A capela de Santa Luzia, na localidade de Vila Nova, numa das entradas da cidade de Vila Real, estará de portas abertas no domingo, mas no recinto não serão este ano instaladas barraquinhas, para evitar ajuntamentos de pessoas.
O presidente da Junta de Folhadela, Manuel Libório, disse hoje à agência Lusa que, por causa da covid-19, a festa não pode ser igual, o que acontece pela primeira vez desde que se recorda.
Maria José Seixas trabalha no setor da hotelaria e ganha um “dinheiro extra” com a venda de pitos, cuja procura aumenta nesta altura do ano, embora seja já um doce procurado durante todo o ano.
Manda a tradição que, no dia de Santa Luzia, a 13 de dezembro, a rapariga ofereça o pito ao rapaz que, em fevereiro, retribui com a gancha.
Maria José sabe que, por causa da pandemia, as pessoas fecham-se mais em casa e em 2020 não vai fazer a mesma quantidade de pitos dos anos anteriores.
Em 2019, levou “mais de mil pitos” para o recinto da capela e, no fim da missa, já tinha “vendido tudo”.
“Não é tanto como nos outros anos, mas pronto, vai dando. Para domingo já tenho bastantes dúzias encomendadas por quem costuma comprar mas, este ano, não vai à capelinha”, afirmou.
Desde novembro que recebe encomendas, as quais entrega diretamente na casa dos clientes, e aproveita as horas livres para cozinhar o doce, tudo de forma manual, desde o estender a massa, cortar e fazer o recheio, com as abóboras da própria horta.
Aprendeu com os avós e começou a fazer todos os anos para “não deixar cair a tradição”.
O pito, com recheio de doce de abóbora e cobertura de massa de farinha, tem o formato de uma espécie de penso antigo que se colocava na vista.
Santa Luzia é a padroeira dos doentes com problemas de olhos.
Esta tradição começou por ser religiosa e acabou, com o passar do tempo, por ter um cariz popular e são mulheres e homens de todas as idades que aderem à brincadeira.
No centro da cidade, a pastelaria Lapão também se prepara com antecedência para ter tudo pronto para o ritual que está “já enraizado no povo de Vila Real”.
“Como isto é tudo muito manual é preciso haver uma preparação prévia para depois fazer as coisas em condições”, salientou Rosa Cramez.
Esta responsável lembrou, por causa das restrições impostas pela pandemia, a pastelaria tradicional vai fechar às 13:00 no domingo e, por isso, disse esperar que também nos dias a seguir se coma o pito.
“O que não se come no dia de Santa Luzia come-se ao outro dia”, disse, recordando um dito popular.
Para além da venda presencial, este estabelecimento aderiu também ao “take-away' e às entregas ao domicílio, no entanto.
Jorge Mourão, da pastelaria Nova Pompeia, fala de um ano complicado para o negócio por causa da covid-19, mas desafiou a população a cumprir a tradição de Vila Real, para a qual o seu estabelecimento se está a preparar com antecedência.
Nas redes sociais a Nova Pompeia declarou hoje aberta a “época do pito”, referindo contar com a ajuda dos clientes para que o “dia de Santa Luzia não passe despercebido”.
Vila Real integra o grupo de municípios em risco muito elevado de infeção pelo novo coronavírus.
Portugal está em estado de emergência desde 09 de novembro e até 23 de dezembro, período durante o qual há recolher obrigatório nos concelhos de risco de contágio mais elevado.
Segundo o último boletim da Direção-Geral da Saúde (DGS), o país contabiliza pelo menos 5.373 mortos associados à covid-19 em 340.287 casos confirmados de infeção.
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