O 17.º lugar histórico nas paralelas assimétricas em Tóquio2020, com um 43.º lugar no concurso completo (foi 37.ª no Rio2016), é uma fasquia para nova participação olímpica, embora esta esteja sempre condicionada à disponibilidade física.
“Depende sempre do meu corpo, hoje em dia é um bocadinho assim. Um dos principais objetivos é conseguir a final do ‘all around’, logo no dia 28 [segundo dia dos Jogos, e data da qualificação do concurso completo] saberemos. É o nosso principal objetivo. É também aproveitar mais uma experiência incrível, [porque] a última foi muito condicionada por causa da covid-19”, afirma.
Igualmente de regresso em Paris2024 está Simone Biles, a norte-americana que somou quatro ouros e um bronze no Rio2016 para, em Tóquio2020, citar problemas na saúde mental para ‘saltar’ algumas das provas, conseguindo uma prata e um bronze.
Depois de uma paragem, a norte-americana está de volta e é, desde logo, uma das principais atrações desta edição, um feito enaltecido, diz Filipa Martins, pela forma como o conseguiu.
“Só o facto de ter voltado para mais uns Jogos, querer fazer o que não conseguiu em Tóquio2020, mostra toda a garra e resiliência que tem, o querer ainda mais do que já fez. Sem ela, não será a mesma coisa, seja nuns Jogos como noutras competições”, elogia.
De resto, uma das principais referências desportivas nacionais congratula-se com o crescimento entre os mais novos numa das modalidades em que Portugal tem somado ‘pergaminhos’ nos Jogos Olímpicos, mas deixa um alerta para lacunas no apoio e nos recursos disponibilizados.
“Temos vindo a crescer cada vez mais nos escalões mais novos. Há um longo percurso pela frente, não só para atletas e treinadores, mas de coisas que precisamos para a nossa modalidade. Psicólogos, fisioterapeutas, médicos, que acompanhem os escalões mais novos, porque a nossa modalidade começa muito cedo”, aponta.
Entre as recomendações, fica uma geral, dado que “ainda falta toda uma estrutura por detrás que apoie desde mais cedo” os pequenos talentos, mesmo que tenham conseguido crescer sem isso.
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