É referido que o TikTok proíbe a publicação de conteúdos misóginos. Contudo, uma investigação do Observer para o The Guardian revelou que a rede social está a promover este tipo de conteúdos junto dos jovens, que podem aceder à plataforma a partir dos 13 anos.
Para provar que tal acontece, foi criada uma conta TikTok para um adolescente imaginário, usando nome e data de nascimento falsos. Assim, os resultados não seriam influenciados pelo histórico de pesquisa anterior.
Inicialmente, chegaram conteúdos diversificados: clips de comédia, vídeos de cães e discussões sobre a saúde mental dos homens. E é quando se começa a clicar mais em vídeos dirigidos ao público masculino que surge um nome que circula na rede social — o de Andrew Tate, que tem sido criticado por ativistas por normalizar opiniões "extremas e desatualizadas" sobre as mulheres.
Num dos vídeos, Andrew Tate afirma que a vida da maioria dos homens não presta porque "não têm poder", nem "sexo da sua esposa". Noutro, descreve a sua namorada como estando "muito bem treinada".
Mas vai ainda mais longe nos temas. Tate chega a referir que as pessoas que recorrem a serviços de saúde mental são "inúteis" e ridiculariza as pessoas por usarem máscaras durante a pandemia, dizendo que são "idiotas ou cobardes".
Segundo a investigação britânica, especialistas manifestaram preocupação com a disseminação destes conteúdos de Andrew Tate na plataforma TikTok, com vídeos que já foram vistos 11,6 mil milhões de vezes.
Callum Hood, chefe de investigação no Centro de Combate ao Ódio Digital, afirmou que o perigo está no facto de os vídeos serem "um conteúdo muito apelativo", aliado ao facto de o algoritmo TikTok ser "tão agressivo que só é preciso fazer uma pausa de alguns momentos antes de surgir um conteúdo semelhante uma e outra vez".
A rede social já se manifestou quanto ao sucedido. "A misoginia e outras ideologias e comportamentos odiosos não são tolerados no TikTok e estamos a trabalhar para rever este conteúdo e tomar medidas contra as violações das nossas diretrizes. Procuramos continuamente reforçar as nossas políticas e estratégias de aplicação, incluindo a adição de mais salvaguardas ao nosso sistema de recomendações", garantem.
Afinal, quem é Andrew Tate e em que polémicas está envolvido?
Andrew Tate, kickboxer anglo-americano, posa com carros rápidos, armas e retrata-se como um playboy que fuma charutos. Segundo o Observer, passou da obscuridade à fama global na Internet em meses.
Cresceu em Luton, filho de um assistente de restauração e mestre de xadrez. Com 20 anos, Tate trabalhou como produtor de televisão enquanto treinava como kickboxer no ginásio local, continuando a lutar profissionalmente e a ganhar títulos mundiais.
Em 2016, a sua carreira voltada para o público parecia ter terminado quando ainda mal tinha começado: participou no Big Brother e foi expulso da casa devido a um vídeo em que aparecia a bater numa mulher com um cinto.
Um segundo vídeo surgiu pouco depois: Andrew dizia a uma mulher para contar os hematomas que aparentemente lhe causou. Tanto Tate como a mulher negaram a ocorrência de qualquer abuso e disseram que os clips em causa mostravam sexo consensual.
Mas a polémica não ficou por aqui e seguiu-se mais controvérsia, envolvendo publicações com comentários homofóbicos e raciais na sua página do Twitter.
Nos seus vídeos, diz que as mulheres devem ficar em casa, que não podem conduzir e que são propriedade do homem. Afirma também que as vítimas de violação devem "assumir a responsabilidade" pelos seus ataques, na sequência do movimento #MeToo, e fala sobre bater e asfixiar mulheres, destruindo os seus pertences e impedindo-as de sair de casa. Estas opiniões fizeram com que fosse impedido de entrar no Twitter.
Por tudo isto, os seus pontos de vista têm sido descritos como sendo de "extrema misoginia". Mas Tate, com 35 anos, não é uma personalidade marginal que se esconde num canto obscuro da Internet. Em vez disso, é uma das figuras mais famosas do TikTok: em julho, o seu nome foi mais pesquisado no Google do que o de Donald Trump ou Kim Kardashian.
E tal não foi por acaso. As provas obtidas pelo Observer mostram que os seguidores de Tate estão a ser aconselhados a inundar os meios de comunicação social com os seus vídeos, escolhendo os clipes mais controversos de modo a obter o máximo de envolvimento por parte do público.
Contudo, apesar da fama, Andrew Tate não tem conta no TikTok, pelo que os vídeos não são partilhados por si. A sua foto e o nome aparecem, mas por meio de outros.
Em causa estão contas administradas por membros da Hustler’s University, uma espécie de clube privado onde Tate promete que os seus membros podem ganhar até 100 mil dólares através de aulas sobre investimentos e recrutando mais pessoas, ganhando 48% da comissão por cada uma. E o valor aumenta se criarem polémica nas redes sociais, com conteúdos virais.
Esta forma de espalhar conteúdo parece ser mais um problema que passa ao lado do TikTok. Afinal, a rede social deveria proibir contas que "personificam" outra pessoa, usando o seu nome ou imagem de uma "forma enganosa".
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