Onde estavas tu quando o Éder marcou? A pergunta começou a ganhar vida logo a 10 de julho de 2016, dia em que o avançado português, com um pontapé fora da área, deu o título de campeão europeu a Portugal, na final de Paris, no Stade de France, diante a França.
Quase todo um país sentado do sofá perspetivou, a posteriori, instantes depois, que o herói improvável seria o mais provável protagonista de uma bela história iniciada no segundo imediato após a substituição do lesionado Cristiano Ronaldo. "Eu disse que ele ia marcar mal o vi entrar", é uma frase que escorrega sem hesitação da boca dos mais variados entendidos em futebol numa sentença declarada ainda as redes não tinham parado de abanar.
Um ano e um dia depois do previsto, o Euro 2020 arranca esta noite, 11 de junho de 2021. Sem Éder. Roma, a cidade eterna, acolhe o pontapé de saída (entre a Turquia e Itália, 20h00) de uma competição única que marca um pouco de regresso à normalidade da vida europeia depois de longos meses a viver debaixo de uma crise pandémica. Wembley, em Londres, será o palco da final.
Pelo meio, de Sevilha (Espanha) a São Petersburgo (Rússia), de Bucareste (Roménia) a Budapeste (Hungria), onde Portugal jogará duas partidas na fase de grupos, 11 cidades de 11 países acolhem 51 jogos de 24 seleções. Tudo transmitido em “bar aberto” pela Sport TV, detentora dos direitos televisivos que, por sua vez, assinou uma parceria com a SIC, RTP e TVI, possibilitando que estes canais possam transmitir as partidas em simultâneo ao canal de desporto codificado.
A dimensão continental obriga a viagens pelo Velho Continente, uma mais longas que outras, sendo a distância da capital andaluz até Baku (Casaquistão), banhada pelo Mar Cáspio, a maior: mais de 6 mil quilómetros.
Este Euro2020 foi idealizado pelo antigo presidente da UEFA, Michele Platini, com intuito de celebrar o 60.º aniversário da competição entre seleções (o primeiro Europeu foi realizado na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, em 1960) mas foi adiado um ano devido à pandemia de Covid-19. Porém, o peso da logística inerente leva a que seja a primeira e última experiência, assume Aleksander Ceferin, atual líder do futebol europeu.
Ajoelhar ou não ajoelhar. Inglaterra coloca um joelho na relva, Croácia, não
A menos “sexy” efeméride dos 61 anos reduziu o número inicial de palcos, colocando fora de jogo, primeiro Bruxelas, e posteriormente Bilbao (Espanha) e Dublin (Irlanda) por falta de garantias quanto à presença de adeptos nas bancadas. São Petersburgo e Londres viriam a entrar em campo.
O público no interior dos estádios foi sempre desejo de quem rege o futebol europeu, tendo delegado em cada país e cidade a decisão da lotação permitida, a variar entre 25% e 100% da capacidade dos estádios.
Os fãs estarão de regresso ao longo do mês. O Puskas Arena, em Budapeste, fechará as portas quando se sentarem (espera-se) 68 mil espetadores. Wembley tem 22.500 lugares marcados para o jogo inaugural.
Face às restrições de público e à situação atual, a esmagadora maioria dos adeptos vai optar por ficar em casa a apoiar as suas cores em vez de entrarem num gigante tour pela Europa.
Para além do receio do novo coronavírus (dois jogadores espanhóis testaram positivo, já em estágio, Sergio Busquets e Diego Llorente) há um tema a suspirar no ar: ajoelhar ou não ajoelhar? A origem deste gesto remonta ao verão de 2016, quando o ex-‘quarterback’ dos San Francisco 49ers, o afro-americano Colin Kaeernick, ajoelhou — e assim provocou um escândalo nacional — em sinal de protesto contra os assassinatos de vários negros à mão de polícias brancos.
Em 2021, é uma questão que divide seleções e os 26 jogadores que compõem cada qual. Por exemplo, a Croácia e Escócia manter-se-ão de pé, enquanto a Inglaterra colocará um joelho no relvado, uma manifestação que já valeu protestos do público inglês nos jogos particulares.
Dos 26 jogadores, 11 repetem 2016. Dois jogos na casa do adversário, Budapeste e Munique
A 16.ª edição do Europeu de futebol é a oitava prova europeia de Portugal, a sexta consecutiva, uma sequência inaugurada quatro anos antes da viragem do século (1996).
É também a sexta competição de Fernando Santos. No legado de 84 jogos ao serviço de Portugal, o “engenheiro” de 66 anos ergueu dois troféus europeus: Euro2016, em França, e a Liga das Nações, em 2019, por sinal, os únicos troféus conquistados por Portugal até à data. Na contabilidade entram ainda uma Taça das Confederações, em 2017, um Mundial (Rússia 2018) e mais uma Liga das Nações (2020-2021)
Dos campeões europeus de França, 11 jogadores mantêm-se nas escolhas do selecionador. Rui Patrício, Anthony Lopes, Pepe, José Fonte, Raphael Guerreiro, Danilo, William Carvalho, João Moutinho, Renato Sanches, Rafa e Cristiano Ronaldo. De fora ficaram os outros 12 campeões, entre os quais, à cabeça, o tal herói do Stade de France, Éder, além de Ricardo Quaresma, João Mário ou André Gomes.
Dos 26, apenas seis jogadores jogam em clubes portugueses. Palhinha, Nuno Mendes e Pedro Gonçalves (Sporting), Pepe e Sérgio Oliveira (Futebol Clube do Porto e Rafa (Benfica). O clube inglês, Wolverhampton, agora orientado por Bruno Lage, é o clube mais representado (4) e a Inglaterra é o maior fornecedor de jogadores: seis. Espanha e França (4), Alemanha (2) e Itália (será a 11.ª fase final de Cristiano Ronaldo) acrescentam nacionalidades aos “cromos” portugueses.
Portugal está integrado no Grupo F. Defronta a Hungria, Alemanha e França — com a particularidade de o 11 nacional defrontar duas seleções que jogam literalmente em casa. Dia 15, na estreia contra os magiares, e a 19, diante a seleção alemã. Um sorteio pouco abonatório em relação à existência de princípios de equidade na competição. Regressam à capital húngara para enfrentar a 23 a França, finalista vencida na Europa em 2016 e campeã mundial dois anos depois.
Se passar a fase de grupos, são quatro as cidades em equação para o “mata-mata” dos oitavos de final: Bucareste, Budapeste, Londres e Sevilha. Na fase seguinte, São Petersburgo e Baku, as cidades mais a Leste da Europa, Roma ou o regresso a Munique. Tudo dependerá do que se passar em campo. No fim, Londres será a “casa” caso chegue às meias-finais e final.
Favoritos? França, Itália, Alemanha, Bélgica, Inglaterra, Espanha e Portugal. Mas esta será também uma competição que será feita também fora de campo e restrita a duas marcas. Ou antes, três, por culpa da Itália (Puma). O resto será um duelo Nike-Adidas, responsáveis por vestirem 70% das seleções. Nove para a empresa americana, oito para a alemã. As três riscas vestem alemães, espanhóis e belgas, enquanto a representação da asa da deusa grega da vitória equipa franceses, ingleses e portugueses.
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