Sílvio Criciúma, treinador com passagem por Goiás e Criciúma na Série A e antigo defesa central nos mesmos clubes, chegou em fevereiro ao Central, equipa de Pernambuco, para jogar na Série D, a quarta divisão do Brasil.
Sendo apenas possível disputar 12 jogos até à paragem da competição devido à pandemia, o percurso até então foi positivo: três vitórias, oito empates e uma derrota. Só que essas vitórias foram alcançadas para o campeonato estadual. Para a Série D, o campeonato principal, só venceu pela primeira vez este fim de semana.
Entretanto, o Central vive mergulhado numa crise financeira, agravada pela queda de receitas deste ano, e sem pagar salários, o clube vive uma situação de caos interno, com divergências entre diretores. E Silvio foi demitido antes mesmo de o campeonato começar, mas foi defendido pelos jogadores, que ameaçaram deixar o clube. Com mais de 3 meses de salários em atraso, eles conseguiriam, nos tribunais, a rescisão dos contratos. Assim, a direção recuou na decisão.
A última demissão aconteceu após cinco empates a contar para a Série D. Na altura, 15 jogadores, incluindo a equipa titular, reuniram e juntos recusaram a viajar para o jogo contra o Freipaulistano. E Silvio foi novamente readmitido.
"Quero comunicar aos amigos, imprensa e a torcida centralina, o facto desagradável ocorrido no dia de hoje. Fui demitido pela terceira vez num período de 40 dias. Estou me sujeitando a essas situações pelo envolvimento que tenho com todos aqueles que querem o bem do Central, que enxergam no meu trabalho a possibilidade de conquista do acesso. Trabalho baseado, somente e unicamente, na transparência e lealdade para com todos. A minha terceira readmissão foi especial, foi realizada pelos atletas, aqueles que dividem sonhos e objetivos comigo todos os dias. Agradeço a comissão técnica pelo apoio, os adeptos pelo carinho, e parte da direção que me apoia. Sigo firme, dormindo com a consciência tranquila, acreditando que fazer o bem, faz bem e atrai o bem", revelou o treinador numa nota oficial.
Então, finalmente, após toda esta tormenta, o incansável Silvio Criciuma conseguiu a primeira vitória, neste último fim de semana, por 4-0 contra o Coruripe e repetiu o feito, esta quarta-feira, ao vencer a mesma equipa por 2-0. Assim, chegaram ao 3.º lugar no grupo e estão na luta para avançar para a próxima fase. Isto é, feitas as contas finais, somam agora 12 pontos (duas vitórias e seis empates em oito jornadas).
Neste meio tempo, entre a última demissão e as vitórias, mais dois factos curiosos abalaram o ambiente do clube. Primeiro, o clube chegou a anunciar o espanhol Jesus Baleato para um cargo na gestão do futebol, mas este ficou apenas algumas semanas e regressou à Europa a dizer que não encontrou condições para trabalhar. Contudo, os jornalistas que acompanham o clube afirmam que ele tinha chegado para assumir o cargo de treinador, no lugar do “indemitivel” (perdão pelo neologismo) Sílvio Criciuma.
E, antes de voltar a vencer, os jogadores ainda fizeram uma greve de treinos e afirmaram que não entrariam em campo até receber os salários, que foram pagos a tempo de mudar a maré de empates. Agora, embalado pelos resultados, o Central sonha com a classificação para a próxima fase da Serie D para lutar pelo acesso à segunda fase, a eliminar.
Uma coisa não se pode negar, este grupo de jogadores está comprometido com o projeto do treinador, que apesar de tudo, mostra muita resiliência para seguir à frente do clube pernambucano.
Uma história ao mesmo tempo bizarra e encantadora dos rincões do Brasil. Uma amostra de que a desorganização que vemos nos clubes grandes não é diferente nos pequenos, mas de que ainda há muito amor pelo jogo.
(Artigo atualizado às 15:55 de sexta-feira, dia 23 de outubro)
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