Em resposta a perguntas da agência Lusa, sobre os objetivos e os trabalhos da comissão de inquérito, que toma posse na quarta-feira, na Assembleia da República, o PS é o mais sintético quanto ao que pretende, mas omisso quanto ao alegado encobrimento, e o PSD o mais extenso.
“O apuramento das responsabilidades políticas, se as houver, é o que está na base dessa aprovação e da disponibilidade do PS para não inviabilizar a criação da comissão de inquérito”, de acordo com Ascenso Simões, deputado e coordenador do PS na comissão.
Pelo CDS-PP, o líder parlamentar, Nuno Magalhães defende que “sejam apurados todos os factos que tenham a ver com as responsabilidades, por ação ou omissão, da parte do governo relativas ao furto das armas em Tancos, bem como todo o processo subsequente, grau de conhecimento, envolvimento ou procura da verdade relativas à recuperação, devolução ou achamento do respetivo armamento e factos posteriores”.
“No fundo, queremos saber o que o país precisa de saber: o que realmente se passou desde junho de 2017”, conclui.
O PCP quer apurar as responsabilidades políticas do atual, mas também “dos anteriores governos que permitiram a degradação das instalações de Tancos e, dessa forma, contribuíram para que o furto fosse possível”.
O coordenador dos deputados do PCP na comissão de inquérito, Jorge Machado, defende que devem ser igualmente “apuradas as responsabilidades na estrutura de topo do Exército”.
“Não só as responsabilidades políticas e da estrutura de topo do Exército pelo furto, mas também na operação de devolução. As armas não caem do céu, se houve um encobrimento dos autores materiais do furto isso deve ser apurado”, diz.
O deputado adverte que o trabalho da comissão de inquérito irá, contudo, “enfrentar dificuldades por estar em curso um processo de inquérito judicial” e haver matéria em segredo de justiça.
À direita, o deputado do PSD Carlos Peixoto alonga-se nos objetivos para a comissão, prometendo concentrar as atenções “no ‘furto’ aos paióis de Tancos, averiguando as respetivas circunstâncias e a natureza dos possíveis autores”.
Outra das questões a esclarecer “diz respeito à cooperação entre as forças e serviços de segurança, neste caso entre a PJ e PJM, e ao papel que coube à GNR de Loulé” e à “competência para a investigação criminal”.
O objetivo do PSD passa também por “averiguar acerca da lista, ou listas, das armas e outro material militar que tenha sido furtado e a sua correspondência com a lista ou as listas das armas e outro material militar recuperado”.
Sem esquecer o que “ficou conhecido como o ‘encobrimento’, verificando a sua veracidade, bem como de todos os factos relacionados”, conclui Carlos Peixoto, na sua resposta à Lusa.
Pelo BE, o deputado João Vasconcelos afirma que a comissão de inquérito, “não se confundindo com a investigação judicial em curso, deve averiguar as razões que levaram ao roubo de armas em Tancos, assim como as alegadas tentativas de encobrimento e responsabilidades políticas que existam”.
E deixa o aviso que, para que isso seja possível, “é fundamental que, no inquérito parlamentar como na investigação judicial, exista colaboração dos responsáveis políticos e dos próprios responsáveis militares”.
O Partido Ecologista "Os Verdes" (PEV) não participa nos trabalhos da comissão, mas Heloísa Apolónia, defende que "é importante averiguar como ocorreu o furto em si, bem como o que decorreu depois dele, mas também as matérias de investimento em segurança" que "permitam perceber como foi possível chegar ao ponto de haver um furto de material num paiol militar".
O desaparecimento de material militar dos paióis de Tancos foi divulgado pelo Exército em junho de 2017.
Está em curso uma investigação do Ministério Público sobre o reaparecimento do material levado de Tancos, designada Operação Húbris, no âmbito da qual foram detidos para interrogatório militares da PJM e da GNR.
Este caso levou à demissão do anterior ministro da Defesa Nacional, José Azeredo Lopes, em 12 de outubro.
O chefe do Estado-Maior do Exército, general Rovisco Duarte, pediu também a resignação, dois dias depois da posse do novo ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho.
Em 25 de setembro, a Polícia Judiciária deteve o diretor e outros três responsáveis da PJM, um civil e três elementos do Núcleo de Investigação Criminal da GNR de Loulé e foi nesse dia que o CDS-PP anunciou que iria propor uma comissão de inquérito parlamentar.
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