Torcer por jogadores ou ter clubes europeus como seus favoritos. O que era visto como algo estranho ou excêntrico há alguns anos é a realidade para muitos no Brasil de hoje. É só olhar para as discussões nas redes sociais. A equipa do momento é o Neymar FC. O jogador centraliza a discussão futebolística no Brasil e vemos fenómenos como bares cheios de adeptos do PSG. Entre eles, quase nenhum francês.
Desde que a TV por subscrição passou a dar mais espaço ao futebol internacional, o brasileiro, principalmente de classe média e alta, começou a ter mais interesse pelos clubes europeus. Assistir ao Milan, com Kaká em alta, ou aos "galácticos" do Real Madrid era uma delícia, tal como ver Ronaldinho Gaúcho alinhar pelo Barcelona. O futebol internacional popularizou-se muito nesta época, mas hoje ainda mais.
Os jogadores são parte cada vez mais ativa do conteúdo. Neymar é excelente no marketing nas suas redes sociais. As suas aparições públicas mobilizaram a atenção dos adeptos e, apesar de dividir opiniões entre quem o ama ou odeia, o jogador está na boca do povo. Só se fala de Neymar no Brasil e a Liga dos Campeões é o novo Campeonato do Mundo.
Seria bom se os clubes brasileiros tivessem poderio económico e técnico para bater de frente com as potências europeias? Seria, e muito. Mas isso não vai acontecer tão cedo. Enquanto o futebol brasileiro naufraga em dívidas e más administrações, os seus principais talentos saem cada vez mais cedo do país e viram destaques internacionais. Carismas como o de Richarlison são desperdiçados em Evertons da vida e é cada vez mais normal ouvir de um jovem recém-chegado a uma equipa profissional que sonha em jogar no Barcelona ou nos grandes de Manchester.
Foi-se o tempo em que o sonho era ser campeão no Maracanã ou jogar no Corinthians. Isso, aliás é cada vez mais acessível com os planteis das equipas fracos e cheios de jovens ou de jogadores em fim de carreira. O auge do bom jogador acontece fora do Brasil.
E não é preciso olhar muito para trás para nos lembrarmos de como a vida era diferente. Na equipa campeã do mundo em 2002, com Scolari, eram 13 os que atuavam no Brasil. Na edição de 2006 foram apenas três os convocados.
Quando a minha geração, hoje nos seus 30 anos, começou a gostar de futebol, via seus ídolos de perto. Torcia pelos Raís, os Rogério Cenis, os Marcelinhos, os Violas, os Edilsons, os Edmundos, os Romários. Hoje, o meu sobrinho de oito anos tem uma camisola do PSG, uma da Juventus e uma do Barcelona. Tem uma do São Paulo porque se diverte a torcer pela equipa com o pai, mas aposto que não gosta muito de nenhum jogador.
O Brasileirão voltou há duas semanas e não empolga ninguém. Um futebol fraco, conceitos ultrapassados, jogos feios e muita hipocrisia ao defender uma competição equilibrada, mas de baixo nível técnico. Se não melhorar o seu produto (palavra comum no futebol dos novos tempos) verá a sua geração de consumidores envelhecer sem que uma nova surja com a mesma força. Ficará em segundo plano para algum brasileiro que brilhe nos campos do primeiro nível do futebol mundial.
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