
A procuradora Shannon Lucey apresentou, ao júri de sete mulheres e cinco homens que decidirão o destino do magnata de 73 anos, as acusações das três vítimas que o levaram a julgamento. E lembrou uma frase que as vítimas repetiram: "Ele nunca aceitava um não como resposta".
"Tinha todo o poder, elas não tinham nenhum", disse a procuradora, descrevendo em detalhes os ataques do produtor às suas vítimas. Uma delas, a então modelo polonesa Kaja Sokola, tinha 16 anos.
Enquanto os rostos das vítimas eram exibidos num ecrã no tribunal lotado de repórteres, Lucey relatou as inúmeras exigências de Weinstein por massagens e favores sexuais, que a assistente de produção Mimi Haleyi recusou até um dia, em 2006, quando "estava sozinha" num apartamento com o ex-produtor.
"O réu, três vezes maior (que ela), beijou-a, apalpou e (mesmo que) tendo ela dito que não estava interessada", ele "agarrou-a (...) e empurrou-a para o quarto", onde fez sexo oral, apesar da vítima "implorar para que parasse".
"Quando queria algo, simplesmente agarrava", descreveu a procuradora. "Harvey Weinstein é culpado", repetiu três vezes para cada vítima.
"Este julgamento é sobre o homem mais poderoso da indústria do entretenimento", disse Lucey.
O ex-magnata do cinema está de volta ao banco dos réus no Tribunal Criminal de Manhattan depois de um tribunal de apelações ter anulado, em abril de 2024, uma sentença anterior de 23 anos de prisão por violação e agressão sexual, devido a falhas processuais no julgamento anterior.
"Não culpado", repetiu seu advogado, Arthur Aidala, três vezes, ao pedir ao júri que "visse toda a história" e insistir na linha de defesa do ex-magnata de Hollywood: que suas relações sexuais com as suas acusadoras foram sempre "consentidas".
A única coisa "imoral", na opinião dele, é que "traiu" a sua "maravilhosa" mulher na época.
Após as alegações iniciais, é a vez das testemunhas. Espera-se que as suas três acusadoras prestem depoimento: Mimi Haleyi, a atriz Jessica Mann, que o acusaram de agressão sexual e violação, ocorridos em 2006 e 2013, respetivamente, e Kaja Skola, por uma agressão sexual que teria ocorrido em 2006 em um hotel de Manhattan.
"Um novo olhar"
Diagnosticado com leucemia, problemas coronários graves, diabetes, fortes dores nas costas, entre uma longa lista de doenças que o levaram a ser hospitalizado várias vezes nos últimos meses, o co-fundador dos estúdios Miramax compareceu ao tribunal numa cadeira de rodas.
O juiz de instrução Curtis Farber espera que o julgamento seja concluído no final de maio.
Weinstein espera que o caso seja "visto com um novo olhar", quase oito anos após as investigações do New York Times e da revista New Yorker que provocaram a sua queda e o nascimento do movimento #MeToo, considerado como o momento de libertação da palavra de muitas vítimas contra abusos sexuais, em particular no ambiente de trabalho.
Detido na prisão de Rikers Island, produtor de sucessos como "Sexo, Mentiras e Videotape", "Pulp Fiction" ou "Shakespeare Apaixonado", Weinstein cumpre atualmente outra condenação de 16 anos, imposta por um tribunal de Los Angeles por violação e agressão sexual em 2013 contra uma atriz europeia.
Descrito pelas suas acusadoras como um predador que utilizou a sua posição de criador de carreiras na indústria cinematográfica para obter favores sexuais de atrizes ou assistentes.
Mais de 80 mulheres acusaram-no de assédio, agressão sexual ou violação, entre elas atrizes consagradas como Angelina Jolie, Gwyneth Paltrow e Ashley Judd.
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