No âmbito do Conselho Executivo da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), o chefe de Estado ucraniano interveio através de uma mensagem de vídeo aos 58 Estados-membros, para formalizar a candidatura.

Odessa, uma cidade portuária no mar Negro, famosa principalmente por suas escadarias monumentais e o seu centro histórico, tem sido um ponto estratégico no conflito desde o início da invasão russa da Ucrânia, tendo sido bombardeada várias vezes por Moscovo.

"Devemos enviar um sinal claro de que o mundo não fechará os olhos para a destruição da nossa história comum, da nossa cultura comum, da nossa herança comum", sublinhou Zelensky.

"Um dos passos deve ser a preservação do centro histórico de Odessa - uma bela cidade, um importante porto no mar Negro e uma fonte de cultura para milhões de pessoas em diferentes países”, acrescentou.

O governante explicou que enviou um dossiê da candidatura para a UNESCO, cuja sede fica em Paris, apelando também ao apoio deste organismo da ONU para “mostrar que o terror russo deve acabar”.

Zelensky adiantou ainda que já foram danificados “540 objetos de património cultural, instituições culturais e monumentos religiosos” por bombardeamentos russos desde o início da guerra.

A diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay, apontou, em comunicado de imprensa, que "o centro da cidade portuária de Odessa, um caldeirão de trocas e migrações, foi construído graças a múltiplas influências” e que “carrega uma herança e uma história que ressoa em todo o mundo e é um símbolo forte".

O processo de candidatura será avaliado “a partir da próxima sessão do Comité do Património Mundial” que terá “a responsabilidade de decidir sobre esta candidatura”, acrescenta a nota de imprensa.

Até ao momento esta sessão ainda não tem data marcada, pois devia ter ocorrido em julho na Federação Russa, mas foi adiada devido ao conflito na Ucrânia.

Em termos jurídicos, a inclusão do centro histórico de Odessa na Lista do Património Mundial estabeleceria "uma zona de proteção alargada ao abrigo da Convenção da UNESCO para a Proteção do Património Mundial de 1972", sublinhou ainda o organismo no comunicado.

“Nos termos desta Convenção – da qual a Ucrânia e a Rússia são signatárias – todos os Estados-membros comprometem-se a contribuir para a proteção dos sítios inscritos e, além disso, são obrigados a não tomar deliberadamente quaisquer medidas que possam danificar direta ou indiretamente esse património”, vincou a UNESCO.

Além disso, “a inscrição na Lista do Património Mundial em Perigo abriria também o acesso a mecanismos de assistência internacional de emergência, técnica e financeira, com o objetivo de reforçar a proteção do bem e ajudar na sua reabilitação”.

O organismo da ONU indicou também que, em toda a Ucrânia, "até à data, nenhum dos locais culturais ucranianos que beneficiam da proteção da UNESCO sob a sua inscrição na Lista do Património Mundial foi bombardeado".

Volodymyr Zelensky agradeceu à UNESCO pelas suas ações, mas exigiu também que a Rússia seja "excluída de todos os órgãos da UNESCO e da própria organização".~

"Caros defensores do património educacional, científico e cultural da humanidade, por favor, digam-me por que os representantes da Rússia ainda estão entre vocês? O que estão a fazer na Unesco?", questionou o Presidente ucraniano.

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia já causou a fuga de mais de 13 milhões de pessoas – mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,5 milhões para os países europeus –, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

A invasão russa – justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.