“As reivindicações continuam a ser as mesmas, a valorização da carreira profissional, a formação, a questão de ética e segurança. Nada foi resolvido, continua tudo na mesma situação e é por isso que convocamos nova greve”, explicou à agência Lusa Carlos Costa, da Fectrans – Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações.
Desde outubro do ano passado que os trabalhadores da área comercial da Soflusa reivindicam a valorização da carreira de agente comercial, a contratação de novos trabalhadores e a formação em novas aplicações a nível de bilheteira, sendo esta a quarta vez que convocam uma greve.
Em declarações à Lusa em novembro, Carlos Costa avançou que a “divergência” com um dos sindicados que não é subscritor do pré-aviso de greve dificultou as negociações com a empresa, que teria apresentado uma proposta em relação à valorização de carreiras.
Contactada pela agência Lusa, a presidente da Transtejo e Soflusa, Marina Ferreira, revelou que vê esta greve “com enorme preocupação” e que tem “total disponibilidade para encontrar uma solução”.
Segundo a responsável, em junho do ano passado, o Acordo de Empresa foi assinado por todas as estruturas sindicais e que, neste momento, não existindo um processo negocial aberto, “é difícil enquadrar uma reivindicação legítima de valorização salarial de uma carreira específica”.
Quando questionada se a administração teria voltado atrás na proposta apresentada, devido às divergências sindicais, a responsável indicou que “os factos são sempre suscetíveis de muitas interpretações”.
“Nós estávamos a negociar um regulamento de carreiras e manifestamos disponibilidade para, no âmbito desse processo negocial em curso, encontrar uma solução para estes trabalhadores. Infelizmente, os processos negociais têm regras e o que sucedeu é que os sindicatos, exceto os subscritores do pré-aviso, entenderam que essa disponibilidade não faria sentido porque havia um Acordo de Empresa”, explicou.
Em relação às outras reivindicações, Marina Ferreira garantiu que a formação solicitada “já foi feita”, assim como as “adaptações ao sistema de bilhética”.
A empresa também recebeu uma autorização do Ministério das Finanças para contratação de trabalhadores, “mas não para a área comercial”, apenas para a marítima.
Apesar de Carlos Costa garantir que a Fectrans já fez o pedido de uma nova reunião com a administração, a presidente da empresa disse que “não há reuniões marcadas nem pedidas”.
“A disponibilidade da administração é total, sempre, para analisar as soluções não só com os sindicatos subscritores do pré-aviso de greve, mas com todos os sindicatos da empresa. Caso haja algum pedido de reunião serão recebidos, como sempre foram”, frisou.
Marina Ferreira reforçou ainda que a Soflusa “tem vindo a fazer tudo” para limitar o impacto da greve nos passageiros, tendo pedido a marcação de serviços mínimos ao Tribunal Arbitral.
De acordo com a empresa, nesta área comercial trabalham cerca de 25 pessoas.
Soflusa afirma que prioridade é ter todos os navios “a funcionar”
A presidente da Soflusa, Marina Ferreira, garantiu hoje que os navios da empresa são “dos melhores que há no mercado” e que a prioridade, para resolver os atrasos e supressões, é ter toda a frota “a funcionar”.
“O fundamental na Soflusa, neste momento, é conseguir ter os navios todos a funcionar, porque infelizmente existem situações muito difíceis do ponto de vista dos estaleiros. Os navios da Soflusa, por serem tão bons, exigem um tratamento mais profundo do que os da Transtejo e temos navios que estão parados há imenso tempo, isso é que é a nossa prioridade, verificar o que podemos melhorar porque os navios não podem ficar tanto tempo nos estaleiros”, revelou à Lusa Marina Ferreira.
Na semana passada, o Conselho de Ministros aprovou o plano de renovação da frota da Transtejo, que faz as ligações fluviais entre Seixal, Montijo, Cacilhas, Trafaria/Porto Brandão e Lisboa, com a compra de dez novos barcos.
Já na terça-feira, o PSD de Setúbal acusou o governo de, com esta medida, estar a adiar a resolução de problemas da Soflusa, que tem “supressão de carreiras sem aviso prévio, embarcações sobrelotadas e atrasos constantes que causam grandes constrangimentos”.
Contudo, para Marina Ferreira, esta comparação não faz sentido, uma vez que as embarcações da Transtejo são mais antigas.
“Não tem nada a ver uma coisa com a outra, os navios da Transtejo são muitíssimo mais antigos do que os da Soflusa. Na Soflusa temos navios com 15 anos e na Transtejo com 40 anos. Neste momento isso não é assunto. Não vamos deitar fora os navios novos para comprar outros novos. Os da Transtejo são antigos e alguns já nem correspondem às atuais normas ambientais e por isso não tem paralelo. Os navios da Soflusa são dos melhores que há no mercado”, garantiu.
Esta foi a mesma explicação dada pelo secretário de Estado Adjunto e da Mobilidade, José Mendes, que em declarações à Lusa referiu que a Soflusa “tem uma frota mais recente, os seus navios ainda estão no período útil de funcionamento e operam com eficácia”.
De acordo com o governante, o concurso para a Transtejo será lançado nas próximas semanas e tem um investimento de 57 milhões para a aquisição dos barcos e mais cerca de 33 milhões para a “grande manutenção”, sendo um “investimento global que será na ordem dos 90 milhões de euros”.
Os novos catamarãs, com capacidade para transportar entre 400 e 450 passageiros, serão movidos a gás natural, estimando-se uma diminuição para metade das emissões de dióxido de carbono, uma descida de mais de cinco mil toneladas de dióxido de carbono por ano.
Segundo uma resposta enviada à agência Lusa pela administração da Transtejo e Soflusa, as duas empresas registaram 2.500 reclamações de passageiros em 2018, um ano marcado pela contestação dos utentes, devido a atrasos e supressões, e em que a frota registou uma taxa de operacionalidade de 55%.
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