Ao som de músicas de intervenção, como “Grândola, Vila Morena”, de Zeca Afonso, os manifestantes gritavam palavras de ordem como “Tempo de serviço não é para ir para o lixo” e exibiam cartazes com frases como “Falta de pessoal faz mal à saúde”, “Criação da carreira técnico-auxiliar de saúde já”, “Somos pouco trabalhadores para tantas dores” e “Fartos de espera é hora de lutar”.
Ana Amaral, dirigente da Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas (FNSTFP), que convocou a greve de hoje dos trabalhadores do setor da saúde, à exceção de médicos e enfermeiros, disse à agência Lusa que o Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca (Amadora-Sintra) tem “uma situação diferente” dos outros hospitais.
“Este hospital tem uma situação diferente dos outros porque a federação assinou um acordo coletivo de trabalho com os hospitais EPE [Entidade Pública Empresarial]” ao qual o Amadora-Sintra ainda não aderiu, explicou a dirigente sindical.
Segundo a sindicalista, “uma das reivindicações dos trabalhadores é que a administração [do Amadora-Sintra] adira a este acordo para poderem usufruir dos benefícios que foram ganhos para os outros trabalhadores”.
A trabalhar no Amadora-Sintra desde que este abriu, há 23 anos, Dalila Estevão, chefe administrativa no serviço de urgência, lamentou à Lusa que os trabalhadores não tenham os mesmos direitos dos que trabalham noutros hospitais e relatou os vários problemas com que são confrontados.
“Temos muitas pessoas a fazerem muitas horas extra porque não há pessoal, as baixas prolongadas não são substituídas, e os trabalhadores estão a ser muitos castigados em termos de horas de trabalho”, contou Dalila Estevão.
Por outro lado, “não somos tratados como nos outros hospitais, ganhamos muito menos (…). No fundo queríamos progredir nas carreiras e igualdade aos outros hospitais”, disse Dalila Estevão, sob um forte aplauso dos manifestantes.
Delegada sindical do Amadora-Sintra, onde a greve dos trabalhadores rondou os 92%, Ana Paula Dinis criticou as más condições de trabalho que afetam os auxiliares de ação médica. “Estamos à espera de entrar no acordo coletivo de trabalho para sermos equiparados a todos os outros hospitais porque aqui não temos progressão na carreira há 10 anos, temos o salário mínimo, estamos sobrecarregados de horários”.
“Há auxiliares que chegam a fazer das oito da manhã às dez da noite, já para não falar da falta de pessoal e que muitas vezes somos praticamente obrigados a seguir turno porque temos horas negativas”, disse Ana Paula Diniz, sublinhando que, apesar de dizerem que existe banco de horas no hospital, este é apenas virtual.
A greve dos trabalhadores da saúde está a registar uma adesão entre 80% a 100% a nível nacional, segundo Ana Amaral.
“A greve está a ter uma expressão muito significativa, temos muitos hospitais com uma adesão de 100%, temos os serviços mínimos garantidos, consultas externas fechadas, blocos a funcionar só com urgência e exames de diagnóstico também a serem realizados só em situação de urgência”, disse Ana Amaral.
A greve visa exigir do Governo a satisfação de um conjunto vasto de reivindicações para a melhoria das condições de trabalho e de vida dos trabalhadores da Saúde e a defesa do Serviço Nacional de Saúde.
A revisão das carreiras da saúde, “a justa valorização” da Carreira Especial de Técnico de Emergência Pré-Hospitalar, o fim dos cortes no pagamento das horas de qualidade e do trabalho suplementar, “contra a descentralização de competências na área da Saúde para as Autarquias Locais” e a “aplicação do DL 62/79 a todos os trabalhadores” e o “pagamento do abono para falhas aos trabalhadores que manuseiam valores” são outras reivindicações dos trabalhadores.
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