No final de um voo de helicóptero de cerca de uma hora pelas zonas ardidas em 2017 – com destaque para as áreas de Pedrógão, Pampilhosa da Serra, Oliveira do Hospital, Tábua e Lousã -, Rangel teve ao seu lado o especialista Xavier Viegas, diretor do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais, que deixou também sinais de preocupação.
“Infelizmente, mesmo nestas áreas ardidas não se vê muito trabalho de recuperação, de ordenação da floresta, de modo a podermos estar descansados. Em toda esta região vemos que está a regenerar-se o eucalipto. Sem qualquer gestão, vai se acumular combustível que, em dois ou três anos, pode permitir que haja propagação de incêndios com grande violência e dificuldade de controlo”, alertou, em declarações aos jornalistas no aeródromo da Lousã.
Questionado se uma eventual nacionalização do SIRESP (Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal), como admitiu o primeiro-ministro, será uma solução, Rangel defendeu que “o que é preciso é que no terreno as pessoas tenham uma resposta”.
“Os portugueses não querem saber se o SIRESP é público ou é privado, querem é que preste um bom serviço aos cidadãos”, afirmou.
O candidato apontou que “houve sempre uma irritação do primeiro-ministro com o SIRESP”, considerando que os relatórios mostram “que não tinha assim tanta razão” e questionou o ‘timing’ das negociações entre o Governo e esta entidade.
“Dois anos para tomar esta decisão? O primeiro-ministro já diaboliza do SIRESP há dois anos e nesses dois anos não foram capazes de fazer nada. Chegamos a 14 de maio 2019 e estamos como estávamos em outubro de 2017”, criticou.
Para Paulo Rangel, tal mostra “incompetência e incapacidade de previsão”.
“Desejamos que tudo corra bem, mas com este tipo de impreparação, evidentemente que as coisas podem acontecer”, alertou.
Paulo Rangel manifestou ainda preocupações com uma “alteração completa das regras e da organização da Proteção Civil” à beira da época de incêndios, dizendo que “faz lembrar” o que aconteceu em 2017, com várias mudanças de chefias nesta estrutura meses antes do verão.
“As preocupações são enormes, o Governo não pode descurar a segurança de pessoas e bens”, afirmou, realçando que no manifesto europeu do PSD se defende a criação de uma força europeia de proteção civil.
O eurodeputado reforçou as preocupações de Xavier Viegas de que “as mudanças que se veem no terreno são poucas”, quer nas instalações elétricas quer na mancha de eucaliptos “que está claramente a crescer”.
Durante o voo de helicóptero, Xavier Viegas foi apontando a Paulo Rangel os locais onde nasceram os incêndios de junho e outubro de 2017 e exemplos de estradas e aldeias onde se registaram vítimas mortais e também, na área de Oliveira do Hospital, a zona industrial que sofreu grande prejuízos.
Rangel mostrou-se impressionado com a área ardida e, nas regiões dos incêndios de outubro, preocupado com a falta de novas árvores, a que o investigador de Coimbra respondeu com a falta de gestão no ordenamento do território.
Num voo que variou na altitude entre os 2.000 e 3.000 pés acima do nível do mar, Xavier Viegas foi também apontando as linhas elétricas que continuam no meio das árvores.
Em 2017, o relatório independente da equipa de Xavier Viegas já relacionava os incêndios de Pedrógão e da Lousã com a proximidade das linhas elétricas com a vegetação.
Depois de aterrar no aeródromo da Lousã, e numa apresentação no laboratório do centro de estudos sobre incêndios florestais da Universidade de Coimbra, o investigador voltou a chamar a atenção para este problema.
“Em 2017, das 117 mortes, 79 foram causadas por fogos provocados por linhas elétricas”, afirmou, dizendo que em 2003 e 2005 nenhuma das vítimas mortais se relacionou com este problema.
No laboratório, Rangel assistiu a ensaios de incêndios para demonstrar como funciona a física dos fogos em desfiladeiro e verificou como, na prática, as botas atualmente usadas pelos bombeiros nos combates ao fogo ficam com a sola derretida ao fim de poucas horas, problema que está a ser ultrapassado por um novo tipo de equipamento.
Durante o voo, Xavier Viegas foi relatando casos que poderiam ainda ter agravado a tragédia de 2017, como o de um autocarro cheio de passageiros que foi apanhado pelas chamas entre Viseu e Coimbra e teve de esperar algumas horas numa ponte para poder continuar viagem em segurança.
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