Nasceu em Londres, estudou em Inglaterra, mas tinha apenas 17 anos quando se fez, literalmente, ao mar. Ingressou na marinha e rumou à Índia. Foi lá que teve a primeira ideia de “aventura” – a aventura de dar a volta ao mundo com mais dois amigos, de barco, claro. Só que o dinheiro acabou-se pelo meio e a paragem na África do Sul acabou por ser mais longa. Todos arranjaram trabalho no país e foi aí que Sir Robin ouviu falar, pela primeira vez, de um inglês que ia dar a volta ao mundo sozinho num barco. “Mas ia parar uma vez na Austrália e pensei que se o fizesse seria sem parar”, conta-nos o agora Robin Knox-Johnston.
Começou aí uma viagem que o levaria, de facto, a fazer essa volta ao mundo, sozinho e sem paragens, mas não sem antes ter ouvido “não” das 52 empresas a quem apresentou a ideia. “Consegui vender um livro e que dois jornais se mostrassem interessados em pagarem-me alguma coisa e foi assim que consegui arranjar um barco para a viagem”.
E é assim que em 1968, Robin Knox-Johnston, sai de Inglaterra para uma viagem à volta do mundo sem parar. “Quando vamos numa viagem como esta, queremos apenas conseguir, mostrar que é possível”.
O oceano entre a Antártica, América do Sul, África do Sul, Austrália e Nova Zelândia era o que mais o intimidava. “É onde têm lugar algumas das piores tempestades do mundo e só esperava que o meu barco aguentasse”. Aguentou. Mas seria no Cabo Horn que experimentaria um dos momentos mais negros, uma tempestade em que durante 30 intermináveis minutos lutou para manter o barco entre as ondas. Foi também daí que retirou uma das lições da viagem: “se trabalhamos duro para um objetivo e temos um dia mau, em vez de pensarmos no que não gostamos, temos de nos focar no que já trabalhámos e esperar pelo dia seguinte para ver como nos sentimos”.
O Cabo da Boa Esperança foi a analogia perfeita. O pior e o melhor momento. Terrível hoje, muito melhor amanhã. “Quando passei o Cabo da Boa Esperança, sabia que estava a sair do oceano a sul e que tudo o que tinha para fazer eram 8000 milhas a subir o Atlântico, o que é muito mais fácil”.
Nunca tinha estado sozinho antes. Tinha 29 anos, uma filha pequena e acabava de se divorciar.
“Era jovem o suficiente e ao mesmo tempo tinha idade suficiente para o que me propunha fazer. Era um marinheiro qualificado, conhecia bem o meu barco e pensei ‘tenho aqui uma oportunidade e se não a usar vou arrepender-me para o resto da minha vida”.
Fez contas à comida que precisaria, às peças para o barco que teria de levar e partiu no Suhaili, o barco que juntava o nome da primeira mulher (Sue) com o nome de um estrela.
Ficou no mar 312 dias. Dias “muito ocupados”, afirma. Primeiro porque o equipamento de piloto automático do barco avariou e teve de assumir a navegação integral, o que o ocupava 16 horas por dia. Sem satélites, sem GPS, que os dias eram outros. Durante dois meses e meio ainda teve rádio para as comunicações, mas depois também esse equipamento avariou e ficou apenas a poder ouvir, mas não a responder de volta. Se houvesse perigo, o que faria? “Tomava conta de mim”.
O que mais sentiu falta no mar? Cerveja, um bife e um banho. E quando chegou a primeira coisa que fiz era a da lista: beber uma cerveja.
Quando chegou a terra, vinha três quilos e meio mais gordo – e mais calmo, disseram os amigos. Nas últimas 24 horas no mar sentiu-se simultaneamente triste e feliz. “Mesmo antes de chegar, estava muito feliz e não me apetecia parar, mas queria muito ver a minha família”.
O que mais sentiu falta no mar? Cerveja, um bife e um banho. E quando chegou a primeira coisa que fiz era a da lista: beber uma cerveja.
No regresso, esperava-o uma vida diferente. A companhia naval a que pertencia tinha desaparecido e não podia voltar ao mar, onde tinha a sua “vida normal”. Decidiu então construir uma marina, projeto que lhe tomou três anos, e depois disso voltou a casar-se – com a mesma mulher. Construiu mais cinco marinas depois disso, escreveu vários livros e participou em inúmeras regatas e competições – várias em Portugal, onde aliás regressou em setembro deste ano para a Clipper Race, uma prova que existe desde 1996. Uma competição sui generis desenhada para “gente comum” e não marinheiros profissionais. Mas Portugal é um país que conhece bem – e há quase 50 anos.
“A primeira vez foi em 1970, logo depois de ter voltado a casar com a minha mulher. Voltei várias vezes, estudei a navegação portuguesa, gosto muito de cá voltar”. Não nota grandes diferenças apesar de tanto ter mudado na história do país. “As pessoas não mudaram, são tão simpáticas como sempre foram. Claro que o país é hoje mais próspero e que as pessoas se sentem de outra forma, mas para mim não é assim tão diferente ”.
Continua fascinado com a história das viagens marítimas dos portugueses. “Comecei a interessar-me há 30 anos. Como também ando no mar, quis saber como os navegadores do Renascimento encontraram as suas rotas, o que me fez recuar 500 anos. Quando começamos a ler, percebemos que os portugueses eram de facto líderes na navegação, marinheiros incríveis”.
500 anos depois, os barcos são equipados com tecnologia que torna todos os processos mais fáceis. Mas talvez menos fascinantes. “Torna a vida muito mais fácil e podemos estar 100% seguros que chegaremos ao nosso destino. Ainda há 50 anos as técnicas que usámos não eram muito diferentes das que existiam há 200 anos. Talvez por isso quando chegávamos ao local de destino tínhamos maior grau de satisfação, que não temos hoje”.
O que é que lhe falta fazer, passados estes anos? “Não lhe digo, se não ainda faz primeiro ...”, brinca. “Tentei tornar a navegação acessível a todos, porque adoro estar no mar e queria que todos sentissem a liberdade que dá sem burocratas a dizer-nos o que fazer”, retoma. Burocratas, a palavra certa para perguntar a um inglês sobre o Brexit, o elefante na sala de qualquer conversa atual com britânicos. “Acho que é de doidos, eu queria ficar na União Europeia. Mas nós juntámo-nos a uma comunidade de trocas comerciais, não a um Estado federal, e isso é o que não gostamos. Espero que tenhamos um novo referendo”.
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