No artigo em causa, divulgado hoje, lê-se que "para o Presidente, apurou o Expresso, foi 'montada' uma tentativa de desviar para Belém as atenções de uma acusação judicial que tenderá a beliscar o Governo e a incomodar o PS em plena campanha eleitoral".
Questionado pelos jornalistas se confirma o teor deste artigo, no final de uma visita a uma livraria de antiguidades em Nova Iorque, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu apenas: "Eu disse ontem [terça-feira] que não tencionava falar mais sobre o caso. Portanto, não vou falar no dia seguinte".
Interrogado, depois, se existe algum mal-estar entre Presidente e Governo a propósito do caso de Tancos, o chefe de Estado deu a mesma resposta: "Mas eu acabei de dizer que não falava desse tema, ontem [terça-feira], não vou falar hoje".
Na terça-feira, em declarações às televisões, logo após a sua intervenção na 74.ª sessão da Assembleia Geral nas Nações Unidas, em Nova Iorque, o Presidente da República reiterou nunca ter sido informado, por qualquer meio, sobre o alegado encobrimento na recuperação das armas furtadas de Tancos, e sublinhou que "é bom que fique claro" que "não é criminoso".
"Nem através do Governo, nem através de ninguém no parlamento, nem através das chefias militares, nem através de quaisquer entidades de investigação criminal, civil ou militar, nem através de elementos da minha equipa, da Casa Civil ou da Casa Militar, nem através de terceiros, não tive", declarou.
Marcelo Rebelo de Sousa reagiu assim a uma notícia da TVI de acordo com a qual o major da Polícia Judiciária Militar (PJM) Vasco Brazão se referiu, numa escuta telefónica, ao Presidente da República, como o "papagaio-mor do reino", que, segundo ele, sabia de tudo.
O chefe de Estado, que é comandante supremo das Forças Armadas, referiu que se trata dos "mesmos factos, os mesmos elementos", de "há três ou quatro meses, que são reapresentados", e acrescentou que soube que "a defesa de um dos implicados fez questão de afirmar expressamente que não envolvia o Presidente da República".
"Espero que seja a última vez que falo sobre a matéria, até porque se aguarda a todo o momento a acusação, no caso de ela existir, e o que haja a investigar contra quem quer que seja, sem qualquer limitação, seja investigado", disse.
"Mas para que não restem dúvidas, por uma questão, não só de honra pessoal, mas porque estou aqui a defender a posição de Portugal, é bom que não esteja a defender a posição de Portugal na Assembleia-geral das Nações Unidas ao mesmo tempo que surge uma vaga dúvida sobre se o Presidente é criminoso, é bom que fique claro que o Presidente não é criminoso", frisou.
O furto de armas de guerra nos paióis de Tancos foi divulgado em 29 de junho de 2017.
Um dos arguidos no processo é o ex-ministro da Defesa Nacional José Azeredo Lopes, que está proibido de contactar com os outros arguidos, com o seu ex-chefe de gabinete e com o antigo chefe de Estado Maior do Exército, general Rovisco Duarte.
Quase três meses após a divulgação do furto das armas, a PJM revelou o aparecimento do material, na região da Chamusca, a 20 quilómetros de Tancos, em colaboração com elementos do núcleo de investigação criminal da GNR de Loulé.
O processo de recuperação do material militar levou a uma investigação judicial, por suspeitas de associação criminosa, tráfico de armas e terrorismo no furto do armamento e durante a qual foram detidos o agora ex-diretor da PJM Luís Vieira e o antigo porta-voz da PJM Vasco Brazão e três militares da GNR, num total de oito militares.
Entre o material furtado estavam granadas, incluindo antitanque, explosivos de plástico e uma grande quantidade de munições.
*Por Inês Lima, enviada da agência Lusa.
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