Numa carta hoje divulgada pelo diário “El Mercurio”, os três recordam que esta semana o arcebispo de Santiago, Ricardo Ezzatti, ficou em silêncio perante o procurador que o citou para depor como réu no alegado encobrimento de abuso sexual.
“Esta atitude de colocar obstáculos para investigar a verdade, opõe-se, em primeiro lugar, ao direito das vítimas de ver a justiça ser feita”, lamentaram Murillo, Hamilton e Cruz na sua carta.
As três vítimas de Karadima disseram ainda que as ações da Igreja também se opõem ao chamamento do papa de “cooperar com a justiça e ter tolerância zero para o abuso e encobrimento”.
No Chile, de acordo com um relatório publicado no final de agosto, há 119 investigações em curso contra 167 pessoas relacionadas com a Igreja e 178 vítimas identificadas, 79 das quais menores quando os casos ocorreram.
Em 28 de setembro, o papa Francisco reduziu à condição de leigo Fernando Karadima, um carismático ex-padre chileno condenado por pedofilia num caso que ensombrou a viagem do pontífice argentino ao Chile, em janeiro.
“O santo padre tomou esta decisão excecional em consciência e para o bem da Igreja”, explicou o Vaticano em comunicado.
Fernando Karadima, atualmente com 88 anos, foi condenado pela justiça chilena por atos de pedofilia em 1980 e 1990.
Paralelamente, foi também condenado em 2011 pela justiça religiosa a retirar-se para “uma vida de oração e penitência”, na sequência de um procedimento canónico no Vaticano.
Em abril de 2011, a igreja do Chile pediu perdão por todas as agressões sexuais a crianças cometidas por membros do clero e pela falta de capacidade de resposta.
O caso ressurgiu em 2015, com a decisão de Francisco nomear Juan Barros bispo de Osorno quando era suspeito de encobrir os abusos de Fernando Karadima.
Durante a visita ao Chile, no início do ano, o papa argentino tomou a defesa de Barros, reclamando “provas” do seu envolvimento, antes de se desculpar.
No final de abril, Francisco recebeu no Vaticano três vítimas de Fernando Karadima, antes de convocar, em meados de maio, todos os bispos do Chile, para três dias de reflexão, após os quais todos se demitiram.
Depois, o papa aceitou sete das demissões, entre as quais a de Barros e as de vários bispos diretamente suspeitos de abusos sexuais.
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