A história envolve devoção clubística, altruísmo e um autocarro. Resumidamente, conta-se em três atos e da seguinte forma.
Envolve 50 adeptos do Liverpool. Tem na génese uma promessa feita por um apoiante especial, que tudo fez para que os outros assistissem à final da Liga dos Campeões. Reuniu detalhes que juntam aventuras e desventuras de um autocarro, ou antes, dois, uma viagem de ferry — que levou os fãs da equipa de Jürgen Klopp a saírem de Liverpool, atravessarem o Canal da Mancha e entrarem em Paris, palco da final da mais importantes competição europeia de clubes, para verem o jogo que opõe o onze inglês aos galácticos do Real Madrid.
Entremos nos pormenores desta história, que parecia simples mas que se revelou complexa.
A meia centena de adeptos dos Reds partiu na passada 5.ª feira de Anfield Road, “casa” do Liverpool, a caminho do Stade de France para assistir à Final da Liga dos Campeões.
Simon Wilson, fã do Liverpool e youtuber, patrocinou a caravana de apoio. Para fazer face aos elevados custos de transportes sentidos por quem queria deslocar-se até à capital francesa (combustíveis, passagens aéreas, de barco e rent a car) adquiriu um velho autocarro, matriculado há 22 anos, “o mais barato do Reino Unido”, para transportar os tais adeptos, por estrada, até Dover, para entrarem no ferry até Calais (França) e prosseguir viagem até Paris, pelo preço de uma libra cobrada a cada passageiro.
Até aqui, tudo bem, tudo parecia perfeito e em tons rosa, ao ponto de merecer os destaques na imprensa britânica — por este gesto altruísta de quem, em 2019, tinha comprado um carro, um Skoda, por 40 libras, para assistir a uma outra final, a Liga dos Campeões, em Madrid, entre o Tottenham Hotspur FC e o Liverpool Football Club (LFC).
Mas, como há sempre um "mas" pouco dado a boas notícias, o caricato e o imprevisto tomaram conta desta aventura logo nos primeiros quilómetros. Saídos de Anfield (Estádio) para Melwood, antigo campo de treinos dos LFC (1950-2020), “parecia uma sauna. Não havia ar condicionado e já estávamos a suar”, garantiu Simon Wilson ao Liverpool Echo.
Pingas de suor à parte, os problemas não ficaram por aqui. Levantaram-se dúvidas sobre a validade do seguro feito — se seria válido na Europa Continental — e se estariam dissipadas assim que chegassem a Dover, porta de entrada no Canal da Mancha, estreito marítimo que liga Inglaterra a França. Questões climáticas adensaram ainda mais o ambiente de incerteza do resto da vida dos 50 adeptos + 1 (o altruísta adepto que se deslocou no carro comprado há três anos). O protocolo climático de Paris – Zonas de Emissão Baixas – não autoriza a entrada do meio de transporte escolhido.
Porque não “havia outra opção senão ir a Paris”, Simon Wilson puxou um Plano “B”.
Decisão 1: deixar para trás o velho autocarro numa estação de serviço da M6 (na autoestrada). Decisão 2: “Encontrei outro autocarro que cumpria os critérios de Paris”, disse, sem olhar a meios para assumir este custo extraordinário. Transportados até uma estação (Lymm services), no Condado de Cheshire, daí foi só ir “até ao sul”, adiantou.
Problema resolvido, pensará o leitor. Ainda não. Nem a vida, nem as viagens são uma linha reta. O drama não abandonou a epopeia de quem queria ver o jogo e de quem prometeu levá-los pelo preço de uma libra. Perderam o ferry devido aos atrasos. Telefonema feito e do outro lado da linha soprou a voz da sorte (finalmente) e embarcaram na última vaga horária. “Chegámos a um pequeno hotel no meio do nada em França, às 4h00”.
Agora sim. Um final feliz. Apesar dos atrasos e dos custos extra, Simon Wilson, altruísta adepto do Liverpool, manteve a promessa feita. “No final do dia, o capitão afunda-se com o navio, logo eu não abandono o autocarro em que estamos agora, apesar de ter preferido vir no outro”, finalizou, assumindo “ter ficado falido”.
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