Envergando cartazes onde se podia ler "Os teclados não pararão", "Manchetes de promessas, salários em atraso" ou "Para que a democracia não morra na escuridão", várias dezenas de trabalhadores da (TiN) (dona da Visão, Exame, Jornal de Letras, entre outros títulos), manifestaram-se para apelarem a "toda a sociedade, aos leitores e anunciantes e também a potenciais investidores" para a situação do grupo.

Em causa estão "títulos históricos que muito têm contribuído para o pluralismo da informação" e que "são viáveis e têm condições para continuarem a ser publicados", afirmou à Lusa Clara Teixeira, que trabalha na revista Visão há 20 anos.

Segundo a também delegada sindical, "a primeira vez que o pagamento dos salários se atrasou foi em final de novembro do ano passado" e desde então a situação tem-se degradado. "Os salários têm sido sempre pagos com atraso, os subsídios de férias e de Natal não foram pagos e até o subsídio de refeição desde junho não nos é pago", apontou.

Por outro lado, Clara Teixeira indica que ao nível das condições de trabalho tem existido "uma degradação contínua", com perda de profissionais, o que tem "dificultado o nosso trabalho".

"Acima de tudo o que pretendemos neste momento é chamar à atenção pública, política e de eventuais investidores para aquilo que é a situação difícil dos trabalhadores", acrescentou da Rui da Rocha Ferreira, da Comissão de Trabalhadores da TiN, vincando que o objetivo é "preservar o maior número de postos de trabalho e de publicações possível".

 "Se não for possível continuar a empresa, pelo menos, que se consiga que alguns títulos ou se possível todos, mesmo que separadamente, possam ter uma nova vida", corroborou Manuel Halpern, que trabalha no Jornal de Letras há 26 anos.

Em declarações à Lusa, o delegado sindical sublinha ainda que é necessário "algum apoio do sistema político", dado que sem ele "é muito difícil viabilizar empresas de comunicação social".

"Há um preconceito em relação aos media com a ideia de que poderá pôr em causa a sua independência", critica.

Também Paula Barroso, que trabalha há quase 24 anos na Visão Júnior, realçou que a concentração é um grito de alerta para a importância dos títulos e sublinha que a Visão Júnior "é há 20 anos a única revista de informação geral para crianças e jovens em Portugal", estando, por isso, a "formar novos leitores".

O protesto contou ainda com jornalistas de outros órgãos de comunicação social, bem como com representantes de partidos políticos, entre os quais a deputada socialista Mara Lagriminha, Francisco Louça e José Soeiro, do Bloco de Esquerda, João Ferreira, do PCP, e Filipa Pinto, do Livre.

A TiN, que detém 16 títulos, entre os quais a Visão, Exame, Exame Informática, Jornal de Letras, Caras, Activa, TV Mais, viu o seu Processo Especial de Revitalização (PER) ser reprovado em 05 de novembro, tendo em 12 de novembro a administração anunciado a sua intenção de apresentar um plano de insolvência. O grupo foi hoje considerado insolvente, tendo o tribunal fixado em 30 dias o prazo para reclamação dos créditos e assembleia de credores para 29 de janeiro, segundo a sentença a que Lusa teve acesso.