Rituais. Superstições. Não importa que nome lhes é dado, multiplicam-se as histórias e mitos sobre desportistas que não prescindem deles antes de competir. A de Michael Phelps é das mais reconhecidas. Caminha até ao bloco, retira os auscultadores, gira os braços três vezes, sobe para o bloco e, na maior parte das vezes, ganha uma medalha.
Há atletas que procuram o isolamento e utilizam esse refúgio para se prepararem mentalmente antes de enfrentarem os seus desafios, enquanto outros ouvem música. No Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, a equipa de luta greco-romana dos EUA, para bater os seus rivais, resolveu adotar uma nova estratégia. Nos auscultadores dos atletas não ecoa hip-hop, eletrónica ou música country. A escolha recaiu em música escrita por inteligência artificial, desenhada especialmente para conseguir a melhor das performances durante o período de competição.
A música, criada pela Brain.fm, uma plataforma musical, combina neurociência e musicologia, e oferece a quem a ouve “estados de espírito”. Em entrevista à Newsweek, o treinador da equipa, Matt Lindland, explica que descobriu este método depois de procurar exaustivamente uma solução para regularizar o sono dos membros da equipa. Neste contexto, abordou o jornalista científico Steven Kotler, que lhe recomendou este tipo de música, por ser segura, saudável e eficaz para conseguir um alto rendimento desportivo.
“Os nossos atletas estão a dormir e a recuperar melhor para os treinos do dia seguinte”, assegurou Lindland. “Dormir bem é essencial para que os atletas recuperem da melhor forma depois de exercícios exigentes, e esta era uma das coisas que queria alcançar antes e durante o Rio 2016".
As composições criadas através de inteligência artificial têm em conta as ondas cerebrais e visam transmitir calma, promover a concentração e o repouso. A Brain.fm descreve a sua plataforma músical como o “mais avançado mecanismo de inteligência artificial do planeta”, tendo por base 13 anos de pesquisa em auditórios de neurociência.
Para compor as músicas, a plataforma utiliza um “songbot” que funciona como um maestro para controlar centenas de “notebots” que lidam com os diferentes instrumentos. Em conjunto, os dois tipos de bots compõem a base da música, alinhando batidas e instrumentos. Isto é, compõem música para diferentes estados de espírito, consoante o propósito do utilizador.
Segundo um porta-voz da plataforma, o que esta faz é criar um ritmo que respeita os estímulos já existentes no cérebro.
Robby Smith, capitão de equipa, diz que as músicas criadas através de inteligência artificial são utilizadas essencialmente em momentos de preparação, e que a qualidade do repouso melhorou significativamente desde que utilizam este método. Antes de usar a plataforma, Smith usava melatonina para o ajudar a dormir, apesar de todos os efeitos secundários que advém da substância (sonolência diurna, tonturas, irritabilidade).
“Oiço a sessão de concentração antes dos treinos para colocar a minha mente em modo competitivo. Depois dos treinos, uso a sessão de relaxamento para me ajudar nos exercícios de respiração e me acalmar”, contou Smith.
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