O impacto do desempenho do turismo na economia nacional no primeiro trimestre, que cresceu acima das expectativas de algumas das principais instituições económicas, tem vindo a influenciar as previsões para o país. Instituições como o FMI ou a Comissão Europeia afirmaram recentemente que o desempenho acima do previsto no primeiro trimestre tem sido largamente motivado pelo turismo, cuja retoma continua mais forte do que o previsto.
A Lusa ouviu os presidentes da Confederação do Turismo de Portugal (CTP), da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) e da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT) para perceber se este desempenho se sente na atividade do dia a dia, se acreditam que se vai manter todo o semestre e depois no verão, e com isso fechar mais um ano melhor do que se antevia, numa conjuntura que se apresenta difícil, de instabilidade, e com guerra, inflação e juros altos.
O presidente da CTP, Francisco Calheiros, assume: “As coisas estão a correr bem, mas ‘ninguém descansa à sombra da bananeira’ porque não é certo” que assim se mantenham. “Ninguém de bom senso pode dizer que a expectativa é ter um bom ano. Mantemos que a única certeza é a incerteza”, reforçou.
Opinião partilhada pelo presidente da APAVT: “Continuamos no otimismo moderado, no sentido de que está a correr bem, está a correr melhor, mas cautela, porque não sabemos se isto é um desempenho que se pode manter”.
O presidente da AHP reforça que “o primeiro trimestre foi muito bom” e “na generalidade das regiões do país”, o que é “muito importante”, mas também admite que agora “a evolução das dormidas vai ter um crescimento muito menos robusto”.
Até porque, lembram os três responsáveis à Lusa, este primeiro trimestre comparou com os três primeiros meses de 2022 que corresponderam ainda à última variante da covid.
“Tivemos três meses fabulosos, mas já se sentiu algum abrandamento em abril e maio, ainda crescimento, mas não tão grande como janeiro, fevereiro e março”, refere Francisco Calheiros à Lusa, acrescentando que no verão o setor não irá pode crescer assim até porque “já atingiu, digamos assim, os picos”.
Nas agências de viagens, o sentimento é o mesmo. “O ano de 2022 foi extraordinário, de recuperação quase impensável. O ano de 2023, à data, está a correr francamente melhor do que 2022, certamente com a maioria dos ‘players’ [operadores] a crescer dois dígitos”, afirma Pedro Costa Ferreira, acrescentando logo que têm “a noção de que provavelmente este crescimento não pode continuar a este ritmo”.
“Não nos parece possível face a tudo o mencionado [conjuntura]. Admitimos que uma parte do crescimento tenha a ver com comportamento de reservas antecipadas mais acentuado este ano. Não nos podemos esquecer que no ano passado, por esta altura, já tínhamos tido a pandemia e estávamos doidos para viajar, mas ninguém arriscava a comprar uma viagem a dois meses de distância. Hoje é um cenário completamente diferente. Há uma ideia de que a procura pode ser superior à oferta, isso geralmente gera maior receita antecipada”, explica o presidente da APAVT.
Assim, sobre as reservas para o verão o responsável diz que “correm bem”, ainda “a crescer”, mas que também há “muito lugar para vender, muita oferta ainda para entregar aos clientes” e também “muita zona cinzenta onde as operações podem correr menos bem”.
Já Bernardo Trindade enaltece o facto que se tem vindo a sentir e que vai contrapor, até em receita, o provável arrefecimento do crescimento das dormidas no trimestre que decorre: “a melhoria do preço médio da dormida”.
“Isto significa que, apesar de tudo estar mais caro — as passagens, o preço do quarto do hotel, as refeições –, as pessoas querem conhecer Portugal. E isto tem um bocadinho a ver com a covid ainda, que é uma poupança acumulada, nomeadamente de países que agora descobriram Portugal de uma maneira mais acutilante, leiam-se os Estados Unidos da América, o Canadá, a Suíça, e um reforço e recuperação da Alemanha”.
E não virão mais turistas porque não conseguem, diz o antigo secretário de Estado do Turismo, citando informações da ANA – Aeroportos.
Com o atual aeroporto de Lisboa lotado, “e com o aumento da procura, não conseguimos responder a pedidos que correspondem a um milhão de lugares (de avião) em resultado de não termos ‘slots’ [atribuições de aterragem e descolagem]”, lembra.
Ainda assim, a AHP acredita que o setor vai ter “um fecho de ano positivo e muito alicerçado, em primeiro lugar, com o contributo de todas as regiões — e isso é importante — e em segundo lugar, com uma melhoria dos preços médios de venda do alojamento”.
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