"Significa o nascimento de uma civilização em que reina uma harmonia entre os seres", disse o Primeiro-Ministro Shinzo Abe numa entrevista coletiva. Ainda não foi confirmada a ortografia no alfabeto latino.
"A primavera chega após um forte inverno, este nome quer assinalar o início de um período que transborda esperança", disse.
O especialista em literatura japonesa, Ryan Shaldjian Morrison, da Universidade de Nagoia, propõe como tradução mais apropriada "venerável harmonia", acrescentando que o carácter correspondente a "rei" pode ter outros significados como "ordem" ou "bem/belo/agradável".
O termo vem de uma antologia de poemas japoneses chamada "Manyoshu", com 1.200 anos. "É a primeira vez que se usa um termo procedente de textos japoneses" e não chineses, disse o Chefe do Executivo, considerado por muitos um nacionalista.
O nome da era, cujo anúncio é um acontecimento histórico em si mesmo para os japoneses, é resultado de uma reflexão de vários meses entre especialistas, personalidades de diversas origens e dirigentes políticos.
"É um nome magnífico", disse diante das câmeras da televisão estatal NHK o prémio Nobel de Medicina, Shinya Yamanaka, que fez parte dos nove membros do comité de personalidades.
O anúncio foi feito às 11:40h na hora local pelo Secretário-Geral e porta-voz do governo, Yoshihide Suga, que mostrou um documento com os kanjis (ideogramas) eleitos caligrafados.
Akihito: imperador emérito
A divulgação do nome de uma nova era é um grande acontecimento no Japão e chegou acompanhada de edições especiais de jornais, espetáculos de caligrafia e festas populares.
É a segunda vez que se anuncia desta maneira o nome de uma era. A última aconteceu em 8 de janeiro de 1989, após a morte do imperador Hirohito.
O nome de Reiwa, a 248ª era, marcará o reinado de Naruhito, 126º imperador, que começa a 1 de maio, um dia depois da abdicação do seu pai, Akihito, que vai colocar um fim à era Heisei ("a paz prevalece em todas as partes").
O decreto que define o nome da nova era foi assinado pelo imperador Akihito, que passa a ser imperador emérito após o início da "Reiwa", segundo a Agência da Casa Imperial.
Foram apresentadas algumas propostas ao príncipe herdeiro, mas a sua opinião não foi levada em conta para tomar a decisão, pois seria uma manobra inconstitucional de influência na eleição final realizada pelo Executivo.
O nome de uma era é submetido a regras específicas: deve ser composto somente por dois "kanjis", deve ser fácil de ler e escrever e não devem ser usados nomes comuns ou o primeiro carácter de nenhuma das últimas quatro eras: Heisei, Showa, Taisho e Meiji.
Impressão de calendários
Para evitar fugas de informação, o painel encarregado de eleger o nome esteva fechado numa sala especial do escritório do Primeiro-ministro e os seus telemóveis foram confiscados.
Foram escutadas, na última etapa, as opiniões dos presidentes e vice-presidentes das duas câmaras do Parlamento, antes que um conselho extraordinário de ministros tomasse a decisão final.
Esta foi a segunda vez na história que o governo decidiu o nome da era, facto que ilustra o espírito da Constituição de 1947, que diz que tudo aquilo que diz respeito à Casa Imperial e ao imperador é determinado pelo governo e o monarca tem só um papel de "símbolo do Estado e de unidade do povo".
Desde o início do dia do anúncio os media transmitiram ao vivo e os jornais prepararam edições especiais dedicadas a este acontecimento histórico.
Akihito, de 85 anos, deixará o trono quase três anos depois de ter anunciado a sua intenção de se aposentar, em agosto de 2016. É a primeira abdicação de um imperador japonês em dois séculos.
A lei da Casa Imperial, texto revisto em 1947, prevê que somente a morte do imperador abra caminho para a sucessão.
Neste caso, foi redigida uma legislação excepcional para permitir que Akihito abdicasse e o governo decidiu que o nome da era seria anunciado um mês antes, numa tentativa de satisfazer todos.
Assim que foi anunciado o novo nome, os fabricantes de calendários começaram a imprimir novas edições com "Reiwa", que começam no dia 1 de maio de 2019.
A tradição e a nova era
O Japão é o único país do mundo que utiliza o sistema de eras (conhecido como gengo) que tem as suas raízes na China. Todavia, o calendário gregoriano também é commumente utilizado. O país adoptou cerca de 250 eras desde que adoptou este sistema no início do séc. VII. No passado, os imperadores alteravam a meio do reinado os nomes para uma renovação de espíritos em casos de catástrofes naturais ou grandes crises, mas mais recentemente uma era corresponde a um reinado de um monarca — apesar de poder ser aplicada postumamente. A título de exemplo, durante a Segunda Guerra Mundial, quando se fazia referência ao imperador japonês, esta não se referia Hirohito, mas ao imperador Showa.
Esta é uma tradição importante. Não é apenas um novo nome, um novo começo. A sua apresentação, o seu significado, carrega uma grande fardo histórico. E, tal aconteceu até aqui, é esperado que a era Reiwa redefina o estado de espírito de uma nação em torno de um novo reinado — que começou no 1 de maio. E, de acordo com o primeiro-ministro japonês, a nova era deverá compreender simultaneamente o orgulho japonês da sua história, assim como o peso das suas tradições, mas sem tirar os olhos do futuro.
Tal como em Eras anteriores, Reiwa vai estar intrinsecamente ligada a eventos que marcaram o país. A Era de Meiji (de 1868 a 1912) é lembrada como sendo o período que foi beber e inspirar-se na modernização ocidental; a Era Showa (1926 a 1989) é associada ao rápido desenvolvimento económico, mas também à ascensão do militarismo e à Segunda Guerra Mundial.
A última, embora ainda em vigor, a Heisei, remete para um sentimentos díspares que vão desde a queda da economia à deterioração da relação com a China. Assim como a memória recente vai forçosamente obrigar à associação ao ataque terrorista no metro de Tóquio e ao tsunami que matou mais de 18 mil pessoas e desencadeou fusões na central nuclear de Fukushima, no dia 11 de março de 2011.
*Com Karyn Nishimura / AFP
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