Segundo a Sky News, um dispositivo USB com os documentos foi entregue ao canal por um ex-membro do EI, que teria roubado a lista ao chefe da polícia interna da organização jihadista. Os documentos em questão, contendo nomes, endereços e até números de telefones de combatentes recrutados, são formulários preenchidos por voluntários de 55 países, destaca a Sky, na maioria países árabes, seguidos por franceses, alemães e britânicos.
Os documentos teriam informações sobre jihadistas ainda não identificados que se encontram na Europa ocidental, Estados Unidos, Canadá, Magreb e Médio Oriente. "A Sky News já informou as autoridades sobre a lista", destaca o site do canal.
As informações revelam desde o grupo sanguíneo até o "nível de compreensão da charia", a lei islâmica. No total, são 23 perguntas formuladas pelo EI aos voluntários. Richard Barrett, ex-diretor de contra-terrorismo dos serviços secretos britânicos, qualificou a documentação de "fonte inestimável para os analistas".
Exclusive: @SkyNews' @ramsaysky Explains How He Obtained #ISfiles Identifying 22,000 Jihadis' Registration Forms - https://t.co/NqHJkOePZe
— Sky News PR Team (@SkyNewsPR) 10 março 2016
Os documentos foram entregues ao Sky News por um ex-combatente do Exército Sírio Livre ligado ao EI. O homem informou ainda que a organização jihadista retirou o seu quartel-general da cidade de Raqa, no norte da Síria, para o deserto. "Como qualquer grande organização, há luta interna pelo poder e o risco de o EI implodir em diferentes facções", disse à AFP Olivier Guitta, especialista em segurança internacional do GlobalStrat.
Segundo o The Guardian, já na segunda-feira à noite o jornal alemão Suddeutsche Zeitung e os canais de TV WDR e NDR tinham referido a existência dos documentos. Na terça-feira, o site pró-oposição sírio Zaman al-Wasl publicou imagens dos questionários. A polícia federal alemã já disse que os documentos a que teve acesso são autênticos. Os questionários entregues à Sky News são aparentemente os mesmos.
A Sky publicou no seu site um vídeo com uma entrevista ao combatente arrependido que terá entregue a pen com os dados, na qual este diz: "Quero dizer às pessoas que estão dentro da organização que ela é uma mentira, não é o Islão". O homem, que usa o nome de Abu Hamet, diz ainda esperar que a informação ajude a destruir o Estado Islâmico e que este se converteu em reduto de antigos soldados iraquianos do Partido Baath do ditador Saddam Hussein, executado em 2006.
This is the ex-IS militant who provided @SkyNews with the details of thousands of jihadis & their families #ISfiles https://t.co/Y5kok7IUK5
— Sky News (@SkyNews) 10 março 2016
Milhares de cidadãos europeus juntaram-se ao EI, que em 2014 proclamou a instauração de um califado entre a Síria e o Iraque, e as autoridades dos seus países temem que eles regressem para cometer atentados.
O que vamos poder saber com estes documentos?
Os documentos são formulários de adesão dos candidatos a jihadistas. São importantes por terem não só os dados pessoais dos combatentes, mas também informação relativa às pessoas que os recomendaram ao Daesh. Isto poderá ajudar a identificar os indivíduos que estão a radicalizar os jovens que se alistam no Daesh, o que, nas palavras de Afzal Ashraf, especialista em contra-terrorismo do Royal United Services Institute, à Sky News, é muito valioso: "Essas pessoas é que são a verdadeira chave. Elas é que estão a conseguir radicalizar e enviar para lá combatentes estrangeiros às dezenas".
Nos questionários pergunta-se aos candidatos, entre outras coisas, se têm experiência prévia na jihad e se estão dispostos a ser bombistas suicidas. O grupo sanguíneo e o nome de solteira da mãe são outros dos dados disponibilizados.
Nas listas aparecem muitos jihadistas que já estavam identificados pelos serviços britânicos, como Abdel-Majed Abdel Bary, um ex-rapper do oeste de Londres que após o alistamento no EI publicou no Twitter uma foto sua com a cabeça de uma pessoa decapitada na mão. Também figura Junaid Hussain, um hacker do EI, procedente de Birmingham, morto num ataque de drone em agosto passado.
O volume de dados é muito e parte do trabalho de análise vai ser feito por computadores. Os investigadores esperam chegar a conclusões adicionais, por exemplo mapeando os indivíduos e locais referidos, criando ligações entre eles - o tipo de análise de big data que é difícil fazer apenas com meios humanos.
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