
No início do mês de abril, Torsten Slok calculou uma probabilidade de 90% do que então designou como "recessão de reajuste comercial voluntário" face às tarifas impostas pelo presidente americano, Donald Trump. Num segundo relatório publicado na semana passada, o mesmo economista-chefe aponta como evidência para as suas previsões o fluxo decrescente de navios porta-contentores da China para os EUA, que considera uma peça na antecâmara da recessão a ter lugar em poucos meses.
Segundo Slok, até meados de maio, o movimento de navios porta-contentores "chegará a uma paralisação" e, no final do mês, a procura por transporte rodoviário também deverá parar. A consequência, defende, chegará aos consumidores que se poderão deparar com prateleiras vazias nas lojas. As empresas, por seu lado, terão queda nas vendas, o que poderá representar despedimentos em retalhistas e empresas de transporte em finais de maio ou início de junho.
É esse o quadro de "recessão voluntária" que estima para junho.
A Apollo Global Management, empresa em que Torsten Slok é economista-chefe, é uma das principais gestoras globais de investimentos alternativos. Fundada em 1990, é uma poderosa gestora de ativos especializada em private equity, crédito e ativos imobiliários, gerindo centenas de milhares de milhões de dólares.
O relatório destaca as "rápidas revisões em baixa" que muitas empresas fizeram nas suas expectativas de lucros desde o anúncio das tarifas do "Dia da Libertação" pelo Presidente Trump a 2 de abril, bem como o facto de que as novas encomendas estarem a cair e os inventários a aumentar.
"A administração herdou uma economia com forte crescimento, 4% de desemprego, contratações positivas e um impulso substancial dos investimentos", escreve Slok. "Mas implementar tarifas extremamente elevadas de um dia para o outro prejudica muitas empresas, particularmente pequenas empresas porque a tarifa tem de ser paga quando as mercadorias importadas chegam aos EUA."
O economista calcula também que aumentar a taxa média de tarifas de 3% para 18% afetará negativamente o PIB dos EUA em quatro pontos percentuais em 2025.
Apesar do cenário, há ainda margem para inverter a situação, defende Torsten Slok, caso os Estados Unidos façam uma negociação com o México e o Canadá em temas como mão-de-obra, capital e recursos naturais. Para a China, sugere que os EUA poderiam manter as tarifas em "automóveis, energia solar e outros grupos de produtos estratégicos", e introduzir outras tarifas gradualmente nos próximos 18 a 24 meses.
Caso contrário, alerta, uma forte desaceleração na economia dos EUA está a caminho.
“Tudo pode acontecer”, diz Trump
O Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA recuou 0,3% entre janeiro e março, a primeira descida em três anos, impactado pelo aumento das importações antes da entrada em vigor das tarifas impostas por Trump.
“Este é um período de transição e penso que vai correr muito bem”, disse Trump à emissora norte-americana NBC News, de acordo com um excerto, divulgado na sexta-feira, de uma entrevista que será divulgada na íntegra no domingo.
Questionado sobre o risco de uma recessão nos Estados Unidos, o Presidente norte-americano respondeu que “tudo pode acontecer”.
“Mas penso que teremos a melhor economia da história do nosso país. Penso que vamos assistir ao maior ‘boom’ económico da história”, disse à NBC News.
*Com Lusa
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