No domingo, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, declarou que não será tolerado o uso da instituição militar para "jogos de poder", num discurso na cerimónia que assinalou os cem anos do armistício da I Guerra Mundial, em 11 de novembro de 1918.
"Essas palavras [de Marcelo Rebelo de Sousa], uma vez mais, reafirmam a total convergência entre o Governo e o Presidente da República sobre essa matéria. É absolutamente lamentável a tentativa de partidarização e o jogo político em torno das nossas Forças Armadas", reagiu o líder do executivo.
Numa alusão às circunstâncias do roubo de armamento em Tancos, António Costa declarou que se trata "de um caso lamentável que compete às autoridades judiciárias investigar” e que compete ao poder político "respeitar e confiar nas autoridades para que levam até ao final todas as suas investigações".
Falando após ter presidido à sessão de abertura da "Venture Summit", no Convento do Beato, em Lisboa, António Costa considerou "essencial respeitarem-se as autoridades judiciárias, que estão seguramente a fazer o seu melhor trabalho, para esclarecerem tudo até ao fim, doa a quem doer, como têm dito o Presidente da República e o Governo ao longo destes anos".
"Como o senhor Presidente da República disse, é absolutamente lamentável tentar-se criar uma espécie de névoa que encubra o essencial: O trabalho das autoridades judiciárias no sentido de fazerem aquilo que lhes compete, que é investigarem o crime, identificarem e capturarem os ladrões, levarem-nos a julgamento - e também cúmplices, se os houver, ou alguém que tenha encoberto ou procurado encobrir a sua identidade", completou o primeiro-ministro perante os jornalistas.
O furto de material militar dos paióis de Tancos foi revelado em 29 de junho de 2017 e a recuperação da maior parte do material foi divulgada pela Polícia Judiciária Militar (PJM), em comunicado, no dia 18 de outubro de 2017, na Chamusca, a cerca de 20 quilómetros de Tancos.
A investigação do Ministério Público sobre o aparecimento do material furtado, designada Operação Húbris, levou à detenção para interrogatório de militares da PJM e da GNR.
O caso levou já à demissão do anterior ministro da Defesa Nacional, José Azeredo Lopes, em 12 de outubro, invocando a necessidade de evitar que as Forças Armadas fossem prejudicadas pelo “ataque político” e as acusações de que afirmou estar a ser alvo.
O chefe do Estado-Maior do Exército, general Rovisco Duarte, pediu também a resignação, apenas dois dias depois da tomada de posse do novo ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho.
Em 25 de setembro, a Polícia Judiciária deteve o diretor e outros três responsáveis da PJM, um civil e três elementos do Núcleo de Investigação Criminal da GNR de Loulé.
Segundo o Ministério Público, em causa estão "factos suscetíveis de integrarem crimes de associação criminosa, denegação de justiça, prevaricação, falsificação de documentos, tráfico de influência, favorecimento pessoal praticado por funcionário, abuso de poder, recetação, detenção de arma proibida e tráfico de armas".
Entre o material furtado estavam granadas, incluindo antitanque, explosivos de plástico e uma grande quantidade de munições.
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