“Em relação à Síria, como seria de esperar, houve uma grande convergência, com exceção da posição da Turquia, que enfrentou aqui algum isolamento, e que procurou explicar o seu ponto de vista sobre a Síria. Mas houve reiterados apelos à Turquia para que cessasse as hostilidades e retirasse as suas forças da Síria”, apontou o ministro, em declarações aos jornalistas.
João Gomes Cravinho disse que os Aliados tentaram fazer ver à Turquia que, com esta intervenção no norte da Síria, “não está a contribuir para a estabilidade do país e não está a contribuir para o combate contra o terrorismo e contra o Daesh em particular, que hoje em dia é uma ameaça reforçada”.
“O ministro turco indicou que achava que as nossas opiniões estavam muito influenciadas pelo que ele chamava de ‘fake news’, notícias falsas, vindas do que ele classifica com fontes terroristas curdas. Essa não foi a posição assumida obviamente pela generalidade dos países”, afirmou.
Gomes Cravinho acrescentou que o ministro turco também sublinhou que a Turquia, devido à sua situação geográfica, tem “particularidades únicas”.
“Nós, enquanto aliado da Turquia no seio da NATO, compreendemos essas particularidades únicas. A Turquia está, de facto, muito exposta ao terrorismo na Síria, vindo da Síria, e está muito exposta a fluxos de refugiados vindos da Síria, fruto da guerra civil e instabilidade no país. Nós estamos obviamente muitíssimo empenhados em apoiar a Turquia ao lidar com essas ameaças, simplesmente não estamos de acordo que a intervenção atual da Turquia, violando a integridade territorial da Síria seja a maneira adequada de responder a esses problemas”, comentou.
Admitindo que, do seu ponto de vista, “foi precipitada a retirada de tropas norte-americanas” da região, o que “criou um vazio que levou a esta situação”, Gomes Cravinho sublinhou todavia que, “ao mesmo tempo, não é possível dizer que a ação turca foi determinada pelos Estados Unidos”, pois “a Turquia é responsável por aquilo que faz, e fê-lo por vontade própria”.
“Eu ouvi uma intervenção muito crítica por parte do secretário da Defesa dos Estados Unidos em relação à ofensiva turca. Foi talvez dos mais severos em condenar a ofensiva turca e exigir a cessação das hostilidades”, notou.
O ministro deu conta de “referências” várias entre os Aliados à necessidade de se olhar para o Afeganistão e aprender com as lições da Síria.
“Isto é, qualquer retirada mais precipitada do Afeganistão poderia originar uma situação caótica, que obviamente é contrária aos interesses de todos nós”.
Por fim, comentando uma hipotética missão da União Europeia na região, o ministro salientou que se trata de uma ideia suscitada pela Alemanha, mas encontra-se ainda numa fase muito embrionária, e, apesar da abertura de alguns países a que se estude essa possibilidade – e Portugal está entre eles – não se pode ainda afirmar sequer que a UE “está a cogitar essa possibilidade”, até porque “vai depender muito” da futura ação da Turquia.
“Houve uma proposta por parte da ministra alemã para se considerar uma missão internacional de outro tipo, com envolvimento da UE no norte da Síria. A primeira reação da nossa parte é que vale a pena estudar esta ideia, que terá de ser colocada no contexto da União Europeia”, referiu, apontando que o assunto será “possivelmente” abordado na reunião de ministros da Defesa dos 28 agendada para 12 de novembro próximo em Bruxelas.
“Estamos abertos a essa questão, mas vai depender muito daquilo que forem as intenções da Turquia. Com se sabe, o resultado desta incursão da Turquia no norte da Síria reforçou as posições da Rússia […] Obviamente, temos de pensar sobre como queremos posicionar-nos face a este reforço da posição russa na Síria”, disse.
Lembrando que “a UE não tem missões militares executivas próprias”, com exceção de uma no oceano Índico, Gomes Cravinho ressalvou que uma hipotética missão europeia “teria de ter um respaldo muito grande nas Nações Unidas e com entendimento com a própria NATO”.
“Estamos ainda muito longe disso, num plano em que estamos a confrontar ideias, e não há ainda condições para um consenso”, afirmou.
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