Em comunicado, a organização “apela a que se retirem todas as consequências de afirmações discriminatórias e discursos de ódio, acionando mecanismos proporcionais à gravidade de tais atos quando cometidos por agentes políticos”, referindo-se à publicação do deputado numa rede social, entretanto “eliminada”.

“O texto, que só a mim obriga, [em] nada indica que sou racista, xenófobo ou que tenha incitado ao ódio”, assegurou David Ribeiro à agência Lusa.

O deputado reproduziu a mensagem na qual começa por dizer “Não, não sou racista nem xenófobo, mas declaradamente contra quem recusa qualquer tipo de ajuda social e prefere continuar a viver da mendicidade, do pequeno furto e a dormir em jardins e espaços públicos, conspurcando os terrenos que são de todos”.

David Ribeiro explica que “no último ano, a zona da rotunda da Boavista, especialmente o triângulo formado pela avenida da França, rua Domingos Sequeira e rua 05 de Outubro, tem sido o «dormitório» de um grupo de 20 a 30 romenos”.

Ribeiro questiona ainda “qual a solução” para a situação, defendendo a necessidade de “refletir” e “encontrar rapidamente formas eficazes de proteger os cidadãos destes energúmenos".

Para o SOS Racismo, que quer questionar a AM sobre o tema, é “particularmente grave que um responsável autárquico, com funções de representação do povo que o elegeu, difunda e torne públicas mensagens de natureza discriminatória, em afirmações pontuadas por preconceitos e por insultos”.

A organização descreve ter sido “alertada” no domingo para um texto “publicado nesse dia” que atribuía a um conjunto de «ciganos romenos» a ocupação indevida de terrenos na Boavista, onde se dedicariam a crimes de furto e perturbação de ordem pública”.

Para o SOS Racismo, “David Ribeiro terminava a sua prosa apelando à necessidade de acionar mecanismos de proteção dos “cidadãos” face a «estes energúmenos».

A organização sem fins lucrativos sustenta que a situação se “agrava quando, já após a eliminação do referido texto, Ribeiro insiste na culpabilização de quem o denuncia, revelando complacência com comentários de índole racista, sexista e violenta”.

“Lamentando e repudiando as palavras de reincidente discriminação” do deputado, o SOS Racismo revela que vai questionar a AM sobre se os deputados municipais, em particular os “eleitos pelo movimento “Rui Moreira – Porto, O Nosso Partido”, se “revêm nas palavras e no teor da mensagem do deputado”.

Na rede social Facebook, o deputado mantinha, pelas 14:40, uma publicação de sexta-feira na qual comenta: “duas noites sem romenos a dormirem à nossa porta dá-nos uma sensação de alívio mesmo que não saibamos por quanto tempo será”.

“Mas estou ciente que a Câmara do Porto, nomeadamente o vereador Filipe Araújo, está a fazer um grande esforço para resolver esta situação”, acrescenta.

Na resposta enviada à Lusa, a autarquia diz que “a questão não diz respeito à Câmara do Porto, que não tem que se pronunciar sobre afirmações pessoais ou outras de deputados que pertencem a um órgão político autónomo”.

“Se a agência Lusa tem questões a colocar a qualquer grupo municipal, deve dirigi-las a esse grupo e não à Câmara Municipal do Porto, que não comete ingerências”, acrescentou o gabinete de comunicação.

Já Miguel Pereira Leite, presidente da AM e primeiro na lista do movimento independente para aquele órgão, disse “desconhecer as afirmações”.

“Nessa circunstância, prefiro não me pronunciar”, afirmou.

A Lusa contactou também, sem sucesso, a associação cívica “Porto, O Nosso Movimento”, criada após as eleições que deram o segundo mandato a Rui Moreira, eleito pelo movimento “O Nosso Partido é o Porto”.