Com Barcelona a ferro e fogo em confrontos motivados pela condenação dos dirigentes catalães responsáveis pela tentativa de independência em outubro de 2017, escreve o jornal espanhol El Confidencial que o Ministério do Interior espanhol mobilizou um camião antimotim para a cidade espanhola, podendo vir a ser utilizado nos protestos.
Segundo o jornal, o veículo — pertencente às Unidades de Intervención Policial (UIP, a equivalente espanhola ao Corpo de Intervenção da Polícia de Segurança Pública) — foi mobilizado para a zona franca do porto de Barcelona, descrita como um “espaço estatal convertido pelo [Ministério do] Interior num dos pontos logísticos desta operação”.
Esta medida foi tomada numa fase em que se soma a terceira noite consecutiva em que ocorrem ações violentas contra a polícia catalã por parte de manifestantes separatistas, transformando o centro da cidade espanhola de Barcelona num campo de batalha com várias avenidas cortadas e fogueiras em vários locais.
Segundo residentes da cidade espanhola, com quem o SAPO24 estabeleceu contacto, os confrontos podem agravar-se com a polícia durante esta noite em Barcelona, já que quinta-feira é o dia em que os residentes colocam fora de casa todo o tipo de material indesejado e que pode ser usado como armamento ou como combustível para fogueiras.
De acordo com o El Confidencial, este camião possui características especialmente desenhadas para lidar com protestos como os que se estão a dar em Barcelona. Para além de ter rodas blindadas para prevenir furos e de ter um bulldozer na frente para abrir caminho pelas barricadas que impedem o avanço das carrinhas antimotins, o seu canhão de água — disparando 7000 litros de água a uma velocidade de até 200 quilómetros por hora — é capaz de dispersar multidões e de apagar os fogos que têm grassado na cidade catalã.
Como resposta à possível utilização deste canhão, escreve o El Confidencial, alguns membros do partido de extrema-esquerda Poble Lliure — descrito pelo jornal como o “herdeiro político da organização terrorista Terra Lliure e parte integrante da CUP (Candidatura de Unidad Popular)” — começaram a difundir nas redes sociais um guia onde oferecem dicas aos manifestantes para enfrentar camiões com canhões de água. Com carateres chineses, esta imagem foi também utilizada nos confrontos em Hong Kong e recomenda a que as pessoas se agachem no chão para se proteger do jato em vez de fugir ou se aproximar do veículo.
Comprado por cerca de 348 mil euros pelo executivo de Mariano Rajoy (PP) em 2014, o camião — construído num projeto a meias entre a empresa espanhola Quatripole Ingeniería SL e a empresa israelita Beit Alpha Techonologies Ltd. — foi integrado em dezembro desse ano nas UIP, ficando estacionado em Madrid. A viatura nunca foi usada em quaisquer protestos, apesar de também ter sido alocada preventivamente para a Catalunha depois dos confrontos resultantes da tentativa de proclamação da independência catalã em 2017.
Temido pelos manifestantes, a polémica na sua possível utilização agudiza-se tendo em conta que, quando foi adquirido, o PSOE criticou fortemente a medida, lembrando o diário espanhol que o partido agora no governo tentou travar esta compra, apresentando uma moção “na qual exigia ao Executivo Rajoy que destinasse esses fundos para melhorar os equipamentos dos agentes e as infraestruturas do Corpo [Nacional de Polícia]”. À época, os socialistas chegaram a dizer que “o governo parece estar disposto a usar todos os meios repressivos contra aqueles que decidem sair às ruas para mostrar seu descontentamento”.
No entanto, perante os atuais protestos, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchéz, prometeu agir com “firmeza, unidade e proporcionalidade”, dizendo não permitir que “a violência se imponha na convivência” e exigindo uma condenação dos desacatos por parte do presidente do governo regional da Catalunha, Quim Torra. Este afirmou que os responsáveis pelos desacatos são “infiltrados”, mas hoje disse que se “há provocadores e agitadores que querem alterar o rumo das manifestações pacíficas é preciso isolá-los e afastá-los”. Mesmo assim, Torra acrescentou que ninguém deve “criminalizar a desobediência civil” e instou o conselheiro do Interior do governo local a “investigar qualquer situação irregular que tenha acontecido”.
O governo espanhol já mobilizou 33 batalhões das UIP de várias regiões de Espanha para a Catalunha, juntando-se estes aos dois já permanentemente alocados à região, perfazendo um total de 1700 agentes antimotim. Para além disso, espera-se que neste fim de semana cheguem mais 200 efetivos. Apesar desta operação logística, a função deste alocamento é preventiva, deixando as ações de rua principalmente para as autoridades da polícia regional catalã, os Mossos d'Esquadra, que também possuem um camião com canhão de água — já mobilizado durante os confrontos desta semana — se bem que sem o mesmo aprimoramento tecnológico.
Os movimentos de protesto começaram na segunda-feira, depois ser conhecida a sentença contra os principais políticos catalães responsáveis pela tentativa de independência em outubro de 2017. Os juízes decidiram condenar nove deles a penas de até 13 anos de prisão por delitos de sedição e peculato.
Depois do anúncio da sentença, os independentistas começaram a fazer cortes de estradas e de vias de caminho-de-ferro um pouco por toda a Catalunha. Hoje, o ministro do Interior espanhol, Fernando Grande-Marlaska, referiu que foram feitas 97 detenções desde o início dos protestos e que 194 agentes dos Mossos d’Esquadra e da Polícia nacional ficaram feridos, alguns com gravidade, durante as manifestações.
Entre as detenções efetuadas conta-se a de cerca de 20 jovens, em Vitoria, acusados de cortar os trilhos de caminho-de-ferro, no final de uma manifestação convocada por uma organização juvenil independentista.
O Governo espanhol estima em 627 mil euros os prejuízos em material urbano já causados pelos distúrbios nas ruas e praças de várias cidades catalãs.
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