“Quinta-feira, 23, sexta-feira, 24, e sábado, 25, são declarados dias de luto nacional no conjunto da República Centro-Africana, em homenagem às vítimas de Padoua e à irmã Inès Nieves Sancho, de Nola”, anunciou o chefe de Estado, em decreto.
A bandeira nacional é colocada a meia haste durante os três dias, que não são feriados, especificou.
Mais de 50 civis foram assassinados nos últimos dias, em vários ataques atribuídos ao grupo armado 3R (Regresso, Reclamação, Reconciliação), em torno da vila de Paoua (noroeste, perto da fronteira com o Chade), segundo um novo balanço da missão da Organização das Nações Unidas no país (MINUSCA, na sigla em inglês).
Este é o massacre mais importante desde a assinatura, em 06 de fevereiro, de um acordo de paz entre o Governo e 14 grupos armados.
O coronel Sow, chefe das operações da MINUSCA, aludiu a “um ato terrorista”. Este militar especificou que “não há base dos 3R na zona da matança, o que significa que vieram de longe e como agiram em simultâneo em sítios diferentes, pode falar-se em ataques coordenados”.
O grupo 3R, que pretende defender a comunidade peul (fula), assinou o acordo de paz. Isto permitiu que o seu chefe Bi Sidi Souleymane, também conhecido como Sidiki, fosse nomeado em 25 de março como “conselheiro especial militar” junto do primeiro-ministro, encarregado da criação de unidades mistas associando membros das forças armadas centro-africanas e dos grupos armados.
A MINUSCA e as autoridades centro-africanas lançaram hoje um ultimato ao líder do 3R para que entregue, em 72 horas, os autores do massacre e que desmantele as suas instalações.
“O Governo considera inaceitáveis tais atos de barbárie, no momento em que fez a escolha da paz”, insistiu o ministro da Comunicação, Ange Maxime Kazagui, que exortou a população “a não ceder à tentação as represálias”.
No sudoeste do país, uma religiosa franco-espanhola de 77 anos, Inès Nieves Sancho, foi encontrada na segunda-feira estrangulada, numa aldeia onde ensinava costura a jovens raparigas.
O Papa Francisco mencionou hoje, na Praça de S. Pedro, em Roma, o assassinato “bárbaro” de uma religiosa “ao serviço dos pobres”.
A RCA caiu no caos e na violência em 2013, depois do derrube do ex-Presidente François Bozizé por grupos armados juntos na Séléka, o que suscitou a oposição de outras milícias, agrupadas sob a designação anti-Balaka.
O Governo controla cerca de um quinto do território. O resto é dividido por mais de 15 milícias que procuram obter dinheiro através de raptos, extorsão, bloqueio de vias de comunicação, recursos minerais (diamantes e ouro, entre outros), roubo de gado e abate de elefantes para venda de marfim.
O acordo de paz foi assinado em Cartum no início de fevereiro pelo Governo da RCA e por 14 grupos armados. Um mês mais tarde, as partes entenderam-se sobre um governo inclusivo, no âmbito do processo de paz.
Portugal está presente na RCA desde o início de 2017, no quadro da MINUSCA, cujo 2.º comandante é o major-general Marcos Serronha, onde agora tem a 5.ª Força Nacional Destacada e lidera a Missão Europeia de Treino Militar-República Centro-Africana, que é comandada pelo brigadeiro-general Hermínio Teodoro Maio.
A 5.ª FND integra 180 militares do Exército (22 oficiais, 44 sargentos e 114 praças, das quais nove são mulheres) e três da Força Aérea.
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