Fernando Soares tem um Porsche amarelo. A mesma cor que um dia Paulo Futre, nos idos anos 80 do século passado, pediu como “prémio de assinatura” ao presidente do Futebol Clube do Porto, Pinto da Costa. Para a época, e durante anos, a escolha monocromática do antigo futebolista e internacional português não deixava rasto de indiferença. Três décadas depois, a tonalidade das máquinas da icónica construtora alemã de Estugarda parecem já não espantar ninguém.
Fernando Soares, não se coibiu de entrar no Autódromo do Estoril ao volante de um recente (2015) Porsche Cayman GT4 com a cor de um canário. Não estava ali para correr numa prova, mas sim para mostrar a sua “bomba” no segundo encontro ibérico da marca.
Num carro com “aspeto desportivo, as cores amarelas despertam mais interesse”, defende Fernando Soares, proprietário de mais “dois Porsche” e orgulhoso da escolha feita. “Acho que os carros têm de ter cores diferentes, e não só pautadas pelas cores escuras, mais conservadoras, preto e cinzento”, assume.
A opção parece começar a fazer escola em Portugal e Espanha. Na 2ª edição do Iberian Porsche Meeting verificou-se ainda assim algum caleidoscópio de cores, bem visível nas máquinas de quatro rodas de cor encarnada, laranja ou azul, que se destacavam nos alinhamentos por categoria ao longo do asfalto. Amarelos, para além de um carro da liderança das provas (leading car), vislumbraram-se apenas mais dois exemplares, um de cada país, Portugal e Espanha.
Numa parada de cerca de 300 automóveis no Circuito do Estoril foi possível conviver com o 356, o 911 Carrera RS América, o icónico Carrera GT ou o 918 Spyder. Vários modelos, dos mais antigos e clássicos aos superdesportivos mais recentes, passando pelos SUV’s (Cayenne e Macan), uns mais discreto e outros com enormes aileron a decorar a traseira, que deliciaram ao longo de um dia a vista dos aficionados dos carros da construtora automóvel sediada em Estugarda e que tem um cavalo rampante (curiosamente tal com a italiana Ferrari) como epicentro do brasão da marca.
Com vários pontos de afirmação “Porsche” ao longo das boxes e do paddock, os mais pequenos tiveram a oportunidade de percorrer um circuito de condução com modelos a pedais, enquanto os mais afoitos sentaram-se ao volante de um simulador. E houve quem pausadamente deliciasse a vista com uma exposição do fotógrafo Fernando Guerra ou viajasse pela história dos modelos num painel.
“Aquele carro é meu”
Daniel Pinho levou ao autódromo um 356c, de cor cinza, do ano de “1964, com 75 cv, 4 cilindros. É um 2+2 lugares”, explica, apontando para o espaço existente atrás dos bancos da frente. Foi comprado “há 6 anos”, informa, acrescentando que guia esta preciosidade “todos os meses”.
Joaquim. “Só Joaquim”, diz timidamente com a cara escondida atrás dos óculos escuros. A marca é “uma paixão antiga". Chegou num GT2 RS, de cor branca, capô preto e interior encarnado. Cheira quase a novo, com matrícula do início do ano, transborda potência e cavalos, mas pisa pela “primeira vez a pista do circuito”, anuncia. Proprietário igualmente de “um Turbo S”, sublinha que esse é para “andar”, enquanto aquele em que se senta no Estoril é de coleção: “É para olhar”, sorri.
Nesta montra de máquinas de sonhos que arrasta proprietários, colecionadores, puristas do volante e simples fãs houve espaço para encontros inesperados. Que o digam Jorge Nunes, proprietário de um 911S (do ano de 1971) que pertencia ao seu pai, Américo Nunes, “campeão Portugal de ralis durante 5 anos” e que foi pela “última vez campeão em 1978” com este 911, e Vasco Alves, a mão que decorou o automóvel. “Mal o vi chegar disse: aquele carro é meu. E o autocolante também”, frisou emocionado, Vasco Alves.
A decoração do carro, algo psicadélica, diga-se, foi tema central da rápida conversa com o dono do carro. “É uma pintura que assenta numa imagem do Mick Jagger (cantor dos Rolling Stones)”, recorda Vasco Alves, apresentando-se como alguém que “andava pelos ralis e fazia estas coisas”.
Aprofundando um pouco mais explicou que o primeiro ponto de ordem de trabalhos era “tirar fotografias do carro, de frente, lado, trás”, em suma, não deixando de lado nenhum dos ângulos. “Antes, as imagens eram cortadas em cartolina, um corte com a tesoura e coladas de forma invertida. Tudo feito à mão com o contorno em vegetal”, continuou. “Este carro deve ter umas 100 letras com nomes e outros escritos. Dava muito trabalho”, recorda.
Fernando Quintas dedicou-se igualmente ao restauro de um 911 SC, de 1983, que já “participou no Le Mans Classic”, para além de inúmeros outros passeios, nota. “A pintura é de origem, tem os matching numbers e nada de extra a não ser o rádio com CD’s”, reforça o dono deste clássico comprado “há 7 anos”.
Já no fim, nas boxes, estava Eduardo Ávila. É o que podemos chamar um verdadeiro “louco” da marca. “Tenho 12”, atira, tendo iniciado a compra “no ano 2000” e finalizado recentemente com a aquisição de um 356.
Para o autódromo do Estoril levou dois Porsche da coleção. De gerações, feitios e cores diferentes: Carrera 2 GTS (2011), de cor branca, e 911 T (1970), de um encarnado bem vivo.
O 911 é a joia da coroa deste colecionador. Comprado em 2011 “em mau estado”, foi alvo de uma verdadeira prova de amor na recuperação. “Desmanchei e montei tudo”, explica. “Um restauro de 40 mil euros”, um valor que “valeu a pena”, finaliza.
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