Na opinião de Luís Marques, que aproveitou o início da tarde para apanhar sol num banco do Rossio, “foi uma vergonha o PSD deixar-se perder assim desta maneira”.
“Nunca pensei. Isto está a virar para o torto. Acabou o ‘cavaquistão’”, declarou à agência Lusa o idoso, antigo funcionário dos Caminhos de Ferro, que é simpatizante do PSD.
Joaquim Ramirez, que sempre foi “mais pelo PS”, apesar de nunca se ter filiado, disse a Luís Marques, em jeito de consolo: “Viseu precisava de mudar, tinha de se por fim ao ‘cavaquistão’”.
PS e PSD conseguiram eleger quatro deputados cada um no distrito de Viseu, tal como tinha acontecido em 2019, mas desta vez foram os socialistas a comemorar a vitória.
O PS, que voltou a apostar em João Azevedo para encabeçar a lista, obteve 41,55% dos votos, enquanto o PSD conseguiu 36,79%, num distrito que ganhou o epíteto de “cavaquistão” graças às maiorias absolutas conseguidas no tempo de Cavaco Silva.
“Fiquei muito surpreendido, porque Viseu normalmente vota PSD. Nunca pensei que o PS ganhasse a nível distrital”, admitiu Delfim Almeida, que aproveita os tempos mortos na drogaria que herdou do pai para se colocar a par das notícias, seja em papel, seja através do computador.
No seu entender, “o ‘cavaquistão’, um nome que ficou há 20 anos, é uma nódoa que dificilmente sairá” e que “nunca foi muito favorável” ao distrito.
“Embora Viseu desse as maiorias ao PSD, ao nível do investimento nunca teve grandes proveitos. Tinha a fama de ser o ‘cavaquistão’, mas não tinha o proveito”, lamentou.
Por isso, Delfim Almeida ficou “razoavelmente satisfeito por ter acontecido a vitória do PS”, partido do qual já foi militante e continua simpatizante.
“Há uns que na política são voláteis, que também são importantes. Aliás, esta maioria deu-se graças aos que são voláteis. Mas eu sou um homem de paixões”, sublinhou.
Para Delfim Almeida, a vitória do PS ficou a dever-se à manutenção da mesma lista de 2019, encabeçada por João Azevedo, antigo presidente da Câmara de Mangualde, que foi candidato à presidência da Câmara de Viseu nas últimas eleições autárquicas.
O mesmo pensa Joaquim Ramirez, que mora em Mangualde mas se desloca muitas vezes a Viseu, e que disse conhecer bem João Azevedo.
“Ele esteve muito tempo na Câmara de Mangualde e tem a sua influência”, afirmou, considerando que, apesar de João Azevedo ter perdido as autárquicas para Fernando Ruas (PSD), os eleitores terão confiando nas suas propostas para o distrito.
Já Luís Marques não conhecia os integrantes da lista do PSD: “Hugo Carvalho? Nunca tinha ouvido falar”.
“Só digo que [este resultado] é uma vergonha, porque sou do PSD e gostava que o PSD ganhasse. Cada um tem a sua opinião, mas eu não gosto do [Rui] Rio, gostava mais do [Paulo] Rangel. Deviam ter mudado [de líder do partido]”, acrescentou.
Desde 1976, esta é a segunda vez que o PS vence no círculo eleitoral de Viseu. Este partido tinha um único registo de vitória neste distrito, em 2005, quando alcançou 40,41% dos votos e quatro mandatos, tantos como o PSD, que conquistou 40,18% do eleitorado (com menos 495 votos), enquanto o CDS-PP elegeu um deputado, com 8,63% da votação.
João Azevedo estará acompanhado no Parlamento por Lúcia Araújo Silva, José Rui Cruz e João Paulo Rebelo, exatamente os mesmos nomes que tinham sido eleitos nas legislativas de 2019.
Nos 24 concelhos de Viseu, o PS ganhou em 17, incluindo a capital de distrito. O PSD saiu vitorioso nos concelhos de Armamar, Castro Daire, Oliveira de Frades, Sátão, Sernancelhe, Tarouca e Vila Nova de Paiva.
Para estas eleições, o PSD apostou na mudança, com uma lista encabeçada por Hugo Carvalho, que era deputado da Assembleia da República desde 2019, pelo círculo do Porto. De fora ficou o líder distrital do PSD, Pedro Alves, que nas últimas diretas apoiou Paulo Rangel.
Além de Hugo Carvalho, o PSD terá na Assembleia da República a representar o distrito de Viseu António Guilherme Almeida, Cristiana Ferreira e Hugo Maravilha.
* Por Ana Ferreira, da agência Lusa
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