“É possível sentir o desejo das pessoas de mudar alguma coisa, utilizando instrumentos legais para mudar o poder. Infelizmente, uma vez que o poder é usurpado, faz tudo o que precisa de fazer através de leis e qualquer nova forma de resistência torna-se rapidamente ilegal”, destacou este ativista russo, membro da Associação de Russos Livres, radicado em Portugal.
Timofey Bugaevsky sublinhou um “renascimento notório” na sociedade civil russa, com a apresentação de dois candidatos às presidenciais de março: Ekaterina Duntsova e Boris Nadezhdin.
Duntsova já viu a sua candidatura excluída e o ativista considera que é provável que Nadezhdin também seja impedido às eleições de março, onde o chefe de Estado Vladimir Putin procura um quinto mandato.
Mas este ativista, radicado em Portugal há mais de dois anos, destaca que Duntzova não está a desistir: “Tentou negociar com o antigo partido da oposição Yabloko para ser nomeada por este, mas Grigory Yavlinsky recusou. Atualmente, Ekaterina está a criar um partido. A equipa de Alexei Navalny [opositor russo preso] tentou 10 vezes registar o partido, o que foi recusado sob vários pretextos”.
“No entanto, tal como todas as outras atividades sob ditadura, este é um exemplo heroico para outros russos de que é possível e necessário resistir. Recordo que Ekaterina tem três filhos”, apontou.
Por outro lado, Timofey Bugaevsky alertou para o surgimento nos espaços de informação da filha mais velha de Putin, Maria Vorontsova, o que leva a receios de “uma possível transferência hereditária de poder”.
A sensação de mudança na Rússia, para este ativista, está assente nos problemas que se acumulam: “os preços estão a subir devido às sanções e à queda do rublo, o sistema de habitação e de serviços públicos, que não foi reparado durante décadas devido à corrupção, está a desmoronar-se”.
Timofey Bugaevsky frisou ainda que “chegam cada vez mais caixões” da Ucrânia, enquanto a frente de batalha, na guerra motivada pela invasão russa do país vizinho, está estagnada.
“Já estão a surgir protestos nas regiões”, garantiu.
Ainda sobre o conflito, que faz dois anos em fevereiro, o ativista russo, de 42 anos, sublinhou que “há esperança de que a ajuda militar à Ucrânia seja aumentada e que Putin perca finalmente e, como já aconteceu na história, perca o que resta do apoio público devido a uma derrota militar”.
As sanções do Ocidente impostas a Moscovo devido ao conflito no país vizinho estão a surtir efeito, de acordo com Timofey Bugaevsky, e devem “tornar a guerra mais difícil para a Rússia”.
“O custo da produção de armas e do recrutamento de voluntários para o Exército russo tem de ser aumentado e esperamos que a política de sanções seja revista e que as sanções visem as empresas de fachada que ajudam a contornar as sanções e fornecem componentes de dupla utilização à Rússia”, acrescentou.
No lado oposto, ativistas que estão na Rússia têm transmitido que a guerra se tornou, para muitas pessoas, “um trabalho que paga muito bem, especialmente para quem morre na guerra”, lembrou Timofey Bugaevsky.
Para uma verdadeira mudança de poder na Rússia, Bugaevsky defende que é necessário que “as pessoas façam conscientemente a sua escolha e estejam prontas a defendê-la”.
“Precisamos de uma imagem do futuro, pela qual haja vontade de lutar. Até agora, estamos a lutar contra isso. É necessário, é importante, mas exige uma vontade forte e, mesmo com ela, podemos cansar-nos de lutar sem sucesso. Se houver um sonho, este inspira-nos”, frisou.
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