Foi de forma simples e direta que Rui Rio, no programa Grande Entrevista da RTP3, comentou a situação dos trabalhadores do setor agrícola do concelho de Odemira: "acho que Portugal tem todas as razões para se envergonhar de semelhante situação".
Nas palavras do presidente do Partido Social Democrata, aquela é uma situação de "quase escravidão". " A minha pergunta é: o que é que fez o Ministério da Administração Interna fez através, por exemplo, da GNR que está lá no terreno, que vê aquilo? Não são 10 pessoas, não são 20, são milhares de pessoas", questionou.
O líder do PSD manifestou ainda estranheza pelas notícias que referem que a Polícia Judiciária está a investigar “há mais de dois anos” denúncias de imigração ilegal e tráfico de pessoas.
“Eu pergunto: a investigar o quê? A pessoa vai a Odemira e ao fim de pouco tempo olha e vê as pessoas ali, tem as denúncias. Ficam mal os empresários que fazem aquilo, mas fica particularmente mal o poder público, seja através do Ministério da Administração Interna, seja do Ministério do Trabalho ou do Ministério da Justiça”, refere.
"Aquilo é uma vergonha. E acho que a vergonha ainda é maior do que aquilo que tem vindo a público porque a público têm vindo as condições em que os trabalhadores comem e dormem e vivem, mas por trás daquilo há zunzuns de episódios ainda piores", revelou o deputado social-democrata.
Na opinião de Rui Rio, as soluções passam por "instaurar os processos crime", "fazer os julgamentos que se devem fazer" e "dar condições aos trabalhadores porque nós não somos um país, já não é do terceiro mundo, do quinto mundo em que tratamos pessoas dessa maneira".
"Se não se venderem framboesas, não se vendem framboesas. Não se podem tratar os seres humanos assim em parte nenhuma do mundo e não se pode tratar os seres humanos assim em Portugal. Ponto final parágrafo. Aquela não é uma solução", sublinhou.
No final da semana passada, o Governo decretou uma cerca sanitária às freguesias de São Teotónio e de Almograve, no concelho de Odemira, devido à elevada incidência de casos de covid-19, sobretudo entre trabalhadores do setor agrícola.
Na altura, em conferência de imprensa após a reunião do Conselho de Ministros, o primeiro-ministro, António Costa, sublinhou que "alguma população vive em situações de insalubridade habitacional inadmissível, com sobrelotação das habitações", relatando situações de "risco enorme para a saúde pública, para além de uma violação gritante dos direitos humanos".
Na segunda-feira, fonte da Procuradoria-Geral da República (PGR) disse à Lusa que o Ministério Público de Odemira tem em curso 11 inquéritos sobre auxílio à imigração ilegal para efeitos de exploração laboral.
A mesma fonte acrescentou que todos os inquéritos "estão em investigação".
No mesmo dia, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) revelou que tem a decorrer 32 inquéritos em diversas comarcas do Alentejo, seis dos quais em Odemira, pelos crimes de tráfico de pessoas, auxílio à imigração ilegal e angariação de mão-de-obra ilegal.
Também na segunda-feira, o presidente da Câmara Municipal de Odemira, José Alberto Guerreiro, estimou que, "no mínimo, seis mil" dos 13 mil trabalhadores agrícolas do concelho, permanentes e temporários, "não têm condições de habitabilidade".
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