
Zelensky falou poucas horas depois do presidente russo, Vladimir Putin, ter proposto negociações diretas com a Ucrânia, sem se comprometer com o ultimato de cessar-fogo incondicional de 30 dias proposto pelos líderes europeus com o apoio dos Estados Unidos.
Num tom inusitado, Zelensky afirmou que vê como um "sinal positivo" o facto de Moscovo considerar encerrar a guerra, iniciada há mais de três anos com a invasão russa em 2022, que deixou milhares de mortos e permitiu à Rússia tomar quase 20% do território ucraniano.
"Não faz sentido continuar o massacre por mais um dia sequer. Esperamos que a Rússia confirme um cessar-fogo abrangente, duradouro e confiável, a partir de amanhã, 12 de maio", declarou o presidente nas redes sociais."A Ucrânia está pronta para reunir", disse.
Os dois lados não mantêm negociações diretas desde março de 2022, logo após o início do conflito.
Ao mesmo tempo, Kiev relatou ataques de drones contra a Ucrânia durante a noite deste domingo, logo após o fim de uma trégua de três dias declarada unilateralmente por Moscovo para comemorar o 80.º aniversário da vitória soviética sobre a Alemanha nazi.
Segundo a Força Aérea ucraniana, a Rússia lançou 108 drones, 60 dos quais foram derrubados.
Numa rara demonstração de unidade entre ocidentais, a Ucrânia e os seus aliados europeus emitiram um ultimato a Moscovo no sábado, sob a ameaça de aplicar mais "sanções massivas" se o Kremlin não aceitar.
Sem condições prévias
Na madrugada deste domingo, o presidente russo respondeu propondo negociações "diretas" com a Ucrânia a partir de 15 de maio em Istambul, mas sem "condições prévias", embora tenha evitado responder às ameaças.
No seu discurso matinal no Kremlin, com a presença da AFP, Putin criticou a abordagem de "ultimato" e a "retórica antirrussa" dos aliados europeus da Ucrânia e sugeriu que uma trégua deveria ser acertada com negociações e não antes disso.
O presidente russo pediu "às autoridades de Kiev que retomem as negociações interrompidas em 2022".
Putin não descartou a possibilidade de essas negociações chegarem a um acordo sobre "algum novo tipo de cessar-fogo", mas acrescentou que o objetivo das reuniões deveria ser "eliminar as raízes do conflito".
Com essa expressão, a Rússia frequentemente evoca uma série de recriminações contra Kiev e o Ocidente, que geralmente usa para justificar a invasão. Algumas das suas críticas incluem acusações de "nazificação" da Ucrânia, a sua guinada em direção ao Ocidente e a expansão da NATO.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, confirmou neste domingo a disposição do seu país em sediar as negociações.
Erdogan disse ao presidente francês, Emmanuel Macron, numa conversa telefónica, que "um ponto de virada histórico foi alcançado nos esforços para acabar com a guerra entre a Ucrânia e a Rússia", informou a Presidência turca.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, saudou o que poderia ser "um grande dia para a Rússia e a Ucrânia" e disse que quer "continuar a trabalhar" com ambos os lados para acabar com a guerra, sem comentar se se referia ao anúncio de Putin.
Mais crítico foi o presidente francês, um dos promotores do ultimato à Rússia, que considerou a proposta de Putin "um primeiro passo, mas insuficiente" e o acusou de querer "ganhar tempo".
A chegada de Trump à Casa Branca abalou as coisas, com pressão para encerrar rapidamente o conflito e a sua aproximação a Putin, que, no entanto, até agora rejeitou os pedidos de cessar-fogo.
O Kremlin contentou-se em declarar unilateralmente uma cessação das hostilidades de três dias para marcar o 80.º aniversário da vitória soviética sobre a Alemanha nazi, após um cessar-fogo inicial na Páscoa.
A Ucrânia não aceitou a última trégua russa e exigiu um cessar-fogo de 30 dias. Numa conversa com Trump na quinta-feira, Zelensky afirmou que está disposto a negociar com Moscovo em qualquer formato.
"Mas para que isso aconteça, a Rússia precisa demonstrar que realmente quer acabar com a guerra, começando com um cessar-fogo abrangente e incondicional", reforçou.
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