Os três pontos da Assembleia Geral (AG) do Sporting Clube de Portugal mais não foram que uma moção de confiança que Bruno de Carvalho e os restantes órgãos sociais do clube depositaram nas mãos dos associados. Se o que estava em causa, e em discussão, eram alterações de estatutos e a introdução de um regulamento disciplinar, tudo se resumia a um ponto que estava omnipresente nos outros dois: continuidade dos órgãos sociais.
Numa resposta à sempre falada falta de militância de que o presidente leonino se queixa, 6000 associados (números históricos numa AG), desdobraram-se ao longo do dia entre o pavilhão João Rocha e o Multiusos de Alvalade. Ora entravam, ora saiam, conforme a lotação dos espaços assim o permitia, fazendo tentativas de entrada, num e noutro. Até por volta das 18h00, seis horas depois de aberto o período de credenciação, hora em que a entrada para a votação encerrou.
Depois de abertos os trabalhos às 14h33, das palavras de formalidade de Jaime Marta Soares, presidente da Mesa da Assembleia Geral e do discurso de abertura do presidente dos leões, 33 sócios usaram da palavra. Dois episódios de “apupos”, o primeiro do sócio que votou “Não” a tudo e, em especial, a Pedro Marques, membro da banda Supporting, cuja intervenção originou um “sururu” com um grupo restrito de sócios a retirarem-lhe o microfone e que levou mesmo à intervenção do próprio presidente Bruno de Carvalho, que lhe devolveu a “voz”. Fora do pavilhão João Rocha, Carlos Severino sentiu o bafo da ira de alguns associados que o contestaram.
Na espécie de referendo, o “Sim” foi largamente esmagador. Uma aclamação quase por unanimidade, bem expressa nos 89,55% de votos favoráveis à continuidade dos órgãos sociais. As alterações aos estatutos tiveram o aval de 87,3% e as mudanças ao regulamento disciplinar receberam a aprovação de 87,8%, percentagens muito acima da maioria de três quartos exigida pelos estatutos.
“Não comprem jornais desportivos, nem vejam televisão”
Numa AG que entra para a história, mas sem grande narrativa paralela, os associados estavam impedidos de filmar ou fotografar o que se passava dentro de portas. E à saída poucos falaram, talvez já com conhecimento sobre o novo regulamento disciplinar. “What happens in Alvadade, stays in Alvadade”, parece ser um novo slogan de uma liderança que pôs as fichas todas na AG e sai claramente reforçada com o plebiscito.
Se Bruno de Carvalho no discurso de abertura da AG identificou e falou sobre “sportingados”, comentadores e jornalistas desportivos, terminou pondo a pedra no assunto em relação aos primeiros e lançando uma nova frente de batalha que envolve os segundos.
“Que fique claro, a partir de hoje não há grupos, nem grupinhos, há órgãos sociais que têm a honra de vos servir”, acrescentou, dizendo que uma maioria silenciosa passou a “maioria ruidosa”, disse.
Fazendo promessas de ir “menos ao Facebook”, lançou três reptos a todos os associados que têm um denominador comum – um ataque à comunicação social. Pediu para que não comprem mais jornais desportivos, que não vejam qualquer canal de televisão, que não seja a Sporting TV, e que os comentadores afetos ao clube abandonem de imediato os programas que integram.
A ovação foi grande, os trabalhos terminaram com palavras de Bruno de Carvalho que recuperam as palavras inscritas no emblema leonino: “com a vossa confiança, teremos esforço, dedicação, devoção, compromisso, atitude e a glória que vocês merecem”.
Ao som da música “O Mundo sabe que...” os sócios iam saindo do Pavilhão João Rocha, ora mostrando capas do jornal do “Sporting”, ora gritando o nome do clube, ora deixando alguns recados aos jornalistas presentes.
Um pequeno grupo elevou a contestação um patamar acima, passou ao insulto, às tentativas de agressão e ao rebentamento de um petardo, atos que mereceram a rápida intervenção da polícia presente, que criou um cordão de segurança e serenou os ânimos. Até mesmo de um senhor de idade, alto, de bigode, cachecol verde e branco ao peito, de jornal do clube na mão, que repetia insistentemente: “vão-se embora, isto aqui é nosso, isto não é o Benfica”, uma frase que foi dizendo ao longo do dia à porta do pavilhão.
Instantes depois, confrontado pelos jornalistas, Jaime Marta Soares, presidente da Mesa da Assembleia Geral foi lapidar: “Se aconteceu isso, e não tive oportunidade de ver, é uma situação desagradável, mas são momentos de nervosismo à flor da pele, não é essa a imagem que queremos passar”, rematou.
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